domingo, 1 de novembro de 2009

O Vôo do Beija-Flor - A/0574

O VÔO DO BEIJA-FLOR
O sol ainda não havia surgido no horizonte, quando uma mulher bateu à porta do casebre.
O Mestre meditava, enquanto Nashi, o discípulo, despertava de seu sono. - Entre, disse o Mestre sem abrir os olhos. A mulher entrou, observando o interior rústico do casebre.
Sentou-se ao lado de Mahatma e disse: - Senhor, preciso de seu socorro.
Meu marido me abandonou, trocando-me por outra mulher.
Eu o amo muito e não quero vê-lo com outra.
O que devo fazer, Mestre? Sentindo todo o sofrimento daquela mulher, o sábio abriu os olhos e respondeu: - Mate-o. Se ele não viver contigo, não viverá com outra. Nashi, o discípulo, por pouco não caiu de sua cama.
Jamais imaginou que seu Mestre pudesse orientar alguém para o mal, principalmente numa circunstância de fragilidade, como se encontrava aquela mulher. Sentindo-se aliviada com o conselho de Mahatma, a moça concordou que esta seria a melhor saída para não ver seu grande amor com outra mulher. O Mestre disse: - Vá à mata, na cachoeira da grande cascata.
Lá você vai encontrar uma planta pequena com rosas amarelas.
Colha algumas folhas, ferva chá e dê ao seu marido.
Não lhe restará mais do que cinco minutos de vida. A mulher foi-se.
Seguiu rumo à cachoeira.
Estava decidida a encontrar um meio de acabar com a vida do homem que tanto amava.
Ao chegar próximo à cascata, a mulher viu uma criança de 10 anos, sentada próxima a algumas flores, admirando o bailado de um beija flor.
A criança estava tão fascinada com o pássaro que não notou que a moça a observava, admirada.
Assim ficaram até que o beija flor foi-se embora.
Então a moça aproximou-se: - Vejo que você gostou muito do beija-flor! - Sim! Estou apaixonada por sua beleza.
Pena que ele foi embora. - Por que você não o pegou e o levou consigo?
Estava tão próximo de ti! - Não dona!
Não posso tirar a liberdade de uma criatura que nasceu para ser livre, apenas para satisfazer os meus desejos.
Fui feliz enquanto ele bailou para mim e serei feliz sempre que puder lembrar da beleza de suas cores e da graça de seu vôo.
Colocá-lo numa prisão seria condená-lo à morte.
Há muita coisa bonita nesse mundo, para que eu possa ver, sem a necessidade de sacrificar tão belo pássaro. A moça refletiu no que acabara de ouvir.
Não colheu as folhas e seguiu para sua casa. Naquele instante, não muito longe dali, num casebre rústico, um velho de olhos fechados, sentindo o silêncio profundo de seu discípulo, disse: - O amor verdadeiro é composto de amizade e sinceridade.
O falso amor é feito de amizade, sinceridade e egoísmo.
Feliz é o homem que sabe reconhecer na fraqueza do próximo o limite para o seu egoísmo.
E mais feliz será este homem se souber sentir no egoísmo dos outros, a luz que ilumina a sua evolução.

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