Quem não se lembra de Francisco Lagos?
Quando Francisco Lagos das Chagas Viana deixou o Mato Grosso do Sul para trabalhar na campanha e, depois, na administração de Hélio de Oliveira Santos, o médico corumbaense que virou prefeito de Campinas, era inevitável a pergunta: até quando isso vai dar certo? Ou melhor, até quando o orçamento da segunda maior cidade de São Paulo o aguenta? Pois não é que ele vinha superando todas as expectativas? Mas nesta sexta-feira a casa caiu! Lagos, secretário de comunicação, é considerado foragido da polícia. Outros dois mato-grossenses do Sul que trabalham com ele na prefeitura de Campinas, o ex-prefeito Ricardo Cândia, de Corumbá e o ex-vereador Aurélio Cance Jr., de Campo Grande, estão presos.
Antes que o leitor, principalmente o douradense, traumatizado com as Owaris e Uraganos da vida, comece fazer conjecturas, com esta coisa de o MS estar exportando este tipo de know-how, vou logo informando que a coisa parece não ser tão feia assim. Acabo de bater um fio para Clodoaldo Marques (irmão de Raufi) também integrante da "República do MS" em Campinas, e ele me informando que Lagos, na verdade, está de férias, confirmando o mandado de prisão, mas, segundo ele, tudo passará, lembrando que a encrenca é antiga, mas nada que não se dê um jeito.
Baita jornalista, bom texto, feeling apuradíssimo, com passagem pelos grandes jornais impressos do Brasil, mas destacando-se no Diário da Serra, de Campo Grande, remanescente do império de comunicações deixado por Assis Chateaubriand, Lagos sempre foi um inconformado com a lerdeza do curso das águas dos rios. Percebendo que dificilmente conseguiria, no jornalismo, amealhar o patrimônio com que sempre sonhou, tentou se virar de outras formas, destacando-se pela perspicácia no marketing político. Antes, tentou algum retorno mais imediato no ramo do lazer-imobiliário, naufragando no famigerado Country Clube, entre Dourados e Fátima do Sul.
Lagos foi assessor de imprensa de Lúdio Coelho, mas como ali o buraco era mais embaixo, ficou por pouco tempo. Durante a Assembleia Constituinte fez greve de fome na Esplanada dos Ministérios em Brasília, inconformado com a lentidão da justiça num processo com denúncias de corrupção por ele feitas contra o governador Marcelo Miranda. Não morreu de fome porque na calada da noite alguns amigos passavam por lá com um lanchinho.
Pé quente como marqueteiro, Lagos sempre negocia para si a secretaria de comunicação do candidato para quem trabalha. Foi assim com Oscar Goldoni, em Ponta Porã. Em dois ou três meses estourou o orçamento de quatro anos. Depois, com Percival Muniz, em Rondonópolis, a lambança foi ainda maior, tendo se envolvido em crime de improbidade administrativa.
Lagos só não deu sorte em Dourados. Na campanha de 1996 tentou reconduzir Zé Elias Moreira à prefeitura, mas encontrou osso duro de roer pela frente - o vice-governador Braz Melo, até então ainda dono dos votos dos douradenses. Nem por isso deixou de aprontar das suas. Com Zé Elias quebrado, pra variar, mas acreditando em seu potencial e no de Blanche Torres, numa das parcerias mais barulhentas que se têm notícias das campanhas políticas douradenses, por pouco não quebra o até então todo poderoso O Progresso, contraindo dívidas como as do show com João Paulo e Daniel, cuja fatura, inclusive das passagens aéreas, ficaram para o jornal pagar.
Mas Lagos é assim. Um visionário. De fazer acontecer. Seu pecado, gastar demais, talvez ainda desacostumado aos rigores da Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas nada que não se corrija num País onde, nos Tribunais de Contas, que julgam contas de prefeitos e secretários meio descuidados a única coisa que não se pode perder são os prazos.
Texto de Walfrido Silva, de Dourados.
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