Antibióticos que matam infecções até na casa do seu vizinho, células-tronco que curam o incurável, cirurgias complexas feitas com incisões mínimas. Os avanços médicos seguem em uma progressão alucinante, como se a fonte da juventude estivesse na próxima esquina. E a próxima esquina nunca pareceu estar tão próxima.
Durante
uma dessas avalanches de notícias científicas, me dei conta de algo incômodo. Percebi
que, para além da Era dos Milagres da Biotecnologia, estamos correndo a toda
velocidade na Era da Filosofia de 1 Minuto. Este padrão de conduta – quase uma
seita - vem se impregnando profundamente em nosso comportamento.
Por
exemplo: sabe o que faz com que os chefes troquem os funcionários que ainda não
se adaptaram por funcionários novos que não se adaptaram ainda? Exatamente,
ela, a Filosofia de 1 Minuto. A essência está na rapidez: o sujeito deve vir
acabado, sem bordas ou arestas, prontinho para ser colocado na engrenagem.
A
Filosofia de 1 Minuto também vem estendendo seus tentáculos na vida conjugal. Os
casamentos parecem durar menos que a Lua de Mel. Você mal se encontrou nas
fotos da festa – “puxa, olha como eu estava mais magro!” - e eles já estão
terminando tudo porque ela ronca ou faz barulho quando mastiga, ou ele não
corta as unhas do pé e conversa apontando com o garfo durante as refeições.
Inebriados
pela filosofia, os jovens casais querem encontrar no outro uma sandália que não
desgasta, não tem cheiro e não solta as tiras. E, de preferência, que esteja
(sempre) à disposição para uma massagem relaxante no final do dia. Se não for
assim, bom, paciência. A fila anda. Que venha o próximo pretendente a
cônjuge-minuto.
A
medicina não poderia passar impune pelos males destes novos tempos. Na verdade,
ela está repleta de queixas e sindicâncias contra médicos que não resolveram o
problema do paciente utilizando as fantásticas técnicas de 1 Minuto. Para quem
olha de fora, médico bom é o que resolve rápido – nem que seja com altas doses
de Charlatanicina associada a Embromanol. Para quem olha de dentro, a impressão
que fica é de que a relação médico-paciente está fugindo da construção de um
compromisso no longo prazo e se aproximando de um prato instantâneo de miojo. Sem
molho.
As
pessoas passam anos empurrando a hipertensão arterial com a barriga empanzinada
de sedentarismo, acham que sobrepeso é sinal de prosperidade e acreditam
piamente que diabetes é aquela doença que só dá nos outros. Um belo dia, ao
receberem uma receita com a conta dos anos de maus tratos ao próprio corpo, a
ficha cai. “Toca aí para o consultório rápido, seu motorista, que eu tenho que
resolver isso hoje sem falta !”.
O
sempre genial Millôr Fernandes uma vez escreveu que o defunto é o produto final
da humanidade. Nós, vivos, somos apenas a matéria-prima. Moral da história à
parte, é verdade que passamos décadas nos preocupado demais com coisas que
jamais acontecerão, e deixamos de prestar a devida atenção às sementes que plantamos
no caminho. No derradeiro instante em que tomamos consciência, queremos tudo
resolvido de imediato. Pois bem: esqueça as saídas mágicas no último minuto.
Ninguém virá lhe resgatar milagrosamente de suas próprias escolhas. Acredite ou
não, a isso se chama Responsabilidade.
Cuide-se,
seja vigilante com sua saúde, ame sua família, viva sem preguiça, mas também sem
pressa de viver. E fuja das promessas da Filosofia de 1 Minuto. Mesmo quando
concretizadas, elas não duram muito mais que isso.
A ânsia dos habitantes do mundo
moderno, que querem ver todos os seus problemas – desde os financeiros até os
de saúde – resolvidos num piscar de olhos, me lembrou uma pequena parábola oriental.
Uma certa tarde, o jovem discípulo foi acometido de uma intensa infecção
intestinal e correu ao único banheiro do mosteiro, mas encontrou-o ocupado pelo
seu Mestre. Muito respeitoso e segurando a duras penas seus esfíncteres, o
discípulo perguntou apressado:
- Mestre, quanto tempo é 1 minuto?
O mestre pensou, pensou, e respondeu lá do trono com toda paciência:
- Meu filho, 1 minuto pode ser a Eternidade.
- E o que é a Eternidade, mestre?
- Você saberá em 1 minuto.
(© Dr. Alessandro
Loiola
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