sábado, 2 de junho de 2012

Artigo: Transformando o Brasil num “Prostíbulo” - A/01186

Transformando o Brasil
num “Prostíbulo”


De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (Rui Barbosa, Senado Federal, Rio de Janeiro, DF)

   “Le Brésil n’est pas um pays sérieux”

 Frase atribuída ao presidente francês Charles André Joseph Pierre-Marie De Gaulle, por ocasião da crise diplomática entre Brasil e França em 1962. A apreensão de embarcações francesas que pescavam lagostas em águas territoriais brasileiras teria irritado Charles Gaulle levando-o a afirmar que “o Brasil não era um país sério”. Na realidade o autor da frase é o embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza Filho.

 O embaixador depois de discutir com De Gaulle a questão da “Guerra da Lagosta”, relatou ao jornalista Luiz Edgar de Andrade, na época correspondente do “Jornal do Brasil” em Paris o encontro dizendo-lhe que falaram sobre o samba carnavalesco “A lagosta é nossa” e das caricaturas que faziam do General De Gaulle, terminando a conversa com a seguinte frase: “Edgar, le Brésil n'est pas un pays sérieux”. O jornalista, por sua vez, encaminhou o despacho para o jornal e a frase acabou sendo outorgada a De Gaulle.

 Hoje a famosa frase que causou tanta indignação na época certamente não provocaria a mínima repercussão nem atiçaria o brio dos mais aguerridos nacionalistas. Teríamos de baixar a cabeça resignados e concordar plenamente com a afirmativa. As infindáveis “maracutais” que permeiam pelos corredores Palacianos, pelas tribunas do Legislativo e Judiciário trazem à baila o pensamento do imortal Rui Barbosa pronunciado em pleno Senado Federal, quando a sede deste, era ainda no Rio de Janeiro.

 Os três poderes, corrompidos nas suas bases, transformaram nossa Nação num enorme Prostíbulo onde aqueles que detêm o poder político ou econômico determinam os rumos a seguir mesmo que estes atentem contra o bom-senso, a lei ou a ética. Tudo acontece sem que a mídia amestrada e subjugada, por interesses meramente comerciais, se manifeste, sem que a população subornada pelas famigeradas “bolsas” se levante.

 “Padroeiro dos Pecadores”

Fonte: Revista VEJA - Direto ao Ponto, 26.05.2012

 Reportagem de VEJA revela a obscena ofensiva de Lulla
para subjugar o Supremo e livrar do castigo a quadrilha do “mensalão”

 O ex-presidente Lulla vem erguendo desde o começo de abril o mais obsceno dos numerosos monumentos à cafajestagem forjados desde 2005 para impedir que os quadrilheiros do “mensalão” sejam castigados pela Justiça. Inquieto com a aproximação do julgamento, perturbado pela suspeita de que os bandidos de estimação correm perigo, o “Padroeiro dos Pecadores” jogou o que restava de vergonha numa lixeira do Sírio Libanês e resolveu pressionar pessoalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal. De novo, como informou VEJA neste sábado, o colecionador de atrevimentos derrapou na autoconfiança delirante e bateu de frente com um interlocutor que não se intimida com bravatas.

 A reportagem de Rodrigo Rangel e Otávio Cabral reproduz os momentos mais espantosos do encontro entre Lulla e o ministro Gilmar Mendes ocorrido, há um mês, no escritório mantido em Brasília pelo amigo comum Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Defesa. A conversa fez escala em assuntos diversos até que o palanque ambulante interrompeu o minueto para dar início ao forró do “mensalão”. Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lulla, disse Gilmar a VEJA. Não é para menos.

 É inconveniente julgar o processo agora, começou Lulla, lembrando que, como 2012 é um ano eleitoral, o PT seria injustamente afetado pelo barulho em torno do escândalo. Depois de registrar que controla a CPI do Cachoeira, insinuou que o ministro, se fosse compreensivo, seria poupado de possíveis desconfortos. E a viagem a Berlim?, perguntou em seguida, encampando os boatos segundo os quais Gilmar Mendes e Demóstenes Torres teriam viajado para a cidade alemã num avião cedido por Carlinhos Cachoeira, e com todas as despesas pagas pelo meliante da moda.

 Gilmar confirmou que se encontrou com o senador em Berlim. Mas esclareceu que foi e voltou em avião de carreira, bancou todas as despesas e tem como provar o que diz. Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá, informou, antes da recomendação final: Vá fundo na CPI. Lulla preferiu ir fundo no palavrório arrogante. Com o desembaraço dos autoritários inimputáveis, o ex-presidente que não desencarnou do Planalto e dá ordens ao Congresso disse o suficiente para concluir-se que, enquanto escolhe candidatos a prefeito e dá conselhos ao mundo, pretende usar o caso do “mensalão” para deixar claro quem manda no STF.

 Alguns dos piores momentos da conversa envolveram
quatro dos seis ministros que Lulla nomeou:

 Carmem Lúcia - Vou falar com o Pertence para cuidar dela. (Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e hoje presidente da Comissão de Ética Pública, é tratado por Carmen Lúcia como guru).

 Dias Toffoli - Ele tem que participar do julgamento. (O ministro foi advogado do PT e chefe da Advocacia Geral da União. Sua mulher defendeu três “mensaleiros”. Mas ainda não descobriu que tem o dever de declarar-se sob suspeição).

Ricardo Lewandowski - Ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem, mas está sofrendo muita pressão. (Só falta o parecer do revisor do processo para que o julgamento comece. Lewandowski ainda não fixou um prazo para terminar o serviço que está pronto desde que ganhou uma toga). (...)

 Na mesma quarta-feira, a chegada ao STF de um documento assinado por dez advogados de “mensaleiros” comprovou que Lulla age em parceria com a tropa comandada pelo inevitável Márcio Thomaz Bastos. Embora nós saibamos disso, é preciso dar mostras a todos de que o Supremo Tribunal Federal não se curva a pressões e não decide “com a faca no pescoço”, diz um trecho desse inverossímil hino à insolência. A expressão foi pinçada da frase dita em 2007 pelo ministro Ricardo Lewandowski, num restaurante em Brasília, depois da sessão que aprovou a abertura do processo do “mensalão”. Faltou completar a frase do revisor sem pressa: Todo mundo votou com a faca no pescoço. A tendência era amaciar pro Dirceu.

 O escândalo descoberto há sete anos se arrasta no STF há cinco, mas os dez doutores criticaram a correria para o julgamento, atiçada pela grita. Eles resolveram dar lições ao tribunal por estarem preocupados com a inaudita onda de pressões deflagradas contra a mais alta corte brasileira. O Brasil decente faz o que pode para manifestar seu inconformismo com o tratamento gentil dispensado pela Justiça a pecadores que dispõem de padrinhos poderosos e advogados que cobram por minuto. São pressões legítimas. Preocupante é o cerco movido a um Poder independente por um ex-chefe do Executivo. Isso não é uma operação política, muito menos uma ação jurídica. É um genuíno caso de polícia.

 Se os bacharéis do “mensalão” efetivamente se preocupam com pressões ilegais, devem redigir outro documento exigindo que Lulla aprenda a comportar-se como ex-presidente e pare de agir como um fora-da-lei.

  Quem procura acha...

Fonte: Jorge Serrão, Edição do Alerta Total, 28.05.2012

 Procurador Gurgel pode mandar investigar Lulla por
tráfico de influência e extorsão contra ministro do STF

 Quem procura acha... As inconfidências de Gilmar Mendes podem render problemas judiciais para o Doutor Chefão Luiz Inácio Lulla da Silva. O Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, tem tudo para pedir a abertura de um inquérito para investigar a revelada tentativa de crime de tráfico de influência e até de extorsão praticadas pelo ex-Presidente da República contra um ministro titular e ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal. Gurgel tem o dever de agir com rigor neste caso que envolve pelo menos uma autoridade com foro privilegiado: Gilmar. Lulla perdeu o privilégio dele.

 Não dá para ignorar a gravidade da revelação feita por Gilmar Mendes à revista Veja. O ex-Presidente da República, veladamente, fez ameaça ao ministro do STF. Gilmar Mendes confirmou que Lulla lhe pediu para tentar adiar o julgamento do mensalão. Ofereceu, em troca, uma blindagem a Gilmar na CPI do Cachoeira. A clara tentativa de tráfico de influência, com extorsão, aconteceu em Brasília, no dia 26 de abril. O picadeiro da proposta indecente feita pelo eterno sindicalista de resultados foi o escritório de Nelson Jobim - ex-ministro da Justiça e ex-presidente do STF.

 Lulla teria recomendado a Gilmar que o mais correto seria julgar o mensalão após as eleições municipais de outubro. O companheiro $talinácio também teria dito a Gilmar: “o Zé Dirceu está desesperado”. Gilmar Mendes reagiu com indignação: “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do Presidente Lulla”. Outro membro do STF, não indicado por Lulla, Celso de Mello, ainda tirou uma lição do escândalo: “Um episódio negativo e espantoso em todos os aspectos. Mas que servirá para dar relevo à correção com que o STF aplica os princípios constitucionais contra qualquer réu, sem importar-se com a sua origem social e que o tribunal exerce sua jurisdição com absoluta isenção e plena independência”.

 Agora, de nada adianta o anfitrião do encontro Lulla-Gilmar, o Genérico sem estrelas Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa, tentar defender Luiz Inácio, alegando que “nada do que foi relatado pela Veja aconteceu”. Pior ainda foi o que Jobim comentou com a reportagem do jornal gaúcho Zero Hora: “Estranho que o encontro tenha acontecido há um mês e só agora Gilmar venha se dizer indignado com o que ouviu de Lulla. O encontro foi cordial. Lulla queria agradecer a colaboração de Gilmar com o seu governo”.

 Gilmar Mendes ouviu de Lulla e tornou pública a estratégia que usaria para influenciar os demais ministros do STF. Lulla escalaria o amigo Sepúlveda Pertence, ministro aposentado do STF e chefe da Comissão de Ética Pública da Presidência, para conversar sobre o processo do mensalão com a ministra Cármen Lúcia. Sepúlveda é padrinho da indicação da ministra ao tribunal. Lulla também comprometeu o ministro José Dias Toffoli – também indicado por ele: “Eu já disse ao Toffoli que ele tem que participar do julgamento”. Lulla não liga que a namorada dele seja advogada de Roberta Rangel, que atuou na defesa de três réus do mensalão. Lulla também conta que, em 2013, os ministros Ayres Britto e Cesar Peluso, propensos à condenação dos réus, estarão aposentados.

(Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 29 de maio de 2012)

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