Roberto Higa, um Fotógrafo
por excelência diz que se sente
'dono' de Campo Grande por registrar evolução
da cidade
Capital de Mato Grosso do Sul
comemora 115 anos nesta terça-feira (26). Roberto Higa fotografou crescimento da cidade nas décadas de 70, 80 e 90. Fundada em 1899 por
colonizadores mineiros, Campo Grande completa 115 anos nesta terça-feira (26).
Quando foi criada, a cidade pertencia ao então estado de Mato Grosso. Roberto
Higa, de 63 anos, nascido e criado em Campo Grande, viu a cidade natal se tornar
capital de um novo estado a partir de criação de Mato Grosso do Sul, em 1977.
Ele,
que começou no fotojornalismo ainda adolescente, aos 16 anos, quando trabalhava
como office boy em um jornal impresso, diz que por ter acompanhado e registrado
em fotos o crescimento da cidade se sente um pouco dono de cada pedaço. "Conheci
essa cidade com 100 mil habitantes. Nasci aqui, em 1951. Vi isso aqui se
transformar. Me sinto assim meio dono disso aqui, principalmente porque vi isso
aqui realmente crescer. E digo que mudou muito. Hoje o infinito é só prédio e
casa, o que não tinha há um tempo atrás", lembra com ar de nostalgia.
Essa
paixão por Campo Grande e
sua história chegou a causar incômodos ao fotógrafo, que diz ficar triste
quando vê algum monumento histórico ou lugar antigo ser modificado ou
destruído. "Já tive problemas até meio sérios com relação a isso. Por
exemplo, tinha uma casa onde eu nasci, um dia cheguei lá e o cara tinha
quebrado tudo, mudado. Fiquei triste, pensando como a pessoa pode fazer um
negócio desses e eu ia tomar satisfação. Minha mulher falava que não era meu
aquilo [casa] e me mandou para o psicólogo", contou entre risos.
Transformação
da Cidade Morena
Conhecida como "Cidade Morena", pela coloração avermelhada da terra e também pela cor da pele de grande parte de seus habitantes, Campo Grande passou por transformações intensas a partir da década de 70. Nesta época, segundo Higa, foi instalada a primeira universidade estadual, em 1971, que após a divisão a criação de MS passou a ser Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Para ele, este foi um grande divisor de águas nos costumes e história de Campo Grande. "Com a chegada da universidade tudo mudou, porque estudantes jovens vieram para Campo Grande e as famílias desses estudantes também. A cultura mudou, a economia acelerou com a vinda de empreendedores, o lazer passou a ter mais opções. Começou-se a mudar o comportamento do campo", relembra Higa.
Anos
mais tarde, em 1977, foi criado o estado de Mato Grosso do Sul, implantado de
fato e de direito dois anos depois, em 1979. "A partir daí a mudança foi
maior ainda. E não parou até hoje", afirmou.
Fotos
históricas
Em 46 anos de fotojornalismo, Higa registrou o surgimento de prédios e construções importantes na cidade, como o primeiro shopping center, o Parque das Nações Indígenas, o surgimento de casas no lugar de chácaras.
Dentre
os registros que marcaram sua carreira, Higa ressalta alguns fatos curiosos,
que na época viraram evento social, como por exemplo a inauguração do primeiro
lava-jato da cidade.
Foi
em 1973. Higa lembra que a inauguração foi à noite e contou com a participação
de autoridades e da população local. "Todos queriam saber e ver de perto
como funcionava um lava-jato. E para estrear o negócio, lavaram o carro do
então prefeito Levy Dias. Mas, como as cerdas das escovas eram novas ainda
estava rígidas. Imagina o que aconteceu? O carro do prefeito ficou todo
riscado", conta entre risos.
A
instalação da primeira escada rolante de Campo Grande, em 1974, também virou
notícia na cidade. Na época, ele conta que a população foi até a loja onde
seria instalada a novidade. "Muita gente só olhava, com curiosidade e um
certo receio. Outros já queriam experimentar o negócio", lembra.
Higa
também registrou o local onde a primeira cruz de Campo Grande foi colocada, na
antiga casa do fundador da cidade, José Antônio Pereira. A foto ao lado foi
feita em 1980.
Colocar
cruzes para marcar o território era um costume das populações antigas quando se
instalavam em novas terras. "Acho que essa cruz nem deve existir mais hoje
lá, na casa do José Antônio Pereira. Naquela época da foto, em 80, ela já
estava lá há quase 100 anos, e já estava bem velhinha, quase caindo",
relata o fotógrafo.
Outro
fato histórico que ele lembra com saudade é o evento em comemoração ao
aniversário de Campo Grande, realizado anualmente no Jockey Club. "Eram
eventos chiques, da alta sociedade, onde só ia quem tinha dinheiro, posses e
sobrenome. As mulheres sempre bem-vestidas, os homens também, de traje social.
Se bobear, era o acontecimento do ano para a alta sociedade", explica
Higa, que por anos retratou o evento.
Na década de 1970, o cruzamento da rua 14 de
Julho com a avenida Afonso Pena abrigava o Relógio Central, que media cinco
metros de altura. Devido ao crescimento da cidade, o bem público precisou ser
demolido. Higa registrou o momento em que a demolição era feita. Na
imagem, é possível ver homens trabalhando no topo do relógio. Uma réplica foi
erguida em 2000 a uma quadra de distância do ponto original, no canteiro
central da avenida. "Construíram na época sem imaginar que o trânsito
ficaria caótico com esse desvio no meio", explicou.
Ainda
no Centro da cidade, Higa registrou também a inauguração do busto em homenagem
ao fundador de Campo Grande, José Antônio Pereira. O fotógrafo conta que muita
gente passava pelo local sem saber o que estava acontecendo e, por isso, parava
para olhar. Além dos curiosos, autoridades da inauguração.
Um
acidente de carro também despertava a atenção da população, ainda mais quando o
veículo quase caia no córrego. Em 1976, Higa registrou um desses acidentes, em
que um veículo ficou 'entalado' no vão do córrego na rua Maracaju. "A nova
geração nem imagina que debaixo da Maracaju passa um córrego, que antes era a
céu aberto e sempre enchia nas enchentes", relembra. A construção de
pontes também foi alvo da curiosidade dos moradores da época. Higa registrou a
inauguração de uma ponte de concreto, na rua Barão do Rio Branco, no Centro, em
1980.
A
imagem mostra uma aglomeração de pessoas em volta da ponte, todos aguardando o
momento de poder atravessá-la. "Era a substituição de uma ponte de
madeira, que ligava a Barão do Rio Branco até a antiga Rodoviária", lembra
Higa. Ele conta que era engraçado ver a reação das pessoas com acontecimentos
como este. Anos mais tarde, em 1989, a inauguração do primeiro shopping center
concentrou a atenção de boa parte da população. "Foi uma construção que as
pessoas acompanhavam, passavam perto para ver como estava o andamento. E quando
inaugurou foi a sensação do momento", lembra Higa.
A
cidade ganhou o segundo shopping décadas depois, já nos anos 2000. Outro
costume que foi símbolo de Campo Grande foi a "Feirona", fundada por
meio decreto, em 4 de maio de 1925, pelo então intendente municipal Arnaldo
Estevão de Figueiredo.
A
Feira Central, conhecida como Feirona, mudou de local algumas vezes antes de
ser construída no atual lugar, na rua 14 de Julho, ao lado da antiga Estação
Ferroviária. O primeiro local foi na Avenida Afonso Pena. Mais tarde, a Feirona
passou pela rua Calógeras e pela a Antônio Maria Coelho antes de, em 1966, por
meio de decreto do então prefeito Antônio Mendes, ir para entre as ruas José
Antônio e Abrão Júlio Rahe. Neste local a Feira Central se consolidou na cultura
campo-grandense, e tomou conta da Rua Padre João Crippa, até que em dezembro de
2004, o então prefeito André Puccinelli assinou decreto e transferiu a Feirona
para o atual endereço, onde as barracas de lona e madeira deram lugar à
construções de alvenaria.
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