terça-feira, 26 de agosto de 2014

Campo Grande faz 115 anos - Fotos de Roberto Higa

Roberto Higa, um Fotógrafo por excelência diz que se sente
 'dono' de Campo Grande por registrar evolução da cidade

Capital de Mato Grosso do Sul comemora 115 anos nesta terça-feira (26). Roberto Higa fotografou crescimento da cidade nas décadas de 70, 80 e 90. Fundada em 1899 por colonizadores mineiros, Campo Grande completa 115 anos nesta terça-feira (26). Quando foi criada, a cidade pertencia ao então estado de Mato Grosso. Roberto Higa, de 63 anos, nascido e criado em Campo Grande, viu a cidade natal se tornar capital de um novo estado a partir de criação de Mato Grosso do Sul, em 1977.

Ele, que começou no fotojornalismo ainda adolescente, aos 16 anos, quando trabalhava como office boy em um jornal impresso, diz que por ter acompanhado e registrado em fotos o crescimento da cidade se sente um pouco dono de cada pedaço. "Conheci essa cidade com 100 mil habitantes. Nasci aqui, em 1951. Vi isso aqui se transformar. Me sinto assim meio dono disso aqui, principalmente porque vi isso aqui realmente crescer. E digo que mudou muito. Hoje o infinito é só prédio e casa, o que não tinha há um tempo atrás", lembra com ar de nostalgia.

Essa paixão por Campo Grande e sua história chegou a causar incômodos ao fotógrafo, que diz ficar triste quando vê algum monumento histórico ou lugar antigo ser modificado ou destruído. "Já tive problemas até meio sérios com relação a isso. Por exemplo, tinha uma casa onde eu nasci, um dia cheguei lá e o cara tinha quebrado tudo, mudado. Fiquei triste, pensando como a pessoa pode fazer um negócio desses e eu ia tomar satisfação. Minha mulher falava que não era meu aquilo [casa] e me mandou para o psicólogo", contou entre risos.
Transformação da Cidade Morena

Conhecida como "Cidade Morena", pela coloração avermelhada da terra e também pela cor da pele de grande parte de seus habitantes, Campo Grande passou por transformações intensas a partir da década de 70. Nesta época, segundo Higa, foi instalada a primeira universidade estadual, em 1971, que após a divisão a criação de MS passou a ser Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Para ele, este foi um grande divisor de águas nos costumes e história de Campo Grande. "Com a chegada da universidade tudo mudou, porque estudantes jovens vieram para Campo Grande e as famílias desses estudantes também. A cultura mudou, a economia acelerou com a vinda de empreendedores, o lazer passou a ter mais opções. Começou-se a mudar o comportamento do campo", relembra Higa.
Anos mais tarde, em 1977, foi criado o estado de Mato Grosso do Sul, implantado de fato e de direito dois anos depois, em 1979. "A partir daí a mudança foi maior ainda. E não parou até hoje", afirmou.
Fotos históricas

Em 46 anos de fotojornalismo, Higa registrou o surgimento de prédios e construções importantes na cidade, como o primeiro shopping center, o Parque das Nações Indígenas, o surgimento de casas no lugar de chácaras.
Dentre os registros que marcaram sua carreira, Higa ressalta alguns fatos curiosos, que na época viraram evento social, como por exemplo a inauguração do primeiro lava-jato da cidade.
Foi em 1973. Higa lembra que a inauguração foi à noite e contou com a participação de autoridades e da população local. "Todos queriam saber e ver de perto como funcionava um lava-jato. E para estrear o negócio, lavaram o carro do então prefeito Levy Dias. Mas, como as cerdas das escovas eram novas ainda estava rígidas. Imagina o que aconteceu? O carro do prefeito ficou todo riscado", conta entre risos.
A instalação da primeira escada rolante de Campo Grande, em 1974, também virou notícia na cidade. Na época, ele conta que a população foi até a loja onde seria instalada a novidade. "Muita gente só olhava, com curiosidade e um certo receio. Outros já queriam experimentar o negócio", lembra.
Higa também registrou o local onde a primeira cruz de Campo Grande foi colocada, na antiga casa do fundador da cidade, José Antônio Pereira. A foto ao lado foi feita em 1980.
Colocar cruzes para marcar o território era um costume das populações antigas quando se instalavam em novas terras. "Acho que essa cruz nem deve existir mais hoje lá, na casa do José Antônio Pereira. Naquela época da foto, em 80, ela já estava lá há quase 100 anos, e já estava bem velhinha, quase caindo", relata o fotógrafo.
Outro fato histórico que ele lembra com saudade é o evento em comemoração ao aniversário de Campo Grande, realizado anualmente no Jockey Club. "Eram eventos chiques, da alta sociedade, onde só ia quem tinha dinheiro, posses e sobrenome. As mulheres sempre bem-vestidas, os homens também, de traje social. Se bobear, era o acontecimento do ano para a alta sociedade", explica Higa, que por anos retratou o evento.
 Na década de 1970, o cruzamento da rua 14 de Julho com a avenida Afonso Pena abrigava o Relógio Central, que media cinco metros de altura. Devido ao crescimento da cidade, o bem público precisou ser demolido. Higa registrou o momento em que a demolição era feita. Na imagem, é possível ver homens trabalhando no topo do relógio. Uma réplica foi erguida em 2000 a uma quadra de distância do ponto original, no canteiro central da avenida. "Construíram na época sem imaginar que o trânsito ficaria caótico com esse desvio no meio", explicou.
Ainda no Centro da cidade, Higa registrou também a inauguração do busto em homenagem ao fundador de Campo Grande, José Antônio Pereira. O fotógrafo conta que muita gente passava pelo local sem saber o que estava acontecendo e, por isso, parava para olhar. Além dos curiosos, autoridades da inauguração.
Um acidente de carro também despertava a atenção da população, ainda mais quando o veículo quase caia no córrego. Em 1976, Higa registrou um desses acidentes, em que um veículo ficou 'entalado' no vão do córrego na rua Maracaju. "A nova geração nem imagina que debaixo da Maracaju passa um córrego, que antes era a céu aberto e sempre enchia nas enchentes", relembra. A construção de pontes também foi alvo da curiosidade dos moradores da época. Higa registrou a inauguração de uma ponte de concreto, na rua Barão do Rio Branco, no Centro, em 1980.
A imagem mostra uma aglomeração de pessoas em volta da ponte, todos aguardando o momento de poder atravessá-la. "Era a substituição de uma ponte de madeira, que ligava a Barão do Rio Branco até a antiga Rodoviária", lembra Higa. Ele conta que era engraçado ver a reação das pessoas com acontecimentos como este. Anos mais tarde, em 1989, a inauguração do primeiro shopping center concentrou a atenção de boa parte da população. "Foi uma construção que as pessoas acompanhavam, passavam perto para ver como estava o andamento. E quando inaugurou foi a sensação do momento", lembra Higa.
A cidade ganhou o segundo shopping décadas depois, já nos anos 2000. Outro costume que foi símbolo de Campo Grande foi a "Feirona", fundada por meio decreto, em 4 de maio de 1925, pelo então intendente municipal Arnaldo Estevão de Figueiredo.
A Feira Central, conhecida como Feirona, mudou de local algumas vezes antes de ser construída no atual lugar, na rua 14 de Julho, ao lado da antiga Estação Ferroviária. O primeiro local foi na Avenida Afonso Pena. Mais tarde, a Feirona passou pela rua Calógeras e pela a Antônio Maria Coelho antes de, em 1966, por meio de decreto do então prefeito Antônio Mendes, ir para entre as ruas José Antônio e Abrão Júlio Rahe. Neste local a Feira Central se consolidou na cultura campo-grandense, e tomou conta da Rua Padre João Crippa, até que em dezembro de 2004, o então prefeito André Puccinelli assinou decreto e transferiu a Feirona para o atual endereço, onde as barracas de lona e madeira deram lugar à construções de alvenaria.




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