O que é jornalismo e ser jornalista
Há os que superestimam a profissão de jornalista, talvez
iludidos pela mídia de fofocas que deu um upgrade na imagem de alguns coleguinhas,
fazendo com que o leitor – na maioria das vezes apenas telespectador
superficial de telejornais – passasse a ver e crer na função como algo
glamoroso.
Inspirados
muitas vezes em personagens de telenovelas, veem o jornalista como um herói
acima do bem e do mal. Na outra ponta da corda estão os que – incluso
jornalistas – consideram-nos como prostitutas, afinal escrevemos para quem nos
paga. Salvo o exagero, o certo é que jornalismo é uma profissão como outra
qualquer e, como em qualquer profissão, trabalhamos para comprar pão e leite,
pagar conta de luz e água, coisas comuns de pessoas comuns.
Se
grandes jornalistas como o veterano Gay Talese decretam a morte do chamado
“repórter herói” – aquele que antes da TV cobria as guerras e passava
informações que muitas vezes contrariavam as dos governos –, não se pode
confundir em nenhum momento com tal jornalismo “bom mocismo” que é bem comum na
imprensa de interior, onde o “ficar em cima do muro” é vendido com a intenção
de fazer a população crer que isso seja a tal imparcialidade jornalística.
O apresentador e o repórter
É fato e é regra que uma reportagem ou notícia ouça todos os
lados envolvidos, isso é o que dará um considerável grau de “imparcialidade” a
essa produção – é minha humilde opinião, mas é parecida com a de alguns
acadêmicos de nosso oficio, como Nilson Lage e Fernanda Schneider. O jornalista
é antes de tudo um ser humano, tem suas convicções e seus signos pessoais que
sempre irão influenciar sua visão do fato, é também funcionário ou autor de um
veiculo – se freelancer produz já pensando a que veículo
enviará sua produção – e cada veículo tem sua “linha editorial” ou sua
orientação bem definida do que quer “vender”.
Apurar
um fato já conta como um ato de parcialidade. Escolhemos a fonte que
acreditamos ser a melhor, os ângulos que pensamos serem os mais próprios, a
pauta que imaginamos interessar o leitor ou – quem tem coragem de assumir, que
assuma – o editor. Quando escrevemos colocamos em colunas encabeçadas por leads
o que achamos mais importante ou interessante. A decisão é do jornalista e não
do fato. Assumir-se neutro já consta como um ato não parcial, visto que
declarar-se assim já é uma posição que se toma diante de alguma coisa.
O
certo é que devamos buscar a tal “imparcialidade” como uma utopia a ser
perseguida de forma a sermos o mais justos possível, sem nos perdermos em
ilusões. Quando me perguntam sobre ética jornalística, respondo o que li ou
ouvi – e não me recordo de quem – que se como jornalista tiver de prejudicar
alguém importante pense duas vezes e se for prejudicar alguém que não terá
condições de se defender depois, não o faça.
Aos amigos que estão e estiveram na tarimba, concordamos,
acredito, que essa é uma profissão maravilhosa, porém espinhosa, que não paga
toda nossa dedicação e trabalho, bem diferente do que alguns pensam ser ao ver
e confundir o apresentador de reality show com o repórter, quando ali o mesmo
interpreta papéis bem distintos.