Existem problemas que se eternizam e ficam sem solução no mundo inteiro. O que quase ninguém sabe e cada um tem uma explicação própria, é por que alguns nunca diminuem. O número excessivo de filhos de alguns casais sem nenhuma condição material para cuidar e, principalmente, as gravidezes precoces ou sem planejamento são as mais recorrentes. A natalidade responsável gera muito debate, algumas ações tímidas de governos, mas a solução nunca vem.
As gravidezes sempre foram relacionadas às questões sociais, morais e religiosas. Há algumas décadas não havia tantas mulheres com filhos órfãos. A razão principal seria a necessidade de casar virgem, e gravidez era sinônimo de ausência de virgindade, salvo raras exceções. E tinha também o controle religioso por não haver pecado maior do que uma relação sexual de solteiros.
Com o passar dos anos diminuiu-se a ênfase no pecado sexual e virgindade deixou de ser requisito necessário para o casamento. A iniciação sexual passou a ser cada vez mais cedo. Porém, um tabu manteve-se firme, o do silêncio sepulcral sobre sexo e suas consequências entre pais e filhos, especialmente para deixar muito claro que o sexo não deve levar necessariamente à gravidez; mas apenas quando ela for desejada e planejada.
Por algum tempo imperou a desinformação, faltaram às políticas públicas de prevenção e a sociedade não embutiu na cabeça da juventude que é preciso estar preparada psicológica e financeiramente para cuidar do filho. Qualquer pessoa deveria praticar sexo o quanto desejasse, com quantos e como desejasse, mas sempre com a segurança suficiente a evitar contrair ou transmitir vírus ou doenças venéreas.
Quando se pensa que a consciência sobre a separação entre sexo e gravidez já estaria disseminada e generalizada, eis que o problema ressurge em manchete nos jornais sobre algum descontrole de natalidade. Agora se sabe que nos trechos concluídos de uma rodovia em construção no entorno da cidade de São Paulo, chamada de Rodoanel, está ficando um rastro de crianças órfãs de pai.
E a questão de o rastro de filhos ser deixado pelos homens se deve ao fato de o deslocamento e o trabalho na construção civil serem mais comuns aos homens. O desejo faz parte da pessoa em qualquer lugar e, infelizmente, tem sido acompanhado da falta de consciência e, por conta desta, após suas diversões sexuais, os homens voltam para suas terras de origem, mas deixam um rastro de crianças sem pai, com mães que em nenhum momento também se cuidaram para evitar a gravidez.
Os envolvimentos sexuais ocorrem em todas as relações sociais. Em casos como este do Rodoanel, são mais comuns nos salões de festa, nos bares e até no envolvimento decorrente do trabalho. Entretanto, nenhuma circunstância deveria justificar o surgimento de um filho como resultado de um caso fortuito.
O governo federal, os governadores e todos os prefeitos deveriam desenvolver campanhas de conscientização, com cobrança clara e objetiva de responsabilidade. Os pais deveriam ser mais sinceros e menos complacentes com a brincadeira de fazer filho de seus adolescentes. E todos deveriam tratar a gravidez precoce ou indesejada com muito mais seriedade. Também é preciso reforçar a investigação judicial para identificar os pais e forçá-los ao pagamento de pensão alimentícia, única coisa de quem levado gente para a cadeia neste país, inclusive vários famosos, como é o caso atual do ex-jogador de futebol José Elias.
Jamais filho deveria ser produzido como um objeto industrial. A “fordinização” de filhos no Brasil precisa acabar. Enquanto filho for resultado inevitável da diversão ou de aventuras sexuais, o rastro de orfandade do Rodoanel não ficará restrito a São Paulo; contornará o país e, num futuro próximo, novas crianças estarão a perambular pelas ruas.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
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