Henedina Hugo Rodrigues
O magistério como sacerdócio e a cultura por reverência profunda às expressões de humanidade, são investiduras raras agora, quando o utilitarismo imediatista vai tomando conta das relações em todos os ramos de atividade. O desfalecimento da educação e o empobrecimento da cultura vêm do embrutecimento das pessoas envernizadas, polidas com a discutível modernidade que falseia a originalidade.
Henedina Hugo Rodrigues (1918-2002) teve a autoridade dos que abnegam a favor de outrem, e, portanto, o sucesso que somente a poucos indivíduos é dado conceber no trabalho de transformação da realidade. É que o poder real da solidariedade construtora frutifica somente da alma desprendida e sincera.
Escritora cronista e poetisa. Professora catedrática. Defendeu tese sobre Higiene e Puericultura. Vibrou ardentemente pela educação e cultura. Nasceu em Guaxupé, Minas Gerais, e em 1943 chegou a Campo Grande com o esposo, José Barbosa Rodrigues e um fi lho (José Maria Hugo Rodrigues). Depois lhe nasceram mais três filhos: Paulo, Marcos Fernando e Antônio João. Presidiu a Fundação Barbosa Rodrigues, firmando projetos de importância básica como o do Centro de Documentação, Imagem e Memória de MS (CIM) e o “Lendo Mais, Sabendo Mais”.
Foi conselheira estadual de Educação; administradora e diretora de escolas. Precursora na pregação e prática quanto ao que as transformações almejadas por todos dar-se-ão “através da educação e da criança”. Integrou a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Cadeira número seis — patrono Arnaldo Estêvão de Figueiredo —, hoje honrada por Thereza Hilcar.
Henedina se tornou Cidadã Campo-Grandense, diploma outorgado pela Câmara Municipal. Por prestar importantes serviços, condecorada pelo Governo Federal com a Medalha do Pacificador; e pela Assembleia Legislativa de MS, com a Medalha do Mérito. Em razão da divulgação que promoveu, da história dos Pracinhas (sul-mato-grossenses na Segunda Guerra Mundial), agraciada com a Medalha General Mascarenhas de Moraes.
Narra a célebre escritora de Mato Grosso do Sul, professora Maria da Glória Sá Rosa, em seu livro “Deus Quer, o Homem Sonha, a Cidade Nasce”: Para lecionar (33 anos dedicados à Educação) ela “Ia a pé, de bicicleta ou de charrete (...)”; “(...) Ensinou gerações a ler, a descobrir nos signos gráficos uma abertura para o conhecimento do mundo e seus mistérios”; “Daquele tempo, lembra a dedicação, a paciência dos professores, que passavam meses sem receber, sem, no entanto, apelar para greves, apesar da falta que lhes fazia o magro salário”.
Por meio do Centro de Documentação, Imagem e Memória de MS, da Fundação Barbosa Rodrigues (principalmente com a produção e divulgação de vídeos), a professora Henedina “(...) fez da história de Mato Grosso do Sul uma bandeira a ser levada a crianças, adolescentes e jovens, que de forma objetiva passaram a conhecer e a valorizar os acontecimentos de seu Estado”.
Viajou pelo mundo inteiro. Muito amou a terra morena, como sobressai dos seus escritos de livro inédito. Em “Salve, terra morena!”:
“(...) Tu que vens de longe, ó cansado viandante!
Que tens magoados os pés, dum longo caminhar
Por paragens longínquas... tão distantes...
Descansa em nosso abrigo! a noite vai chegar! (...)”.
Amou a emancipação serena para o além. Em seu poema “Ansiedade”:
“(...) Quando eu for para longe...
Quando puder navegar pelos mares tão mansos e azuis,
Quando eu puder voar pela amplidão dos céus,
Sem rumo, ao léu, ao vogar das correntes sussurrantes, ou ao estrépito da tempestade bravia...
Como serei feliz! (...)”.
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