O modo de amar venerador, solícito e sofredor é tratado por muitos como pertencente a uma época ultrapassada, antiquada. Como se fosse possível estabelecer um método moderno de amar. As psicologias e novas dissimulações sociais criaram “elegâncias” que descartam, por exemplo, a sinceridade da intenção pura; praticamente condenam a inocência das palavras e chegam a debochar da mesura e do cavalheirismo. Mas o amor é atemporal e tem o eterno sabor que nos mostra Júlio Alfredo Guimarães em suas obras reflexas do intenso viver de um chamado “amante à moda antiga”. Não dizemos, aqui, amante apenas no sentido de par romântico; a pureza e simplicidade do coração antecedem, acompanham e deixam esteira aos atos de Júlio Guimarães (03/8/1913, Salvador, BA-02/10/2002, Campo Grande, MS) pela família, crianças, amigos, pátria.
Júlio Alfredo Guimarães, poeta, escritor, coronel reformado do Exército Brasileiro, ocupou na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (sócio-fundador) a cadeira 12 – hoje ocupada por Orlando Antunes Batista, patrono marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Membro da Academia Municipalista de Letras do Brasil; fundador do Lions Clube de Campo Grande Norte. Sócio Benemérito da Associação de Novos Escritores de MS. Escreveu e publicou, dentre outros, os livros de poesia “Rondon e a Natureza” (1965), “Refúgio d’Alma” (1969), “Mensagem de Amor e Paz” (1977) e “O livro das Mães” (2001, antologia que organizou e de que participou). Foi colaborador em diversos jornais e revistas.
Em “Rondon e a Natureza”, Júlio Guimarães entoa a glória do “Bandeirante do Século 20”. Recebe por prefácio as apreciações do poeta escritor professor Adair José de Aguiar e também de Ulysses Serra (escritor poeta, primeiro fundador da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras), que o elogia: “(o poema) é cadência, é musicalidade, é luz e cor na beleza dos seus versos. É bronzeado como o bororo, o pareci e o xavante. Tem o vermelho do urucum do índio e o verde da clorofila das árvores tropicais das nossas matas. Murmurejam nele os regatos e rios por onde Rondon passou e recendem fl ores e frutos. (...)”.
No livro “Refúgio d’Alma”, o autor sacramenta o seu estilo distinguido pela preponderância do sentimento e da inspiração sobre a métrica e a rima. Para ele, “(...) As palavras difíceis, as frases raras/ A métrica forçada, as rimas caras, (...)” mudam o sentido dos versos e destroem a poesia. Apresenta fortes verdades simples como no poema “Amigos”: “(...) O que é vendido tem valor marcado, /E o valor do que é dado ninguém sabe... (...)”; e no item “O amor e o desejo”: “Quem deseja tem as mãos e os olhos cravados na terra, /Quem ama tem os olhos e as mãos voltados para o céu. (...)”. E do mesmo livro, no item “Guerra e Paz”: “O ideal ninguém mata /Corre como uma cascata /De um coração para outro (...)”.
Nessa obra (Refúgio d’Alma) Júlio patriota ainda faz odes a Campo Grande, Mato Grosso do Sul e Brasil amado. E sobre o marechal Rondon, que “desbravou os sertões brasileiros”: “Ele uniu/ com o sangue de seu corpo /E o suor de seu rosto /A civilização, a natureza hostil /Por centenas de vezes /Viu a morte de perto /Porém isso jamais /O conseguiu parar /Pois não temia a morte. /Seu medo era matar.”. “(...) Ele morreu de pé /Como árvore da serra /Espalhando raízes pela terra /Que ele tanto amou (...)”.
O amigo Júlio Guimarães trazia sempre nas expressões um caudal de sentimentos. Ama a família, imortaliza a esposa Aparecida Salomão Guimarães. Em “O livro das Mães”, no que levanta por epígrafe que “Num coração de mãe o amor tem reflexos de Deus”, organiza antologia no tema e aí registra poemas seus erguidos à mamãe Julia Coelho Guimarães. “Guardo em mim teu sorriso de alegria /E a lágrima de dor que te amargava, /Pois sorrias feliz, quando eu sorria, /E choravas em prantos se eu chorava...”. “O mais sublime de todos os amores, /O amor de mãe é o que tem mais graças, /Num misto de alegrias e de dores, (...)”.
Júlio Alfredo Guimarães! Por ser verdade que somos servidos por aquilo que contemplamos, acompanha-lhe o amor a que você serviu. Oramos com o seu poema “A Morte”: “(...) Vai-se o corpo, a matéria fraca e doentia /Mas fica a alma, ficam as ações /E toda vez que lerem os meus versos /Eu viverei em todos corações”.
(Guimarães Rocha, de Campo Grande)
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