Morre em Recife,
aos 87 anos,
o escritor e Acadêmico Ariano Suassuna
Morreu às 17h45
horas do dia 23 de julho, aos 87 anos, na cidade de Recife, de um acidente
vascular cerebral hemorrágico (AVC), o escritor e Acadêmico Ariano Suassuna -
ocupante da cadeira nº 32 da ABL-, no Real Hospital Português daquela cidade,
onde estava internado desde a noite desta segunda-feira, dia 21.
Tão logo tomou
conhecimento da morte, o Presidente da Academia Brasileira de Letras, Acadêmico
Geraldo Holanda Cavalcanti, determinou o cumprimento de luto oficial de três
dias, que a bandeira da ABL seja hasteada a meio mastro e declarou: “A morte de Ariano
Suassuna confrange e entristece a Academia Brasileira de Letras. No espaço de
um mês, é o terceiro grande acadêmico que parte. Estendemos à família de Ariano
nossos profundos sentimentos de pesar. E à multidão de seus amigos, leitores e
admiradores no Brasil e no mundo, nossa solidariedade pela imensa perda. Ariano reunia em sua
pessoa as extraordinárias qualidades de homem de letras e de intelectual no
melhor sentido da palavra, alguém que, dispondo de uma cultura invulgar, era,
ao mesmo tempo, um homem de ação. À sua maneira ocupava-se e preocupava-se com
os problemas sociais, focado nos da sua região. Não podemos esquecer seu
engajamento com o Movimento Armorial, através do qual buscava revigorar a
identidade nordestina e suas peregrinações, levando, com humor, sua mensagem
por todo o Brasil”.
O Presidente
Geraldo Holanda Cavalcanti e o Acadêmico Evanildo Bechara representarão a ABL
nas cerimônias fúnebres, em Recife. Suassuna deixa a
viúva Zélia Suassuna, com quem teve os filhos Joaquim, Maria, Manoel, Isabel,
Mariana e Ana.
O Acadêmico
Sexto ocupante da
Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado e
recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. Ariano
Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, em 16 de
junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai
deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda
Acauhan.
Com a Revolução de
30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família
mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus
primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um
desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas
também da sua produção teatral. A partir de 1942
passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no
Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a
Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele,
fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira
peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou
O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens
de Barro foi montada no ano seguinte. Em 1950, formou-se
na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da
Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para
Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952,
volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem
abandonar, porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba
(1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o
projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o
texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou
a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de
Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em
São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada
a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei,
premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em
companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que
montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina
(1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo
para dedicar-se às aulas de Estética na UFPe. Ali, em 1976, defende a tese de
livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura
Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994. Membro fundador do
Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães,
diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe (1969). Ligado diretamente
à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, interessado no
desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares
tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música
erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18
de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco
ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Secretário de
Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes (1994-1998).
Entre 1958-79,
dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e
o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas
Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de
“romance armorial-popular brasileiro”. Ariano Suassuna
construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no
Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16
esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo,
representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus
Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Membro da Academia
Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande
do Norte (2000). Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um
documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por
Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.
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