domingo, 2 de maio de 2010

Artigo: O Livro do Pucci - A/0813 - (Parte XXXIV)

EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI

Recentemente esteve no Brasil, pela segunda vez, o sociólogo italiano Domenico De Masi, professor nos EEUU e mundialmente conhecido por seus estudos sobre o mundo atual, especialmente o mundo do trabalho.
Seu livro sobre os grupos de criatividade bateram todos os recordes de venda no Brasil e o mais atual, sobre o Futuro do Trabalho, vendeu 7 edições na primeira semana, na Itália.
O que há de mais original em De Masi, é ter abordado a questão das transformações do trabalho nesta virada de século e intuído muitas de suas conseqüências. Essa visita nos provoca a reflexão sobre o futuro de nossos filhos neste mundo em transformação.
Na verdade, hoje sentimos uma revolução profunda no mercado de trabalho - a exigência de educação continuada (mestrado, doutorado, pós-doutorado, etc.), a perda da estabilidade pela flexibilização das leis trabalhistas, a mundialização do mercado (exigindo domínio de vários idiomas, aumentando os contatos sociais e cobrando mais mobilidade física do profissional), a velocidade da informação (via Internet, por exemplo), o trabalho sem sede (homework), etc. - que ao mesmo tempo nos fascina e nos amedronta.
Além de todas essas transformações (ou talvez por causa delas), temos uma aparente contradição: nosso tempo livre aumenta e desaparece simultaneamente. Se por um lado as horas efetivas de ocupação produtiva tenderão a diminuir na virada do século, devido principalmente às inovações tecnológicas e seu impacto sobre nossas tarefas, por outro todas as nossas relações sociais e culturais tenderão a ser significativas para o trabalho. Sendo o trabalho num mundo globalizado cada vez mais "envolvente" (por ser menos seguro e mais competitivo) e cada vez mais "social" (pois não está mais delimitado em salas, fábricas, cidades ou países), ele nos transforma em "trabalhadores integrais", tanto no sentido de se tornar o centro de nossas preocupações quanto no de nos exigir habilidades e conhecimentos que estão muito além da antiga "aptidão para a tarefa".
Nesse contexto, a educação de nossos filhos passa a ser fundamental para seus futuros. Mais do que QI e aptidões específicas (que não deixam de ser importantes, é claro), a educação tem que buscar desenvolver criatividade e compreensão. Além da "antiga" inteligência lógico-matemática, nos diz Howard Gardner, um dos maiores pedagogos deste final de século, necessitamos desenvolver a inteligência espacial, corporal, naturalista, inter e intrapessoal, existencial e artística.
Para o maestro Yeruham Scharovsky, por exemplo, a música é uma das formas mais adequadas para ensinar a ouvir o outro e a trabalhar em equipe. A mesma opinião tem o professor Ricardo Breim, do MEC, para quem a música, aumentando a capacidade de concentração, ajuda no aprendizado de outras disciplinas, especialmente da matemática.
Mas a globalização, promovendo o aldeamento do mundo, além da ampliação cultural exigirá qualidades outras do homem do futuro, necessárias não só à sua sobrevivência enquanto espécie como também para seu relacionamento. As principais dessas qualidades serão, sem nenhuma dúvida, a ampliação da tolerância e uma ética profundamente ecológica. As duas virtudes, aliás, se interpenetram: tanto a tolerância implica no respeito profundo à natureza quanto a visão ecológica implica no respeito profundo ao outro. Uma revolução tem que ser, antes de tudo, uma revolução dos valores humanos.
Enquanto vivemos em nosso país essa fase política e economicamente dramática, com as funestas conseqüências que vemos na educação, na saúde e, especialmente, no trabalho, talvez seja difícil enxergar essa tênue linha que se projeta do futuro. Temos, ainda, que nos apegar às poucas esperanças que nos restam e nossos horizontes, ao invés de se alargarem, estreitam-se cada vez mais. Nesse contexto, nos agarramos, indivíduos e organizações, ao "essencial": a formação "essencial" dos cursinhos, o curso universitário mais "essencial", os livros de "realize-se rápido", as apresentações das "consultorias", e tais. São sinais de um tempo... de agonia.
É naquela linha tênue, contudo, que encontraremos o caminho para formarmos nossos filhos para o mundo que se avizinha. Um mundo que será extremamente difícil, radicalmente diferente deste que conhecemos, mas muito mais rico do ponto de vista humano do que o nosso. Será a grande síntese entre o mundo "calorosamente humano" de nossos avós e o mundo "hightech" de nossos filhos.
Oxalá assim o seja!

Nenhum comentário: