sexta-feira, 28 de maio de 2010

Artigo: A Herança Cármica de Rui Barbosa - A/0838

A Herança Cármica de Rui Barbosa

O jurista baiano Rui Caetano Barbosa de Oliveira, conhecido em todo o mundo como Rui Barbosa, teve uma trajetória brilhante em toda a sua vida política e profissional.
Menino prodígio, sempre teve uma educação exemplar, vivendo com os pais cultos e estudando nos melhores colégios de sua terra natal.

O pequeno cabeçudo, num constante aprendizado em família e recebendo a lição de mestres notáveis, nunca imaginava que poderia, em sua vida adulta, paralelamente à intensa atividade intelectual que exercia, ser o herdeiro de uma herança cármica sem precedentes, que o atormentaria até o fim de sua existência terrena.

Uma de suas grandes provações, sem dúvida, foi o casamento com Maria Augusta, que não poupava o marido, dominando-o como se fosse uma criança. Mantinha-o com as rédeas curtas, permanecendo ele sob seu absoluto domínio, eis que a mulher era por demais possessiva. Esse breve relato do brasileiro mais comentado nos meios intelectuais serve para mostrar a quem interessar possa, um pouco da vida tumultuada de quem representou com dignidade seu País em muitas oportunidades, seja na política como eloqüente orador, ou mesmo nos tribunais, como jurisconsulto e homem de letras. Fez proezas no Senado, foi relator da primeira Constituição Republicana e disputou a Presidência da República por quatro vezes, amargando fragorosas derrotas em suas campanhas civilistas. Defendia a separação entre Igreja e Estado, o que deixava a sociedade da época indignada. O poder religioso era muito grande e os sacerdotes romanos eram muito influentes entre as famílias, a quem usava como massa de manobra. Rui era contra essa interferência, e por isso pagou um alto preço.

O jurista preparou um grande projeto para o Código Civil, mas este ficou engavetado durante muito tempo, até surgir no Ceará a figura de Clóvis Beviláqua, que teve o seu projeto aprovado em 1916, com todas as críticas oferecidas pelo mestre Rui Barbosa. Ele fez correções profundas no dito projeto, considerando-o “prolixo”. Mas o governo brasileiro apoiou o anteprojeto de Clóvis, deixando Rui mais uma vez frustrado, cumprindo o carma que a ele cabia. Lutava ferozmente em prol de suas ideias altruísticas, convivendo com as dívidas do pai, que tanto o deixavam aborrecido. Certa feita, sua casa da rua São Clemente, no Rio, chegou a ser penhorada. Exilado na Inglaterra, ficava com a alma amargurada e de lá enviava suas famosas “Cartas de Inglaterra”. Não entendia direito o motivo de tantos tropeços, apesar dos serviços prestados à sua Pátria. Passava para o papel toda a mágoa que sentia, vivendo no exílio.

Rui Barbosa não levou uma vida miserável, mas não era um afortunado. Tinha residência fixa na Bahia, no Rio e em Petrópolis. Em sua terra, sempre comparecia para rever amigos e familiares. A atividade literária e política exercia no Rio de Janeiro. Mas com a família, passava alegres momentos em Petrópolis.

Um dos homens mais cultos do Brasil, sofreu perseguição, mas viveu momentos de glória. Pelos relevantes serviços prestados ao povo brasileiro, recusou um prêmio em dinheiro, instituído na época exclusivamente em seu favor. Recusou, julgando-se indigno para receber a homenagem. Já velho e doente, renunciou ao cargo de senador, recolhendo-se em Petrópolis no início da década de 1920. Existem muitas lendas sobre Rui Barbosa, qualificando-o como o maior sábio brasileiro, que vivia sob os efeitos da dívida de seu genitor, da perseguição política e ainda mandado pela mulher. Esse homem carregava em seu corpo uma herança cármica, que ele mesmo nunca pôde entender a razão para tanta desdita, embora tenha sido tão aplaudido, no Brasil e no exterior.

A Bahia, que o viu nascer a 5 de novembro de 1849, perdeu o filho ilustre no dia 1 de março de 1923. Após ter cumprido a sua missão, Rui Barbosa escolheu Petrópolis para entrar em transição, ao lado de seus familiares, com 73 anos de idade.


Nenhum comentário: