segunda-feira, 3 de maio de 2010

Artigo: O Livro do Pucci - A/0814 - (Parte XXXV)

A ERA DO VAZIO
Modernismo e pós-modernismo

A arte, como qualquer outro fenômeno social, é produzida num contexto específico. Seja a retratação ou a crítica desse contexto, de qualquer forma está a ele vinculado. Mesmo quando se produz o "inimaginável", isso só pode ser feito a partir de um dado, pois do nada – é um princípio da física – nada se cria.
O capitalismo instaurou um processo cuja essência é a mudança e, por isso, não se fixa nunca num momento que o "caracterize": da época mercantil instaurada com as grandes navegações até o mundo quase virtual em que vivemos, passando pelas revoluções industriais (no plural), o mundo ocidental é tão fluído em seu processo de mudanças cada vez mais rápidas, que definir uma "fase", como o fez a História clássica (Antigo, Medieval, Moderno), é cada vez mais difícil. A própria funcionalidade é fluída, pois o capitalismo não é um sistema que satisfaz necessidades humanas fixas, mas gera necessidades sempre novas, produzindo o ser humano necessário às necessidades que cria (ao contrário da primeira era industrial, onde era o ser humano que "possuía" suas necessidades).
Essa imprecisão verificamos nos escritos que pretendem caracterizar nossa época: ao lado do autor que "define" a modernidade, nas prateleiras das livrarias, vemos o que retrata a "pós modernidade" e outro, ainda, que critica tanto a uma quanto a outra das "definições".
Para o espírito que pretende apreender esse mundo veloz, a construção e a desconstrução quase que imediata das formas deixa uma impressão de vazio que impossibilita o "fixo", o "instituído", o "formal". É – resguardadas as diferenças – quase como o místico, cujo êxtase representa simultaneamente a compreensão da realidade e a impossibilidade de expressá-la.
Desde que o primeiro antropóide definiu-se como ser "humano", separando-se da natureza pela criação dos instrumentos, o tempo histórico-cultural (passado, presente e futuro) começou a se constituir. Seu ritmo, a princípio, era secular: as coisas aconteciam nas várias ordens institucionais que se foram constituindo (família, tribo, nação, Estado) de forma tão lenta que parecia aos olhos e aos espíritos que tudo era eterno. Hoje vivemos o auge desse movimento, e o instituído já se define como em "equilíbrio instável". A teoria comum às ciências é a "da complexidade". A realidade já não é um "estado", mas um processo e uma "teia" (net). A "incerteza" e o "caos" já são conceitos matemáticos. Os teólogos já dizem que Deus era o Nada. Por isso, neste nosso tempo antigo-moderno-pós-moderno, o vazio é a forma.

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