QUARTA CARTA DE AMOR
12 de agosto de 1966.
Há exatos 6 meses escrevi-lhe a última carta. Querida, saiba, contudo, que esse hiato da escrita não coincide com os meus muitos momentos preenchidos – em pensamentos e palavras – com o constante soletrar de seu nome a evocar a sua figura.
O silêncio imposto não condiz com a realidade da minha sensação de apreensiva espera por sua decisão, a favor deste que por você acalenta um amor maior do que qualquer outro lhe possa sugerir ou proporcionar.
Ainda ontem, da varanda daqui de casa, a vi chegar acompanhada pelo que soube ser o seu namorado. Não me olhei no espelho, mas senti meu rosto corar de vergonha desta teimosia em esperar por sua promessa. Intenção que você reiterou de apostar num motivo justificável às suas convenções íntimas de dispensar esse intruso que se interpõe entre mim e você.
Ainda assim insisto em a chama-la de querida, porque o querer, quando verdadeiro, insiste em acreditar até mesmo no impossível.
Dizem que o tempo passa muito depressa. Todavia, para mim se tem dado o contrário. Sinto as horas se arrastarem lentas e pegajosas, que eu até gostaria de apagá-las se pudesse, porque ressumam um vazio por demais profundo.
Uma esperança, em que a fé chega ao ponto de se estrangular na tibieza da dúvida, nada mais é que uma esperança vã, inconsistente. E que se vai nulificando, como um corpo de onde se esvai o indispensável último alento.
A rigor, querida, se ser ou não ser é a questão, em meu caso eu nem sou nem deixo de ser. Ou pelo menos finjo crer que sou seu amor futuro. Eu não sei de momento definir esta nossa relação, ou meia relação, antes que você decida no rompimento com seu par, conforme prometido por suas palavras e seu olhar.
Você até parece disposta a terminar com ele, quando me agasalha com palavras (e ainda mais com o seu o olhar) esta esperança fragilizada e rota, mas que se traduz no sentido mais caro do meu coração.
Por outro lado, a tardança em se decidir está às raias de arrojar-me ao conformismo da própria solidão, condição dos que sentem amputar da própria alma a metade de si mesmos.
Sim, querida! Há casos em que a ânsia da espera dói tanto quanto a sensação de uma perda irreparável. Desde fevereiro este dilema me faz sofrer como nunca dantes. Ao mesmo tempo que você me diz amar, a ponto de estabelecer um compromisso firme, por outro lado – que talvez seja o seu lado frio e racional, alega a impossibilidade por não poder valer-se de um álibi, que você mesmo poderia fazer desencadear, no distrato do namoro com esse rapaz.
Chegamos a um ponto crítico, onde até experimento o desejo de esquecê-la. Sim, querida, essa tentação às vezes me assalta, em madrugadas de insônia como esta. No entanto, percebo a impossibilidade em colocar outra mulher em meu coração. Em seu lugar, um harém não equivaleria à metade de você.
Inútil seria esse esforço de tentar apagá-la da minha mente. Seu nome se transfez numa espécie de sentimento gravado a fogo. Removê-lo de minha existência seria como anular a razão da minha própria vida.
Um beijo especial, deste que não a sabe e não a quer esquecer.
Geraldo Generoso
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