FRANGUINHO NA PANELA
(Canção de música raiz dos compositores Moacir dos Santos e Paraíso)
Esta canção retrata de corpo inteiro um tempo passado, mas não superado pelas imagens que sugere, da inocência e da beleza do campo. Parece que o autor, Paraíso, mediu cada palavra, como alguém que monta um relógio de precisão para marcar cada minuto de sua melodia. Compara o recanto onde mora a uma linda passarela. É nesse aconchego que ele vê a vida passar materna e carinhosa. O cenário desperta com o canto do galo, postado à janela abrindo o dia com o seu canto. Ao canto telúrico do “carijó”, juntam-se os acordes do sininho da capela, que se espraia nos arredores, para dizer que o céu manda mais um dia ao sertanejo.
Hora de ir pro roçado escoltado por Deus, revelado na Natureza que o envolve.como filho e parceiro . Pela esposa e a prole se faz descuidado da sua alimentação, basta um pão com mortadela. Mas de uma coisa ele não abre mão: o sustento da família no seu ranchinho, com o franguinho na panela. Conta possuir um burrinho, bom de arado e sela, e da vaquinha para o leite da criançada.O muar não é um qualquer. É um burrinho preto e sua vaquinha tem nome: é a Cinderela. Há as lorotas humoradas de um papagaio, com sua voz se misturando ao silêncio e aos ruídos do sertão.Esse roceiro não se importa se a fome o aperta.. Paraíso simboliza o sacrifício de seu personagem com o “apertando a fivela da cinta. satisfeito, por no ranchinho haver provisão para a família. A dificuldade é quando “fica sem serviço” e a tristeza o atropela, tira-o daquela normalidade, Aí, sujeita-se à condição de nômade, ao deixar a currutela, o seu canto, com quem se identifica de corpo e alma. Pula da cama ainda mais cedo e vai procurar fazer qualquer serviço na vizinhança. Ausenta-se para que nada falte no seu ranchinho. Essa expressão “franguinho na panela”, com o correr do texto se corporifica num termo plural, polivalente, pois incorpora os demais itens necessários a uma casa. Ganha o sinônimo de provisão: arroz, feijão, açúcar, sabão, gordura etc. Não se incomoda em se abastecer de muita comida para a faina do dia em outras plagas. Um fundinho de tigela, de farinha com ovo lhe basta. O que quer mesmo é fazer com que em sua casa não falte nada.
Na última estrofe expressa, de forma magistral ao dizer minha mulher é um doce e se sente ser o doce dela, no prazer de amar e ser amado, o que subentende ser feliz sentimentalmente. E arremata com a sua fé em Deus, em espiritualidade singela e profunda.. Fala que a vida é muito bela, mas se eu morrer , Deus dá jeito de não faltar em seu rancho o franguinho na panela
(Geraldo Generoso)
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