Reverenciando a Vida
Foi no Mosteiro beneditino de Cluny, na França, em 998, que o Abade Odilon deu início à celebração em memória dos mortos, dentro de uma perspectiva católica. Pela influência que esse Mosteiro então exercia na Europa setentrional, propagou-se com rapidez a nova celebração, até porque veio a encontrar esse costume por todas as culturas, cada uma dando o seu entendimento e sua prática ao culto aos mortos. Somente em 1311 foi sancionada, em Roma, oficialmente a memória dos falecidos. Mas foi Bento XV, em 1915, que universalizou tal celebração dentre os católicos, cuja expansão da religião também auxiliou a difusão desse costume ainda mais.A História, porém, registra que o culto aos mortos é uma prática das mais antigas e presente em quase todas as religiões. Esteve inicialmente ligada aos cultos agrários e da fertilidade, quando acreditava-se que, como as sementes, os mortos eram sepultados com vistas à ressurreição, o retorno à vida que deveria surgir de algo oculto e misterioso. Com essa crença, os antigos festejavam o dia dos mortos junto aos túmulos, com banquetes e alegria, costume ainda usado em certas culturas do planeta.Retrocedendo no tempo, encontra-se, no Ocidente, o registro de que a filosofia dos druidas, na Gália antiga, deu origem às novas escolas espiritualistas, pois também cultuava o sentido da infinitude da vida, as existências progressivas da alma e a pluralidade dos mundos habitados; além do mais, a raça gaulesa tinha conhecimento dos mistérios do nascimento e da morte. Os gauleses reverenciavam em festa os Espíritos, não nos cemitérios, mas sim, em cada habitação, onde evocavam as almas dos defuntos.Encontramos, também, tal confirmação, no ditado do Espírito Emmanuel, recebido mediunicamente por Chico Xavier, como se lê no livro denominado Emmanuel (cap. XV):Dentro, porém, de quase todas as idéias dessa natureza, no seio das raças primigênias, em seus remotíssimos agrupamentos, o culto dos mortos atinge proporções espantosas. Inúmeras eram as tribos que se entregavam às invocações dos traspassados, por meio de encantamentos e de cerimônias de magia.As excessivas homenagens aos mortos, no seio da civilização dos egípcios, constituem, até em vossos dias, objeto de estudos especiais.Toda a vida oriental está amalgamada nos mistérios da morte e, no Ocidente, pode-se reparar, entre as raças primitivas, a do povo celta como a depositária de tradições longínquas, que diziam respeito à espiritualidade.Os tempos modernos nos apresentam a rememoração dos mortos segundo o resultado dessa miscigenação cultural, filosófica e religiosa, que se deu pelos caminhos da História. Cada um o fazendo ao seu modo e segundo suas verdades, por mais relativas que estas sejam.No entanto, em todas as manifestações está presente a reverência à vida. Quer seja a vida espiritual, quando se entende que ela continua após a morte, quer seja a lembrança da vida enquanto estiveram juntos antes da morte, ou ambos. Religiosos ou não reverenciam a memória de seus familiares, amigos e afetos em geral.Aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola, diz ditado popular.Neste Dia de Finados, façamos do 2 de novembro um dia de reverência à vida, lembrando carinhosamente os que nos antecederam de retorno à pátria espiritual, e também os que estamos juntos, jornadeando ainda pelos caminhos da existência terrena.Por tudo isso, faz sentido rememorar com alegria e não lastimar os que já partiram, e que estão plenamente vivos. Finados é uma mistura de alegria e dor, de presença-ausência, de festa e saudade.Aos que ficamos por aqui, cabe-nos refletir e celebrar a vida com amor e ternura, para depois, quiçá, não amargar no remorso. Para consolar os corações que se afligem na saudade, aqui fica um alerta: a morte não existe para os que crêem na Divina Providência. Apenas uma transição, que muitos chama de morte, que pode nos separar entre um estágio e outro da vida que o Criador propiciou ao Homem, sua principal Criação.
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