Ao adquirir uma propriedade rural em Eldorado, Dr. Toledo
realizou mais de trezentas viagens, a fim de abrir a fazenda e dar assistência
à administração como um todo. As viagens
eram caracterizadas por várias peripécias.
As rodovias asfaltadas vinham até Perobal, e assim, conforme as informações
prestadas pelo senhor Valter, que era dono de um posto de combustível em
Guaíra, a a viagem poderia ou não ser concretizada. Tudo ia depender das condições do tempo: se
estivesse chovendo, era necessário colocar correntes nos pneus traseiros do
veículo, uma C-10, a partir da cidade de Perobal. Sabia ele que o trecho da
estrada, por vezes, era intransitável. Duplicavam as preocupações, porque as
enchentes eram constantes na época no Rio Paraná, e então, as balsas deixavam
de fazer a travessia.
“Problemas inúmeros haviam na viagem de retorno, sendo
importante narrar aqui alguns episódios, que jamais podem ser esquecidos,
porque foram muito reais.”, relata o Dr. Toledo. As dificuldades eram imensas
devido ao estado precário das estradas, como também em relação ao horário e às
condições dos motores da balsa.
Assim sendo, muitas vezes a balsa do Rio Iguatemi não estava
funcionando porque o motor estava quebrado. Quando isso acontecia, a opção que
havia era dar a volta por Iguatemi, passando pela Aldeia Indígena Porto Lindo.
Lembra o médico que certa vez, durante a visita de um Irmão Marista à região,
que nos acompanhava, numa curva fechada, bateu de frente com uma camionete,
apesar de ter acionado a buzina. E, para chegar à fazenda, foi chamado um táxi
de Iguatemi, que nos conduziu até a Fazenda Loma Linda. A camionete da colisão
foi rebocada para Maringá por um caminhão da empresa Alcides Parizoto.
Fato lamentável: foi recomendado ao condutor do caminhão de
reboque que fizesse a entrega da camionete à concessionária Chevrolet em
Maringá para avaliação dos estragos, mas lamentavelmente, de maneira
equivocada, foi entregue na residência, causando à família um impacto negativo,
deixando a impressão que o acidente teria sido fatal, com a morte dos ocupantes
do veículo. Pasmem!
Em 90% das viagens naquele tempo, a saída de Maringá era por
volta das três horas e chegava na fazenda ainda de manhã. Após, começava a cuidar do gado, enquanto ia
recebendo as informações e os fatos ocorridos durante a nossa ausência. De
posse dos relatórios, os problemas iam sendo resolvidos um a um, bem do nosso
estilo. O trabalho era árduo e cansativo, quase sempre exigindo muito esforço
de nossa parte. Fazíamos instalações elétricas para iluminar o curral, e assim,
todas as tarefas necessárias para o bom andamento do trabalho, que era feito
diuturnamente.
A VOLTA NUM CAMINHÃO FNMVoltando para Maringá, num antigo caminhão FNM, a viagem durou cerca de sete horas. As viagens, realizadas sempre com problemas, não só pela precariedade das estradas como pelos problemas de travessia com as balsas. Bem entendido: às vezes, ficávamos encravados e aí perdíamos a última balsa para Guaíra. Isso ocorria com muita frequência, o que causava alguns aborrecimentos diante de tantos compromissos assumidos. Outras vezes era necessário pernoitar dentro da camionete com os vidros fechados, para evitar as picadas de pernilongos.
Quando a travessia estava impedida pelos constantes
alagamentos, havia a opção de atravessar o rio através da rota Naviraí – Porto Pontal
do Tigre -, via Icaraíma, um trecho realmente de difícil trafegabilidade.
A viagem representava uma verdadeira epopeia, devido às
imensas dificuldades e tantos obstáculos pelo caminho. O médico e ortopedista
lembra de dois fatos ocorridos, numa dessas memoráveis viagens, onde a
travessia era obrigatória.
I – Acompanhado do Dr. Nelson Maimone, a água já estava
encobrindo a primeira ponte. Paramos um instante para avaliar o percurso e
decidir melhor o que fazer. Ele ficou receoso em atravessar, mas consegui
convencê-lo de que não tinha perigo. E assim foi feito.
II – Num domingo, fui comprar um gado perto de Iguatemi, ou
seja, nas 7 Placas. O dono fez questão que eu ficasse para degustar um
churrasco de ovelha em sua residência, o que aceitei prontamente. Naquele
ínterim, aconteceu que veio uma chuvarada, e por orientação de pessoas experientes, encheu-se a caçamba
da camionete de terra, que era para favorecer a viagem, ajudando a superar os
imensos “barreiros” que iríamos enfrentar.
Portanto, chegamos muito tarde para a travessia, estando
acompanhado desta vez, pelo técnico ortopédico Valdir Fernandes dos Santos.
Perguntado ao caseiro que ficava próximo da balsa sobre as condições para a
travessia, este foi enfático, informando que a estrada para Icaraíma estava
completamente sem trânsito, pois nenhum veículo havia passado por ali.
Numa conversa com o amigo Valdir, disse a ele que precisava
estar em Maringá sem falta no dia seguinte, pois havia assumido compromissos;
por isso, arrisquei fazer a viagem, mesmo com tantos percalços. Colocados todos
os recursos disponíveis da camionete, realizamos a façanha, com o veículo “pulando”
sobre os facões elevados da estrada, para chegar a Icaraíma.
Chegando, encontrei em Icaraíma uma fila de carros que
aguardava a liberação do trecho. Fui parado por um dos motoristas que me disse:
“com esse carro, até eu teria passado!”, expressão que achei um tanto
aleatória, no entanto real diante do quadro presenciado por todos, que viam em
nós uma atitude corajosa, e sem qualquer tipo de temor.
Antes de chegar em Maringá, paramos próximo a Paranavaí para
retirar a terra. Tivemos ali um momento de reflexão, para prosseguir o destino,
e assim, aportar na cidade Canção.
SOBRE A AFTOSA NA REGIÃO
O Pecuarista levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
O episódio de 2005 aleijou financeiramente o pecuarista, criando um buraco
negro na economia regional. A aftosa foi a geada negra do pecuarista, pois a
carne representa o petróleo vermelho do Brasil.
Na opinião do médico e pecuarista “o Iagro não apresentou a
nenhum produtor o atestado de sorologia, que foi uma falha imperdoável.” As
decisões foram tomadas no afogadilho. Os produtores pediam explicação, exigindo
respostas, mas as autoridades do setor saiam pela tangente. O comércio ficou às
moscas, faltando os recursos que vinham da pecuária. Houve omissão do Sindicato
Rural na defesa dos pecuaristas, causando
uma onda de revolta, pois permitia isso e aquilo, quer dizer, deixou os
produtores a ver navios. Deveria, sim, ter exigido o atestado de sorologia, o
que foi feito para determinadas fazendas, provando que essas propriedades,
embora estivessem relacionadas para o abate imediato, provasse que não
existisse a febre aftosa em seus rebanhos.
Parece até que as mesmas foram protegidas, como que tivessem sido
escolhidas em gabinete, nos respectivos departamentos, que supervisionava a
sinistrose. Isso fez o diferencial, motivando
revolta geral, não só dos
proprietários de rebanhos de Mundo Novo e Eldorado, mas de todas as cidades do
Vale do Iguatemi.
“Enquanto eu estava em tratamento de saúde em Maringá, a
minha fazenda foi invadida e de uma forma abrupta e sem a devida autorização,
sacrificaram 2450 reses, sendo todo o rebanho formado de gado selecionado e devidamente
cuidado. O prejuízo foi incalculável, visto que o valor da indenização não
correspondia à realidade do plantel, reconhecido por todos como gado de raça.”
Foi o desabafo do pecuarista.
A febre aftosa, segundo o ex-governador Zeca do PT, veio do
Paraguai, através do gado comprado na fronteira do país vizinho. O caminho da doença, na verdade, foi
centralizado no frigorífico da época, dali foi levada para o Estado do Paraná,
que ofereceu resistência para evitar a proliferação do mal, com o ocorreu nas
terras tupiniquins. Foi descoberta durante uma exposição, onde o gado
apresentava os sintomas da doença, Arrepiando e babando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário