Um homem morava muito distante e na cidade, trabalhava numa grande fábrica. Todos os dias, pegava o ônibus para ir ao trabalho. No ponto seguinte ao dele entrava uma senhora, que procurava sempre sentar ao lado da janela. Ela abria a bolsa, tirava um pacotinho e passava a viagem toda jogando alguma coisa para fora do ônibus. A cena sempre se repetia e um dia, curioso, o homem lhe perguntou o que jogava pela janela. Jogo sementes, respondeu ela. Sementes? Sementes de que? De flores. É que eu olho para fora e a estrada é tão vazia.
Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas pôr todo caminho. Imagine como seria bom. O homem a indagou, mas as sementes caem no asfalto, são esmagadas pelos pneus dos carros, devoradas pelos passarinhos. A senhora acha que estas flores vão nascer ai, na beira da estrada? Acho, meu filho. Mesmo que muitas se percam, algumas acabam caindo na terra e com o tempo vão brotar.
Mesmo assim. Demoram a crescer, precisam de água. Ah, eu faço minha parte. Sempre há dias de chuva. E se eu não jogar as sementes, as flores nunca vão nascer. Dizendo isso, a velhinha virou-se para a janela aberta e recomeçou seu trabalho. O homem desceu logo adiante, achando que a senhora já estava meio caduca.
O tempo passou. Um dia, no mesmo ônibus, sentado à janela, o homem levou um susto ao olhar para fora e ver na beira da estrada. Muitas flores. A paisagem estava colorida, perfumada, linda! O homem lembrou da velhinha, procurou-a no ônibus e acabou perguntando para o cobrador, que conhecia todo mundo. A velhinha das sementes? Pois é. Morreu de pneumonia no mês passado. O homem voltou para o seu lugar e continuou olhando a paisagem florida pela janela. "Quem diria, as flores brotaram mesmo", pensou. "Mas de que adiantou o trabalho da velhinha?" A coitada morreu e não pode ver esta beleza toda.
Neste instante, o homem escutou uma risada de criança. No banco da frente, uma garotinha apontava pela janela, entusiasmada: Olha mamãe que lindo! Quanta flor pela estrada. Como se chamam aquelas flores? Então o homem entendeu o que a velhinha tinha feito.
Mesmo não estando ali para contemplar as flores que tinha plantado, devia estar feliz. Afinal, ela tinha dado um presente maravilhoso para todas as pessoas. No dia seguinte, o homem entrou no ônibus, sentou-se perto da janela e tirou um pacotinho de sementes do bolso...
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