A diferença entre dar aula e ser
Professor
Li uma interessante crônica do jornalista Walter J Silva, que esclarece de maneira clara e objetiva a atividade letiva, a honrosa profissão do magistério. Ele se dirige aos mestres do saber, assim:
“Aos meus amigos professores: nesse
caminho que vocês vem trilhando constatei que existe uma profunda diferença
entre dar aula e ser professor.” Continua: “Dar aula é muito bom: é querer
compartilhar conhecimento, propagar a informação. Dar aula exige esforço,
dedicação, preparo.”
Mas existe uma imensa
distância entre “dar aula” e ser professor. Porque dar aula é uma atividade,
mas ser professor é muito mais do que isso, é um sacerdócio. Ser professor é,
muito antes de ser uma profissão, uma das formas mais genuínas do amor.
Como já dizia o grande
mestre Paulo Freire: “eu nunca poderia pensar em educação sem amor. É por isso
que me considero um educador, acima de tudo porque sinto amor.”
Porque professor vai além. Além das tarefas estabelecidas em contrato, além das horas pagas no holerite, além da ideia de que aquilo é apenas um meio para se ganhar a vida. Professor quer saber o nome, quer saber quem é quem, quer saber as histórias, as origens, os rumos pretendidos. Professor está na chuva para se molhar, para se arriscar diariamente; para sofrer com as derrotas e vibrar com as vitórias dos alunos; para corrigir provas como quem assiste a um jogo de futebol, se lamentando quando um craque chuta a bola no travessão, e desacreditando quando um perna de pau acerta a bola no ângulo.
Professor se envolve, mesmo
quando tenta evitar. Professor se perde no cronograma, não está lá só para
cumprir horário e currículo. Está lá para parar a cada dúvida, para ensinar não
só a matéria, mas ensinar o melhor do pouco, ou muito, do que sabe sobre a
vida. Professor acaba por viver muitas vidas além da sua: Vivencia o
crescimento, os obstáculos, as crises, os começos de namoro, as brigas entre
amigos, problemas de casa, a conjuntivite alheia, as angústias, os caminhos.
Professor não tem medo de se expor, de se mostrar humano e vulnerável. Não tem medo de roupa preta suja de giz, de pilhas de livros para carregar, da odisseia do fechamento dos diários no fim do ano, nem das provas que parecem dar cria na calada da noite. Mas tem medo de errar. Mas o mestre continua, assim mesmo. Continua porque existe algo bem maior por trás desse medo. Algo que nos torna um tanto quanto imunes às adversidades, salários brincalhões, poucas horas de sono, pendências infindáveis, conversas paralelas e ao eterno risco que é tentar ensinar.
Só o que sei é que, no fim
das contas, ser professor é um lance de amor. Às vezes é sofrido, às vezes é
maçante, como todo amor exercido. Mas é uma dessas paixões avassaladoras que
vicia, e que quem sente, já não consegue ver sentido em viver sem isso. Que
todos os dias seja um dia para lembrarmos o porquê de terem escolhido essa honrosa
profissão. Na verdade, nem todos os que dão aula escolheram ser, porque as duas
atividades são distintas e diferentes entre si.
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