André herda o trono de Pedro,
nos 33 anos do MS
"Aniversário é uma festa que ocorre todos os anos. Nos primeiros, é muito badalada, com solenidades; depois,vai criando um certo hábito e se torna um fato costumeiro. A data perde um pouco da sua atualidade. Apenas noto que a cidade (não seria o Estado?) sempre cultua a data e a imprensa procura novas informações sobre o fato histórico". A frase é uma resposta de Wilson Barbosa Martins à repórter Silvia Tada (sim, filha do Tada do Tetila), no Correio do Estado de ontem, sobre o fato de não haver praticamente nenhuma comemoração especial neste 11 de outubro, dia em que o Mato Grosso do Sul chega à idade do Cristo.
Muito bem. Tivesse o mesmo Wilson Barbosa Martins contido o ímpeto negocista e, digamos, pouco republicano de seu genro Abdalla Jallad e não seria ele, Wilson, apenas o genro (e também sobrinho) famoso de Vespasiano Martins, o líder do movimento divisionista que durante cem anos lutou para que 33 anos atrás, de um naco do sul do Mato Grosso surgisse o Mato Grosso do Sul. E, quem sabe assim, o estado que nasceu para servir de modelo de desenvolvimento nacional não teria patinado tanto no tempo e "Dr. Wilson" pudesse hoje ter, sim, o que comemorar, reverenciado como um de seus grandes líderes. Como nos últimos tempos ficou muito difícil para os governantes, mesmo dos mais austeros, como um Barbosa Martins, tocar a máquina pública sem um PC Farias por trás, Jallad se esbaldou à frente da sempre poderosa Casa Civil, tisnando, por assim dizer, a biografia do grande tribuno com o qual aprendi, ainda guri, num comício em plena Marcelino Pires, que "não adianta querer tapar o sol com a peneira", uma referência às ameaças às liberdades democráticas logo no início do período da ditadura militar, o que lhe custou a cassação dos direitos políticos.
Instalado o Mato Grosso do Sul (em 1979) e marcado o primeiro embate eleitoral para governador para dali a três anos (novembro 1982) Wilson Barbosa Martins ressurgiria como a grande força antagônica àquele que veio como herança do Mato Grosso com pretensões se perpetuar como comandante em chefe do novo Estado - Pedro Pedrossian. Dizendo-se o predestinado, não se cabendo em tanta soberba, ao que ele mesmo atribuiria mais tarde o encerramento prematuro da carreira, Pedrossian acabou dando com os burros n'água já na fase de instalação do novo Estado, perdendo a boca como primeiro governador diante de tanta confusão arrumada com um adversário figadal também remanescente do Mato Grosso e que optou por continuar fazendo política no Mato Grosso do Sul - o à época todo poderoso primeiro secretário do Senado, Mendes Canale. O resto dessa história todo mundo está cansado de saber.
Mesmo assim, depois das lambanças iniciais, Wilson Barbosa e Pedro Pedrossian se revezariam no poder durante 16 anos. Deixaram para trás lideranças emergentes, como Levy Dias, José Elias Moreira, Marcelo Miranda Soares e até Lúdio Coelho, o filho do maior latifundiário do mundo cujo sonho dourado era, também, ser governador. Ironicamente, seu Lúdio, derrotado por Pedrossian para o governo do Mato Grosso ainda inteiro, em 1965, seria por ele apoiado, aí já no Mato Grosso do Sul, em 1986, perdendo de novo, desta vez, para Marcelo Miranda.
Nestes 33 anos, quem sobrou como o grande líder político? Nem Pedrossian nem Wilson. Se observado o DNA político, no entanto, poderia se dizer que André Puccinelli, depois dos oito anos de governo petista, seria a volta de Barbosa Martins ao poder. Que nada. Assim como André ascendeu pelo próprio faro político, poderia ter sido Braz Melo, também seguidor de Wilson, que teve a faca e o queijo na mão como uma das maiores lideranças emergentes do Estado, ou José Elias Moreira, que seria o continuador da obra de Pedrossian, em 1982, não fossem as circunstâncias políticas da época, com a onda peemedebista que tomava conta do Brasil.
E olha que Pedrossian sempre se colocou como o grande forjador de lideranças. Quando lançou Zé Elias Moreira ao governo do Estado, já havia tentado emplacar Paulo Fagundes. De volta ao poder, no início da década de 90, outra tentativa frustrada de encontrar um sucessor, desta vez com Waldemar (da Copagaz) Just Horn. Isso depois de sonhar com alguns de seus meninos, como Heráclito de Figueiredo, Chico Maia (o da Acrisul) e até Ricardo Cândia. Wilson, nem isso! Sua filha Celina, o máximo de proveito que tirou com o nome do pai foi se eleger deputada a primeira vez. Depois de fracassado o projeto de vice-govenadora, na chapa de Ghandi Jamil, o que mais fez já foi por conta do empurrãozinho de André Puccinelli, que agora a aposentará como Conselheira do Tribunal de Contas. Por esta ótica, aliás, se Nelson Trad, que agora dependura as chuteiras, tivesse sido governador do Mato Grosso do Sul, não sobraria nada pra ninguém, já que como deputado federal conseguiu emplacar a filharada toda em cargos chaves - o Nelsinho prefeito de Campo Grande, o Marquinhos deputado estadual mais votado da história e o Fabinho, tido como seu sucessor, estreando agora nas urnas como um dos mais votados para assumir a cadeira do pai no Congresso Nacional.
Sobrou pra quem? É como se estivesse escrito nas estrelas. Pra André Puccinelli, claro!
O cara disputa sua primeira eleição para a prefeitura da cidadezinha (Fátima do Sul) onde atua como médico, ganha na urna, mas perde na legenda. Aí ele para e pensa: "mas o que eu vou ficar fazendo nestes cafundós de Judas?". Põe sua Bete e os filhos num uninho vermelho e se manda para Campo Grande, onde vira deputado estadual e federal, prefeito e governador. Como não pode ser presidente da República, por ter nascido na Itália, contenta-se encerar a carreira no Senado, para onde acaba de mandar seu pupilo Waldemir Moka. Isso, se não tiver um faniquito com os ácaros dos carpetes azuis daquela ala do Congresso e resolver voltar ao Parque dos Poderes.
Como só poderá se sentar no trono, propriamente dito, de Pedro, no dia em que ele existir, já que até agora nenhum dos sucessores do marido de dona Maria Aparecida se dispôs a construir a obra que falta no Parque dos Poderes - o Palácio do Governo Estadual - que André Puccinelli se contente com o cocar de maior cacique da política estadual, como retratado por Anita Tetslaff numa de suas passagens pela Aldeia Jaguapiru. (Walfrido Silva - Dourados, MS)
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