e não há mais quem se lembre dele!
É com
muita tristeza que comunicamos o falecimento de um amigo muito querido que se
chamava Bom Senso! Ele viveu muitos e muitos anos entre nós e ninguém conhecia
com precisão a sua idade porque o registro do seu nascimento foi
desclassificado há muito tempo; tamanha era a sua antiguidade! Mas lembramo-nos
muito bem dele, principalmente pelas suas lições de vida como: «O mundo
pertence àqueles que se levantam cedo», «Não podemos esperar tudo dos outros»,
ou ainda: «O que me acontece pode ser em parte também por minha culpa». Outra
coisa: Bom Senso só vivia com regras simples e práticas como «Não gastar mais
do que se tem», além de outros princípios, como «São os pais quem dão a palavra
final».
Acontece
que, o Bom Senso começou a perder o chão, quando os pais passaram a atacar os
professores, que acreditavam ter feito bem o seu trabalho querendo que as
crianças aprendessem o respeito e as boas maneiras. Sabendo que um educador foi
afastado ao repreender um aluno por comportamento inconveniente na aula, agravou-se
o seu estado de saúde. Deteriorou-se mais ainda, quando as escolas foram
obrigadas a ter autorização dos responsáveis, até para um curativo no machucado
de um aluno, sequer podendo informar os pais de outros perigos mais graves
incorridos pela criança. Enfim, o Bom Senso perdeu a vontade de viver quando
percebeu que os ladrões e os criminosos tinham melhor tratamento do que as suas
vítimas. Também recebeu fortes golpes morais e físicos, quando a Justiça
decidiu que era crime defendermo-nos de algum ladrão na nossa própria casa,
enquanto a este último é dada a garantia de poder queixar-se por agressão e
atentado à integridade física. O Bom Senso perdeu definitivamente toda a
confiança e a vontade de viver quando soube que uma mulher, por não perceber
que uma xícara de café quente iria queimar-lhe, ao derramá-lo em uma das
pernas, recebeu por isso, uma colossal indenização do fabricante da cafeteira
elétrica.
Certamente
você já reconheceu que a morte do Bom Senso foi precedida pelo falecimento de seus pais Verdade e Confiança; de sua mulher
Discrição; de sua filha Responsabilidade e de seu filho Juízo. Então, Bom Senso deixa o seu lugar para quatro falsos irmãos: «Eu
conheço os meus direitos e também os adquiridos», «A culpa não é minha», «Sou
uma vítima da sociedade» e «Meus pais não sabem nada e cobram demais». Claro
que não haverá multidão no seu enterro, porque já não temos muitas pessoas que
o conheçam bem, e poucos se darão conta de que ele partiu. Mas, se você ainda
se recorda dele, caso queira reavivar a sua lembrança, previna todos os seus
amigos do desaparecimento do saudoso Bom Senso, conclamando a todos os seus
amigos e familiares a recobrar a memória, voltando às antigas práticas que
cuidou sempre o saudoso Bom Senso.
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