GRAU DE COMPANHEIRO
Se encararmos os vários graus do ponto de vista de nosso amadurecimento psicossocial, teremos que o grau de Aprendiz é o tempo que empregamos para nos libertamos de nossas paixões mais grosseiras, fruto de nossa ignorância, respondendo, através do estudo e da observação silenciosa, à questão: DONDE VIEMOS?
No segundo grau, o Companheiro tem que empregar seus cinco sentidos - suas cinco faculdades - para responder à questão: Quem somos? Neste grau, como se depreende dos seus passos, é necessário ousar por si mesmo, confiando no uso dos métodos aprendidos quando Aprendiz.
Os Maçons Operativos, construtores de templos materiais, deviam, entre outras formas de aprendizado, viajar a serviço de vários Mestres em busca do aperfeiçoamento profissional. Para tanto, eram das poucas categorias a gozar da liberdade de ir e vir, o que, aliás, pode ter se constituído em um dos atrativos para os futuros maçons aceitos. Ainda hoje, os Compagnons[1], organização tradicional que congrega artesãos do mais alto quilate - poderíamos dizer que continuam maçons operativos - exige de seus aprendizes várias viagens de estudo por várias Oficinas espalhadas pela França, durante cinco anos, até que possam apresentar seu trabalho de Mestrado (sua obra prima) para avaliação.
Para expressar esses anos de estudo e aperfeiçoamento em busca do conhecimento, é que o Companheiro faz suas viagens simbólicas. Como na Antigüidade, porta seus instrumentos de trabalho, não mais para tarefas materiais, mas como símbolos que expressam as tarefas espirituais que deverá empreender em sua senda. Sendo o homem um “animal simbólico”, temos necessidade de materializar nossas idéias a fim de melhor gravá-las e compreendê-las.
Neste grau, é pelo uso dos cinco sentidos que se dará o aprendizado, isto é, devemos aprender na relação direta com o mundo. São esses cinco sentidos - cinco faculdades - que se expressam na estrela de cinco pontas, alegoria do grau. Ë um grau de procura de si mesmo através das relações, em busca da quintessência, que só se encontra no mais íntimo do ser.
Em cada uma dessas viagens levamos instrumentos que simbolicamente expressam o que devemos alcançar (produzir) com o trabalho que faremos nessa viagem.
Na primeira viagem levamos o Maço e o Cinzel. Eles representam a vontade e o livre arbítrio. Se pudermos imaginar o antigo artesão, ajoelhado sobre a pedra, usando esses instrumentos, podemos “ver” como ele emprega a força, com a devida medida, canalizando-a através do cinzel, que emprega com arte para talhar exatamente segundo seu projeto.
Assim, o Maço e Cinzel, para nós, simbolizam Ciência e Sabedoria, isto é, o conhecimento verdadeiro e o equilíbrio na aplicação desse conhecimento. Um dos motivos do desequilíbrio do mundo atual está exatamente no uso indevido e inclusive abusivo do conhecimento por parte de profissionais altamente habilitados, mas destituídos de moralidade.
Na segunda viagem, levamos a Régua e o Compasso. A Régua traça a linha reta, isto é, indica a retidão, enquanto que o Compasso traça o limite das nossas possibilidades. Dessa forma, simboliza para nós a Justiça e Consciência. A justiça é fundamental nas relações tanto naturais quanto humanas, mas sem consciência pode produzir privilégios que acabam por se tornar o seu oposto.
Na terceira viagem, acrescentamos a Alavanca e nossos instrumentos. Ela significa a potência que obtemos quando utilizamos um ponto de apoio apropriado. Dessa forma, a Alavanca simboliza para nós o Auxilio Divino, sem o qual qualquer busca que empreendemos está destinada ao fracasso.
Na quarta viagem, à Régua acrescemos o Esquadro. Se a Régua traça os caminhos retos, o Esquadro nos permite traçar os ângulos retos. Assim, unidos, simbolizam a Retidão de nossos Ideais.
Na quinta viagem, já não necessitamos de nenhum instrumento de apoio. Isso significa que, desenvolvidas nossas potências, estamos prontos para o trabalho que nós é requerido. A Espada contra o peito, contudo, nos é um alerta de que as paixões inferiores estão sempre prontas para retornar a casa de onde foram expulsas. Quantas quedas e quantas recaídas nos têm ensinado isso!
É necessário, portanto, mesmo quando já livres de regras e regulamentos, que estejamos sempre alertas para as tentações, que serão tanto maiores quanto mais nos desenvolvemos. Quem ainda não as viveu em seu desenvolvimento?
Quando desenvolvemos nossa quintessência e nos tornamos completos como simbolizado na estrela flamejante, teremos realizado o trabalho que nos foi pedido quando fomos aceitos Companheiros.
[1] Ver cap. O ciclo do tempo, p. 47 deste volume.
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