CONHECE-TE A TI MESMO
Sócrates, o notável filósofo, ao cunhar essa máxima que atravessou os milênios até nós, sintetizou nela uma lição cuja profundidade e extensão nossas análises não esgotam nunca.
O Rabi de Nazaré, o mais profundo conhecedor da alma humana, na mesma linha de raciocínio ensinava que ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não ama o próximo, a quem vê. Mas como se pode amar ao próximo? Nem mais e nem menos do que como se ama a si mesmo.
A máxima socrática ainda hoje é tratada como se não expressasse mais que o óbvio. A lição de Jesus, quando não é considerada um deslize de egoísmo, é lida nos textos como se tratasse de uma banalidade.
Essas lições são maravilhosamente semelhantes porque extraem suas seivas da mesma verdade. Só uma coisa vale realmente a pena: conhecer-se a si mesmo.
Creio que não é por demais ousado dizer que a busca da autoconsciência é a única finalidade da Vida.
Mas não estamos nós, na Maçonaria, o tempo todo nos referindo ao outro, à necessidade de conhecer ao outro, à necessidade de respeitar a individualidade e a diferença do outro? É verdade, como também é verdade que só reconheço ao outro se sou capaz de reconhecer a mim mesmo como um outro; que só compreendo a necessidade do outro, se compreendo a minha necessidade; que só respeito a individualidade e a diferença do outro, se respeito às minhas próprias.
Mais: ninguém consegue dar o que não tem. Se eu reconheço em mim afetos e desafetos, necessidades e angústias, sou capaz de reconhecê-los no próximo. Se não os reconheço em mim, como posso reconhecê-los no outro?
Daí o paradoxo insolúvel que tem atormentado gerações: "eu queria tanto compreender minha esposa, meu marido, meus filhos". "Por que o outro é assim?".
E o problema ainda mais difícil, derivado imediatamente desse: "Por que você não muda?", "por que você não é diferente?".
TUDO passa por conhecer-se a si mesmo. Somos seres em relação e, por isso, trazemos em nós, genética e culturalmente, em graus variados, a espécie, os antepassados próximos e distantes, e um pouco de cada convivência, desde a escola primária até a hora da morte. Apenas em mim mesmo, contudo, sou capaz de reconhecer – palavra que quer dizer conhecer de novo – esse SER, que é tanto parte de mim quanto do outro, e que só em mim é visível e sensível.
Decorre necessariamente daí que se mudarmos nosso problema, e o formularmos na primeira pessoa do singular: "Por que EU sou assim? Por que EU não consigo mudar? Por que EU estou me sentindo assim – triste, com raiva, angustiado, com medo?", então estaremos formulando um problema capaz de ser resolvido.
Difícil? Extremamente! É tarefa que tomará toda nossa vida. Mas não tenhamos pressa e nem angústias desnecessárias, pois essa é a nossa ÚNICA tarefa. O resto é maya.
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