Escritores brasileiros, uni-vos!
Não é este artigo um libelo contra os editores brasileiros. Nem faria sentido terçar armas contra uma classe de profissionais, cuja atuação comercial é das mais nobres. Eles difundem ciência, arte, educação, entretenimento e cultura de modo geral. Calçado na minha própria experiência, de tanto receber recusa de editoras, acabei por buscar o caminho das pedras para sobreviver no meu mal reconhecido ofício de escriba. Conta-se nos dedos de uma só mão, neste imenso Brasil de mais de meia centena de milhões de alfabetizados, o número de profissionais que sobrevivem do que escrevem. Claro que o fenômeno não é local. Já ao tempo de Montesquieu, em seu livro “Cartas persas”, ele insuflava na boca de um personagem esta observação válida até hoje, principalmente no Brasil: “quem desfruta das comodidades de uma arte está forçado a cultivar uma outra, sob pena de se ver reduzido a uma pobreza humilhante” Abrindo as páginas do jornal O Estado de S.Paulo, no Caderno D5, Cultura -, encontramos o ranking dos dez livros mais vendidos no Brasil. Sem exceção, só há autores estrangeiros na não ficção. Somente 50% dos de não-ficção, é que são autores nacionais. Claro que ninguém pode cultivar uma xenofobia cultural a ponto de desmerecer a cultura estrangeira. No entanto, está mais do que patente que nossos editores estão acomodados sob a configuração de fatores onde envolve, como em todo negócio, o mínimo de risco e o máximo de lucro.
Obviamente, isto é compreensível. De minha parte, dei um coletivo adeus a todos os meus virtuais editores por prazo indeterminado. Isto ocorreu depois de enviar para apreciação do Conselho Editorial de uma grande casa publicadora multinacional, os originais de um livro e recebi uma proposta leonina. Editariam 2.000 (dois mil ) exemplares. Enquanto autor, no entanto, me obrigavam mediante contrato a comprar 1000 (mil) exemplares. Desses mil comprados do meu bolso, eu seria proibido de vendê-los no atacado ou varejo para livrarias, bancas etc. Somente em possíveis seminários que viesse a ministrar sobre o assunto (criação literária) como tenho feito, em colégios e faculdades. Dos mil que sobrariam dos 2.000 editados, eu receberia 10% por direitos autorais. Oras, isto é o fim da literatura nacional, como já alardearam alguns, ainda que isto não seja verdade, pois a arte literária é eterna e nós, escritores, somos teimosos até à raiz dos cabelos. Aconselharia, data vênia, que os colegas escritores não gastassem tinta e papel para enviar originais enquanto não tiverem um programa, como o Jô Soares, ou a fama de ex-presidentes da República, a saber, Sarney e Fernando Henrique. Escrevam seus originais, procurem uma gráfica e saiam a campo. Somos os camelôs da cultura. Não nos envergonhemos de nossas edições de autor, para as quais muitos torcem o nariz. Para colocar em termos práticos, se o autor apresentar algo realmente bom, e vender 4 ou 5 mil exemplares do seu produto, será mais vantajoso, economicamente,do que através de um editor vender 50.000 volumes. Já que a questão é econômica, encaremo-la como tal e vamos à luta. Aí talvez vamos chegar ao tempo de o editor mesmo ter que aprender a escrever ou ficar pagando direitos autorais aos autores estrangeiros.
(Geraldo Generoso – geraldo156@itelefonica.com.br
O autor é escritor e jornalista - Especial para o Site TRIBUNA DO POVO)
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