A CRUZ, a ROSA
e a ROSA CRUZ
Porque choras de que existe
A terra e o que a terra tem?
Tudo nosso – mal ou bem –
É fictício e só persiste
Porque a alma aqui é ninguém.
Não chores! Tudo é o nada
Onde os astros luzes são.
Tudo é lei e confusão.
Toma este mundo por strada
E vai como os santos vão.
Levantado de onde lavra
O inferno em que somos réus
Sob o silêncio dos céus,
Encontrarás a Palavra,
O Nome interno de Deus.
E, além da dupla unidade
Do que em dois sexos mistura
A ventura e a desventura,
O sonho e a realidade,
Serás quem já não procura.
Porque, limpo do Universo,
Em Christo nosso Senhor,
Por sua verdade e amor,
Reunirás o disperso
E a Cruz abrirá em Flor.
(Poema datado de 6 de fevereiro de1934,
de Fernando Pessoa)
Este é um poema que nos aparece dividido em três partes – como uma trilogia de sonetos – inspirado numa descrição do Túmulo de Christian Rosencreutz constante da “Fama Fraternitatis”, primeiro manifesto público da ou sobre a Fraternidade Rosacruz.
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