sexta-feira, 27 de abril de 2012

Artigo: A Vaca e a Cenoura - A/01156

A VACA E A CENOURA

JAMES EPHRAIM LOVELOCKé um daqueles superdotados que nos põe a todos felizes por pertencermos à espécie humana e um tanto invejosos da sua sabedoria. Investigador em várias áreas, inventor e colecionador de doutoramentos – Física, Química, Medicina, Matemática –, a sua fama em todo o mundo derivou sobretudo das suas originais propostas, por vezes muito controversas, como ambientalista.

É o grande arauto da chamada Hipótese Gaia, que procura explicar o comportamento sistémico do nosso planeta, olhado como um superorganismo. Contra a corrente dominante entre os ambientalistas, é um defensor acérrimo do nuclear, que considera a única alternativa realista aos combustíveis fósseis para dar resposta às enormes necessidades energéticas da humanidade sem aumentar os gases com efeito de estufa.

Lembrei-me de o trazer aqui, não propriamente para desenvolver as questões atrás referidas, mas porque me lembrei duma sua frase bem-humorada. Perguntado por que se tornara vegetariano, respondeu: «É que, quando se lhe espeta uma faca, uma vaca grita mais do que uma cenoura».

Isto transporta-nos para uma dimensão ética da vida, mas também não é disto que quero falar. Competentes nesta área serão as pessoas ligadas ao PAN, o partido dos amigos dos animais. Eu prefiro falar para os pecadores, principalmente para aqueles que são capazes de tornar o mundo melhor sem deixarem de ser egoístas.

Longe de mim, creiam, querer converter os meus leitores às delícias da alface e da cenoura, mas já pensaram que as grandes manadas de gado bovino causam mais prejuízo ao buraco do ozono do que a circulação automóvel?

Meus amigos, é preciso ser egoísta, mas consequentemente.

Acham racional que, na alimentação dos animais que transformamos em alimento, se gastem quatro quilos de proteínas vegetais para obter apenas um quilo de proteína animal?

E sabem que mais? As próximas guerras de países vizinhos terão como motivo a disputa da água, que se está a transformar num bem demasiado escasso. Antigamente, no interior do país, era vulgar um vizinho matar à sacholada o outro que lhe desviava o rego de água das regas. É isto que se vai passar entre países vizinhos, se não arrepiarmos caminho.

A sachola ficou só para as batatas quando a água pareceu ficar abundante pelo recurso a represas, barragens e furos artesianos. Porém, quando se percebe que um dado campo suscetível de produzir 100 toneladas de batata, transformado em pasto não conseguirá sequer produzir uma tonelada de carne bovina, percebe-se também como somos irracionais na produção, principalmente se soubermos que um quilo dessa carne nos pode custar, no mínimo, 10 mil litros de água.

Devíamos levar o nosso egoísmo a sério. Já viram que, para produzir um quilo de arroz, precisamos de cerca de 2 mil litros de água, ao passo que um quilo de carne bovina nos exige cinco vezes mais?

Ser egoísta pode ser uma grande virtude.

(Abdul Cadre – Portugal)

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