Curiosa é a figura do taumaturgo Alessandro Cagliostro, uma das mais contraditórias e expressivas personalidade dos bastidores espiritualistas do "século das luzes". Nascido em 1748, sua curta e intensa existência encerrou a transição de um longo ciclo de obscurantismo e o alvorecer de novas e sublimes luzes espirituais.
Iniciado e iniciador, alquimista, místico, mestre maçom, médico, farmacêutico, curador de doenças do corpo e da alma, poliglota, venerado por nobres e indigentes, era, no entanto, difamado e tido por alguns como revolucionário, charlatão, herege, infame...
Magnetismo superior ao de Mesmer, mais caridoso que Saint-Martin
A verdade é que, a despeito do mito e do mistério em torno de sua pessoa, Cagliostro foi possuidor de um magnetismo superior a Mesmer, dotado de capacidades morais e espirituais, verdadeiro médium de seu tempo.
Peregrino de andanças sem-fim, sua presença era solicitada, com grande prestígio, por entre o luxo das cortes e o infortúnio dos casebres, sempre cumprindo seu ideal de servidor.
Suas curas eram extraordinárias. Oferecer de graça o que de graça recebera, era o seu lema, jamais aceitando qualquer tipo de pagamento pelos benefícios prestados, ao contrário, distribuindo os próprios bens aos necessitados que o cercavam.
Numa carta escrita pelo suíço Barkli lê-se que "ele é ainda melhor do que o conhecido Louis Claude de Sint-Martin (o Filósofo Desconhecido), em matéria de caridade. Os pobres, os aleijados, indigentes e abandonados encontravam sempre, em Cagliostro, o socorro de que necessitavam".
O Evangelho de Cagliostro
Sua popularidade chegou a ponto de ter seu nome imortalizado por um repórter de Revoredo, Itália, num livro intitulado O Evangelho de Cagliostro.
O ilustre erudito espírita, Dr. Canuto Abreu, em sua revista Metapsíquica, refere-se a Cagliostro como homem de grande prodigalidade que "tratava o pobre com afeição cristã, ouvindo-o atenciosamente, e o rico com altivez, negando-lhe, às vezes até a palavra, quando algum mais atrevido lhe pretendia fazer valer o seus títulos nobiliárquicos ou suas posses".
As sessões espiríticas de Cagliostro
Assim descreve dr. Canuto sobre seus dons supranormais: "O agente metapsíquico produzia, por intermédio de Cagliostro, verdadeiras maravilhas, que não podem ser postas em dúvida diante do atestado de inúmeras pessoas conceituadas, salvo rasgando a história da Revolução Francesa. Ficaram célebres as suas ceias em que tomaram parte os mais prestigiosos vultos da Europa, e durante as quais realizava empolgantes sessões espíriticas. Não só as almas dos mortos como as dos vivos obedeciam à evocação poderosa de Cagliostro, e vinham manifestar-se, ora através de um globo cheio dágua, ora por intermédio de suas colombinas, que seriam mais tarde chamadas médiuns. Vozes diretas, aparições, até materializações tangíveis foram descritas por vários assistentes." (...)
Um profeta da Revolução Francesa
Críticos, historiadores infensos ao novo espiritualismo nascente, o próprio processo inquisitorial que Roma cuidadosa e paciente preparou contra Cagliostro para poder matá-lo, atestam o seu grande poder metapsíquico.
"Ele e seus companheiros foram acusados de ter preparado com sortilégios essa revolução, a queda da Bastilha, a perseguição do clero, etc. Mas o certo, que ressalta da própria sentença do Papa, é que Cagliostro foi apenas clarividente como Gazzotte e a senhora Lille, que no mesmo período profetizaram os diversos acontecimentos que se iam dar".
O crime de ser médium
Sua teologia sintetizava-se em preceitos simples e inteligíveis: amar e adorar o Eterno, de todo o coração; amar e servir ao próximo, fazendo-lhe todo o bem de que se for capaz e consultar a própria consciência, em todas as ações.
Em 26 de agosto de 1795, a Revolução Francesa, prevista por ele, encontra-o agonizante, em coma, encarcerado no Castelo de Sant´Angelo, em Roma, pelo crime de ser médium.
"Quando o povo, triunfando do clero e da nobreza, marchou para libertar o seu médium, os santos inquisidores de Roma disseram-lhe:
— José Bálsamo (um de seus pseudônimos) acaba de morrer.
Foi a última vítima da Inquisição".
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