CADEIA DE UNIÃO
O Ir.’. Sócrates apresentou recentemente excelente trabalho sobre Cadeia de União. Seu estudo versou sobre os aspectos simbólicos da mesma, tal como as várias interpretações do dossel. O que pretendemos aqui, é aprofundar a abordagem simbólica dessa que é, sem dúvida, uma prática muito generalizada das lojas maçônicas.
Criada para a transmissão da Palavra Semestral e encerramento dos banquetes, acabou se tornando instrumento de união afetiva e de sintonização espiritual entre os Irmãos de muitas Lojas, pelo que seu estudo merece atenção, já que é um fato social instituído.
DO PONTO DE VISTA DA FÉ
Mesmo de um ponto de vista não religioso no sentido ortodoxo, o magnetismo é prática antiqüíssima e a aplicação das energias para obter resultados físicos também.
Mesmo a fé religiosa tradicional também se fundamenta, em sua prática, na crença desse magnetismo. Cite-se como exemplo a imposição das mãos, que é prática corrente desde os inícios do cristianismo, inclusive mencionada inúmeras vezes nas Escrituras, tanto no Velho quanto no Novo Testamentos. Impõem-se as mãos para abençoar; os apóstolos impunham as mãos para curar; os bispos impõem as mãos para transmitir o carisma (na sagração de um novo sacerdote), etc.
Nos sacramentos há sempre uma formula tríplice, seja na Igreja moderna seja nos antigos rituais mágicos e místicos: o gesto, a palavra e a fé. Assim Cristo impunha as mãos e repetia: vá, a tua fé ter salvou. As bênçãos de objetos e amuletos, também obedecem ao mesmo ritual, contendo sempre esses três elementos: gestos, palavras e fé.
A fé, definida aqui como confiança ou atitude mental positiva em relação ao que se pretende atingir, é o elemento onipresente nas práticas ritualísticas.
DO PONTO DE VISTA DOS FATOS
Qualquer observador atento pode notar que nossas atitudes são reforçadas por palavras. Nossas práticas sempre se justificam por um discurso.
A palavra, o verbo, para as filosofias iniciáticas, inclusive a maçônica, é de fundamental importância. Veja-se que nosso conhecimento do mundo e nossa reação ao mesmo são mediados pelos conceitos. Pensar positiva ou negativamente altera visivelmente nosso humor. Uma guloseima nos causará asco se a consideramos “porcaria”. A prática dos chineses de comer ratos e insetos nos dá nojo apenas porque nosso condicionamento cultural é diferente. Nossa “certeza” de que nossa religião é a única correta se apóia apenas no fato de que fomos educados para acreditar assim e não de forma diferente.
Além disso, sabemos que a energia é transmissível. Uri Geller entorta talheres e faz andar relógios em público. Há pessoas que conseguem ver através de paredes forradas com chumbo, como se demonstra em insuspeitáveis laboratórios de parapsicologia. As emoções, sabem os médicos, nos causam úlceras e enfarto... e também curam. Não são desconsideráveis as pesquisas que indicam a relação estreita entre as imagens mentais que são alimentadas por anos pelas pessoas e o desenvolvimento de doenças, notadamente o câncer.
Os testes feitos com hipnose demonstram à larga o poder do condicionamento mental. Há inúmeras pesquisas médicas sérias demonstrando o quanto há de poder na oração.
DO PONTO DE VISTA DA CIÊNCIA
Além da transmissão da palavra semestral, a Cadeia de União é formulada para auxiliar (se esse for um bom termo) nossos irmãos em suas dificuldades. Assim, pede-se pela saúde e pela paz de alguém e invocam-se as bênçãos do G\A\D\U\ para os que amamos.
Que valor tem essa prática? Será apenas resquício indesejável em nossa Ordem da influência do misticismo medieval ou da Igreja? Aparentemente não é apenas isso, e há fatos que sustentam esse argumento.
Já nos referimos aos fatos do cotidiano que nos mostram a existência da energia e a possibilidade de canalizá-la. Já nos referimos também à tradição mágica, mística e religiosa sobre a fé na imposição das mãos e na possibilidade de transmitir energia, dons e carismas.
Mas o que nos diz a ciência?
Fritjof Capra, físico de renome mundial, em O Ponto de Mutação[1], faz a crítica da concepção newtoniana da ciência moderna, que já havia iniciado em O Tao da Física, procurando apontar alguns de seus equívocos. Nossas concepções de espaço, tempo, mente e matéria como campos separados e regidos por leis mecânicas, são profundamente abaladas pela demonstração de novos avanços da Física.
Aliás, bem antes dele um estudioso acima de qualquer suspeita, Albert Einstein, já havia demonstrado matematicamente a relatividade do tempo e do espaço.
A moderna Teoria Sistêmica, de um ponto de vista holístico, vem acumulando provas sobre a falsidade de nossos conceitos lineares a respeito desses campos e vem, também, demonstrando a coexistência e a simultaneidade de todos os eventos. Carl Jung, o pai da Psicologia Analítica, estudou os fenômenos tidos como “coincidência” e aceitou que eles não são apenas frutos de um acaso. Chamou a esse fenômeno de sincronicidade.
Rupert Sheldrake[2], biólogo, em A New Science Of Life, estuda o que denominou de “causação” isso é, a possibilidade de comunicação através do espaço sem meios físicos aparentes. Ficou bastante conhecida sua experiência com a Teoria do Centésimo Macaco. Um grupo de estudiosos jogava batata doce numa pequena ilha do Japão, habitada apenas por uma tribo de macacos, para estudar a reação de seus hábitos alimentares em face de um elemento desconhecido. Um dia uma macaca aprendeu a lavar a batata doce e foi, com o tempo, imitada pelos demais macacos. O inesperado da experiência foi a descoberta, totalmente acidental, de que numa ilha dos arredores, sem comunicação com essa, os macacos passaram também a lavar os alimentos (eles não haviam recebido as batatas doces) sem que ninguém os tivesse ensinado, hábito totalmente estranho , até então, a esses animais.
Não bastassem todas essas evidências, da ciência física às humanas, temos, ainda, a moderna descoberta do holograma. Após ela, não mais se pode conceber a realidade como um conjunto de partes independentes ou separadas, mas temos que pensar em uma unidade em íntima relação, na qual cada parte contém o todo tanto quanto o todo contém cada parte.
A partir dessa descoberta e de suas implicações, a tradicional concepção iniciática do UM conter o TRÊS e de o TRÊS ser UM não é mais questão de “crença” ou de “crendice“, mas uma realidade com fundamento científico. Dessa forma, já não podemos mais nos conceber como seres separados física e mentalmente, mas temos que aprender a nos vermos como partículas de um único todo, em contínua relação e interferência.
DO PONTO DE VISTA DA TÉCNICA
A Cadeia de União, além de constituir-se prática defensável enquanto instrumento de fé e de concentração/transmissão de energias, tanto pelos fatos quanto pela ciência, também apresenta a triplicidade de elementos que apontamos no início: nos unimos pela palavra, que materializa no cósmico as nossas mais puras intenções; realizamos o gesto, na formação da bateria de energia, onde os pés em esquadria simbolizam a retidão de propósitos, a mão direita que dá se une à esquerda que recebe, o lado da intuição (Yin) se sobrepõe ao da pura racionalidade (Yang). O terceiro elemento, a fé, é o que pretendemos reforçar ainda mais aqui, com esta reflexão.
[1] CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Ed. Cultrix, 1983.
[2] KOESTLER, Arthur. Jano - uma sinopse. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1981.
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