Tratamento da Malária,
uma Espera de 50.000 anos
Hiram Reis e Silva, Bagé, RS, 09 de setembro de 2011.
A quinquina ou Kina-kina era conhecida na Europa como “casca do Peru”. Foi no Peru que os nativos descobriram suas propriedades antimaláricas. A tradição reporta que sua nova denominação levou o nome da condessa de Chinchon, mulher do Vice-rei do Peru, que foi curada pela casca. A Condessa introduziu a droga na Espanha onde ficou conhecida como “pó da condessa”.
- Pequeno Histórico
Giovanni Maria Lancisi, em 1717, verificou que os habitantes dos pântanos eram mais suscetíveis à doença e resolveu renomear a doença conhecida até então como paludismo para malária que significa “maus ares”.
Embora a malária venha infectando os seres humanos há pelo menos 50.000 anos a doença se alastrou com o desenvolvimento da agricultura. A agricultura propiciou um crescimento populacional desenfreado e a destruição dos ambientes naturais causando um aumento sem precedentes do número de mosquitos Anopheles dando início a uma verdadeira epidemia que ainda hoje persiste.
Na América do Sul, os nativos peruanos, usavam a casca da árvore da Cinchona para o tratamento da malária. O médico e naturalista britânico Richard Spruce foi contratado pelo governo Indiano para localizar e estudar o gênero Cinchona, quinino - único antimalárico conhecido na época - e coletar sementes e mudas para cultivar essa espécie nas colônias britânicas asiáticas. Mesmo com o rígido controle das autoridades e proprietários rurais peruanos conseguiu identificar as melhores árvores, coletar as suas sementes na época adequada, compreender como cultivá-las e, exportar o material coletado. O trabalho consumiu dois anos de sua profícua existência e neste período realizou estudos e recolheu amostras na área que possuía a maior quantidade e qualidade de seu objeto de estudo - a cinchona. Enviou mais de cem mil sementes, do porto de Guaiaquil para a Índia e, em 1861, despachou 637 mudas que ele próprio havia cultivado. Graças ao seu esforço a indústria de quinino do Sudeste asiático se desenvolveu, gerando divisas importantes aos países produtores e, em contrapartida, rendendo, para Spruce, uma modesta pensão anual. Em decorrência desse trabalho milhões de vidas, no mundo inteiro, foram salvas. O uso indiscriminado da quinina aumentou significativamente a resistência do parasita.
- Malária
Fonte: Jornalista Pablo Ferreira, da Agência Fiocruz de Notícias.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, hoje em dia, a malária é de longe a doença tropical e parasitária que mais causa problemas sociais e econômicos no mundo e só é superada em número de mortes pela AIDS. Também conhecida como paludismo, a malária é considerada problema de saúde pública em mais de 90 países, onde cerca de 2,4 bilhões de pessoas (40% da população mundial) convivem com os risco de contágio. Anualmente, sobretudo no continente africano, entre 500 e 300 milhões são infectados, dos quais cerca de um milhão morrem em consequência da doença. No Brasil, principalmente na região amazônica a malária registra por volta de 500 mil casos por ano - no entanto, aqui a letalidade da moléstia é baixa e não chega a 0,1% do número total de enfermos.
A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium e cada uma de suas espécies determina aspectos clínicos diferentes para a enfermidade. No caso brasileiro, destacam-se três espécies do parasita: o P. falciparum, o P. vivax e o P. malarie. O protozoário é transmitido ao homem pelo sangue, geralmente por mosquitos do gênero Anopheles ou, mais raramente, por outro tipo de meio que coloque o sangue de uma pessoa infectada em contato com o de outra sadia, como o compartilhamento de seringas (consumidores de drogas), transfusão de sangue ou até mesmo de mãe para feto, na gravidez. Apesar da malária poder infectar animais como aves e répteis, o tipo humano não ocorre em outras espécies (mesmo ainda sem comprovação, há a suspeita de que certos tipos de malária possam ser transmitidos, sempre via mosquito, de macacos para humanos).
Em comum, todas as espécies de Plasmodium atacam células do fígado e glóbulos vermelhos (hemácias), que são destruídos ao serem utilizados para reprodução do protozoário. Quando o mosquito pica o homem, introduz em sua corrente sanguínea, por meio de sua saliva, uma forma ativa do Plasmodium, denominada esporozoíta e que faz parte de uma de suas fases evolutivas. Uma vez no sangue, os esporozoítas rumam para o fígado, onde penetram as células hepáticas para se multiplicarem, dando origem a outra fase evolutiva chamada merozoíta. Uma parte dos merozoítas permanece no fígado e continua a se reproduzir em suas células, a outra cai novamente na corrente sangüínea e adentra as hemácias para seguir com o processo reprodutivo. As hemácias parasitadas também são destruídas e originam ora outros merozoítas, ora gametócitos, células precursoras dos gametas do parasita e que são tanto femininas quanto masculinas.
O mosquito Anopheles torna-se vetor da malária a partir do momento que ingere gametócitos (femininos e masculinos) de um indivíduo infectado. Dentro do mosquito, os gametócitos tornam-se gametas e fecundam-se, originando o zigoto, que atravessa a parede do estômago do inseto e transforma-se em oocisto, tipo de célula-ovo. Após algum tempo, o oocisto se rompe e libera novos esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do mosquito estando assim prontos para infectar um novo indivíduo. (...)
- Descaso com as pesquisas
Há mais dinheiro sendo investido em remédios contra a calvície do que no combate à malária. Calvície é algo terrível, que aflige homens ricos. Por isso, esse assunto se tornou uma prioridade (Bill Gates)
Gates, em fevereiro de 2009, criticou o descaso das autoridades científicas na busca de um tratamento efetivo contra a malária, e afirmou que a falta de incentivos às pesquisas se devia ao fato da doença atingir principalmente pessoas pobres em países subdesenvolvidos causando mais de um milhão de mortes todos os anos.
Aos organismos de pesquisa do primeiro mundo não interessa investir seus recursos neste tipo de pesquisa já que 80% das mortes por malária ocorrem em países pobres da África. A estes institutos não interessa o fato de que o P. falciparum é responsável por 18% das mortes de crianças com menos de cinco anos de idade nesta região.
Por isso é que achamos importante divulgar a notícia abaixo que traz um pouco de experança aos bilhões de seres humanos que vivem nas áreas tropicais e subtropicais de todo o mundo.
- Cientistas americanos descobrem
elemento vital ao parasita da malária
Fonte: O Estadão, 01 de setembro de 2011
Descoberta abre uma porta para novos
tratamentos contra a doença
WASHINGTON - Cientistas descobriram um dos elementos químicos cruciais que permitem ao parasita da malária proliferar no sangue humana, o que abre uma porta para novos tratamentos contra a doença, indica um estudo publicado nesta quarta-feira a revista PLoS Biology.
O resultado da pesquisa realizada por Joseph DeRisi e Ellen Yeh, bioquímicos das universidades da Califórnia e Stanford, representa o primeiro passo para experimentar com uma nova vacina ao identificar o “Isopentenil pirofosfato”, um componente indispensável do parasita Plasmodium falciparum para construir diversas moléculas cruciais para sua subsistência.
Os cientistas desenvolverão agora uma versão debilitada deste parasita no laboratório ao qual fornecerão o componente necessário para sua sobrevivência, por sua vez eliminarão sua capacidade para produzi-lo por si mesmo.
Posteriormente, os pesquisadores inocularão essas vacinas a pessoas que vivem em regiões que sofrem com a malária. Se funcionar, o parasita modificado não adoeceria as pessoas, mas lhes permitiria desenvolver resistência para quando enfrentassem a versão real do “Plasmodium falciparum”.
“É como se tivéssemos desenhado uma bomba-relógio dentro do parasita que está pronta para explodir e, quando isso ocorre, o parasita morre”, explicou DeRisi, diretor do estudo.
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