sábado, 22 de novembro de 2008

Brincando com o Diabo - A/0162

Brincando com o Diabo
De um certo modo achei interessante as observações feitas pelo conceituado cronista Manoel Afonso, ao se referir aos abusos que cometem algumas denominações religiosas, senão a maioria, na intimidade que têm com o Diabo. Mas também algumas ressalvas precisam ser feitas, pois nem todas agem de má fé, como quis insinuar o nobre jornalista. Assim ele se expressa: “Mesmo com o diabo sendo o culpado, quem acaba pagando o pato é você. Cuidado com seu bolso! Dependendo da Igreja é melhor nem levar carteira ou talão de cheques” . E prossegue: “Se o problema era falta de igrejas, agora está resolvido. Em cada quarteirão, principalmente da periferia, tem uma. Cada qual com seu marketing. O único problema é o dízimo, cada vez mais exigido.” Diz um amigo, “desse jeito o pobre será excluído do paraíso”. O velho papo de que é um sofredor, vítima de privações já era; não é mais aceito pela nova ordem religiosa. Sem pagar esse pedágio não ganha o céu, e ponto final. É como na portaria de cinema: não pagou, fica de fora. Mas uma característica é comum à maioria dessas igrejas: demonstram estar profundamente empenhadas em combater o velho inimigo da humanidade, o diabo – que apesar de ridicularizado nas piadas do dia a dia, nas revistas de humor e nas fantasias de carnaval, parece estar em alta. E o “cara”, voltou a todo vapor. Até o presidente Hugo Chavez, ao discursar no plenário da ONU, cismou que ainda sentia o cheiro de enxofre deixado pelo “diabo Bush”. Como se vê, o diabo mete o chifre até nas relações internacionais. Quanto mais falam dele, mais ele aparece. Agora ele está moderninho; tirou os chifrinhos, as costeletas e cavanhaque. Como no filme “O Advogado do Diabo”, aderiu a globalização, usa gel, ternos bem cortados, notebook e celular. Tudo para seduzir os homens, e mulheres também. Não tem mais aquela imagem da época do nosso catecismo que relatava a tentativa dele em aplicar o “golpe da sedução” em cima de Jesus. No fundo, é nossa a culpa pelo alto Ibope dele. É só algo dar errado e soltamos a frase: “mas será o diabo?” É assim, por exemplo, quando não achamos as chaves do carro, os documentos pessoais, no pênalti perdido, na bronca do patrão ou no prato predileto do forno que passou do ponto.Mas como o diabo anda passando dos limites, botando o dedo em tudo, desde a cotação das Bolsas, variação cambial, sorte nas loterias, auto estima pessoal, decisões judiciais, avanço da medicina e indústria farmacêutica, generosidade do decote do vestido e até no comprimento da saia, nada melhor do que contar com esse formidável exercito de “salvadores da pátria” bradando palavras de ordem nos púlpitos religiosos. E nesta guerra do bem contra o mal, vale literalmente tudo para sair da zona cinzenta das “diabices”. Os milagreiros de plantão nestas igrejas curam de unha encravada a câncer. Até mesmo para quem o Viagra não faz mais efeito. Afinal, é preciso vencer o diabo, o causador destas mazelas. Se na Idade Média a Igreja Católica vendia indulgências “um lugar no céu, e promovia a Inquisição, o que ocorre aqui é a versão tupiniquim da Teologia da Prosperidade, muito presente nos Estados Unidos. Lá, o pessoal pega pesado, com a mídia sendo aliada importante para arrebanhar multidões. E os aprendizes brasileiros têm se mostrado competentes nesta atividade florescente: aproveitando da isenção de impostos e da generosidade do povo para construir verdadeiros impérios. É lógico que a crônica tem alguns exageros, mas que existem muitos grupos por aí tirando proveito dos ingênuos, com certeza têm. Tudo isso, por falta de conhecimento, o que é lamentável. Que Deus tenha misericórdia de sua gente!

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