Ecos do Silêncio
No instante de um pensamento,
minha mente turbulenta chegou
a um descanso.
O interior e o exterior,
os sentidos e seus objetos,
são completamente lúcidos.
Em uma volta completa,
esmaguei a grande vacuidade.
As dez mil manifestações surgem
e desaparecem sem qualquer razão.
(Han-shan) POR QUE PALAVRAS ?
Um monge aproximou-se de seu mestre,
que se encontrava em meditação
no pátio do templo à luz da Lua,
com uma grande dúvida:
"Mestre,
aprendi que confiar nas palavras é ilusório;
e diante das palavras,
o verdadeiro sentido surge
através do silêncio.
Mas vejo que os sutras e as recitações
são feitas de palavras;
que o ensinamento é transmitido pela voz.
Se o Dharma está além dos termos,
porque os termos são usados para defini-lo?"
O velho sábio respondeu:
"As palavras são como um dedoapontando para a Lua;
cuida de saber olhar para a Lua,
não se preocupe com o dedo que a aponta." O monge replicou: Mas eu não poderia olhar a Lua,
sem precisar que algum dedo alheioa indique?"
"Poderia," confirmou o mestre...!
"e assim tu o farás,
pois ninguém mais pode olhar a lua por ti."
As palavras são como bolhas de sabão:
frágeis e inconsistentes, desaparecem quando
em contato prolongado com o ar.
A Lua está e sempre esteve à vista.
O Dharma é eterno e completamente revelado.
As palavras não podem revelar
o que já está revelado
desde o Primeiro Princípio.
Então, o monge perguntou,
por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?
"Porque," completou o sábio,
"da mesma forma que ver a Lua todas as noites
faz com que os homens se esqueçam dela
pelo simples costume de aceitar sua existência
como fato consumado,
assim também os homens não confiam
na verdade já revelada
pelo simples fato dela se manifestar
em todas as coisas, sem distinção.
Desta forma,
as palavras são um subterfúgio,
um adorno para embelezar e atrair nossa atenção.
E como qualquer adorno,
pode ser valorizado mais do que é necessário."
O mestre ficou em silêncio
durante muito tempo.
Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.
(Paulo Sarmentto)
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