Pode surgir um novo Ministério
Assembleia de Deus
Ministério de Salém
São públicas e notórias as divisões nos grupos religiosos, tanto na senda evangélica, nos chamados Ministérios, como noutras religiões no Brasil e no mundo. As divisões surgem de repente e as explicações são dadas com a maior naturalidade. Isso ocorre no catolicismo com as chamadas congregações e todos conhecem como tudo começa. Na prática é a disputa pelo poder. Cada um quer demarcar o seu território, estabelecendo alguns critérios para dominar as massas. Quando um movimento se desenvolve, o seu líder não quer mais ficar submisso a outro comando, e parte para a independência, nem que seja como um subgrupo. É o que se vê hoje, como exemplo, com os muitos títulos que recebem as subdivisões na Assembleia de Deus e noutras denominações, como Batista e tantas outras. Isso também ocorre nas pequenas cidades, por ingerência de alguns pastores. Mundo Novo tem a sua divisão e dentro de algum tempo pode surgir um novo desdobramento, por iniciativa de alguns jovens descontentes com a administração na Assembleia de Deus Missões. Daí, pode surgir um grupo com o nome de Assembleia de Deus - Ministério de Salém. Para tanto, são amplas as justificativas. A origem, todos podem imaginar como funciona.
As bases são fundamentadas no texto histórico, aqui comentado.
Capitulo I
Esta é a história de Salém segundo ouvi dos lábios de Melquisedeque porocasião da festa de Sukot, quinze dias depois do livramento de Ló e suas filhas. Tudo começou com um sonho no coração de um homem chamado Adonias; Elepossuía de muitas riquezas, mas a nada prezava mais que a justiça e apaz que nascem da sabedoria e do amor. Cansado com as injustiças que predominavam por toda a terra de Canaã,Adonias resolveu edificar um reino que fosse regido por leis de amor ede justiça. O nome da capital desse reino seria Salém, a Cidade da Paz.Os súditos de Salém não empunhariam arcos e flechas, mas seriamtreinados na arte musical; Cada habitante de Salém teria sempre aoalcance de suas mãos um instrumento musical, para expressar por meiodele a paz e a alegria daquele novo reino. Juntos, formariam umapoderosa orquestra na luta contra a desarmonia que nasce do orgulho e doegoísmo.O primeiro passo de Adonias para a concretização de seu plano, foielaborar as leis do novo reino, as quais ele as escreveu em umpergaminho. Os súditos de Salém não poderiam mentir, furtar, odiar, nemmatar seus semelhantes. O orgulho e o egoísmo eram apontados como causade todo o mal, portanto, não poderiam existir naquele lugar de paz..As leis do pergaminho requeriam a prática da humildade, da sinceridade,da amizade, e, acima de tudo, do amor que é a maior de todas asvirtudes.Depois de registrar no pergaminho as leis que regeriam aquele reino,Adonias passou a arquitetar Salém. Seria uma cidade a princípio pequena,com habitações para mil e duzentas pessoas. Como lugar de suaedificação, foi escolhida uma região alta de Canaã, ao ocidente do Montedas Oliveiras.Em pouco tempo, a realização de Adonias começou a atrair pessoas detodas as partes que, de perto e de longe, vinham para conhecerem ospalácios e as mansões que estavam sendo edificados. Admirados ante abeleza daquela cidade tão alva, os visitantes perguntavam sobre quemseriam os seus moradores. Adonias mostrava-lhes o pergaminho, dizendoque Salém destinava-se aos limpos de coração - aqueles que estivessemdispostos a obedecerem suas leis.A História de Salém.
Capitulo II
A edificação da cidade foi finalmente concluída e Salém revelou-seformosa como uma noiva adornada, à espera de seu esposo.Assentado em seu trono, Adonias examinava agora os numerosospretendentes a súditos que chegavam de todas as partes. Aqueles que,prometendo fidelidade às leis, eram aprovados, recebiam três dotes dorei: o direito à uma mansão, vestes de linho fino e um instrumentomusical no qual deveriam praticar. A cidade ficou finalmente repleta de moradores. Cheio de alegria,Adonias convocou a todos para a festa de inauguração de Salém, nodecorrer da qual proclamou um decreto que determinaria o futuro daquelereino, dizendo:
- A partir deste dia, que é o décimo do sétimo mês, seis anos serãocontados, nos quais todos os moradores serão provados. Somente aquelesque permanecerem leais, progredindo na prática das leis do pergaminho,serão confirmados como herdeiros deste reino de paz. Aqueles que foremenlaçados por culpas e transgressões, serão banidos pelo juízo.As palavras do rei levou a todos a um profundo exame de coração, ealegraram-se com a certeza de que alcançariam vitória sobre todo oorgulho e egoísmo, que são as raízes de todos os males.Adonias tinha um único filho a quem dera o nome de Melquisedeque. Abeleza, ternura e sabedoria desse filho amado, haviam sido suainspiração para a edificação fundação de seu reino.Melquisedeque tinha doze anos de idade, quando Salém foi inaugurada. Eraplano de Adonias coroá-lo rei sobre os súditos aprovados, ao fim dosseis anos. Este plano, o manteria em segredo até o momento devido.O príncipe, com suas virtudes e simpatia, tornou-se logo muito queridode todos em Salém. Ele tinha sempre nos lábios um sorriso e uma palavrade carinho. Apreciava estar junto aos súditos em seus lares,recitando-lhes as leis do pergaminho em forma de lindas canções quevivia a compor. Sua presença trazia ao ambiente uma atmosfera defelicidade e paz. Esse amado príncipe possuía, de fato, todas asvirtudes necessárias para ser rei de uma Salém vitoriosa.Adonias edificara uma mansão especial junto ao palácio, com o propósitode ofertá-la ao súdito cuja vida expressasse mais perfeitamente as leisdo pergaminho. Diariamente ele observava os moradores, procurando entreeles essa pessoa a quem desejava honrar.Passeava pelas alamedas de Salém, quando, por entre o trinar depássaros, Adonias ouviu uma voz semelhante a de seu filho. Ao voltar-separa ver quem era, encontrou um belo jovem que cantarolava uma canção.Ao contemplar em sua face o brilho da sabedoria e da pureza, Adoniasalegrou-se por haver encontrado aquele a quem poderia honrar. Aquelejovem, que era uma cópia fiel do príncipe, chamava-se Samael.Colocando-lhe um anel no dedo, o rei conduziu-o ao palácio, onde,recebido por Melquisedeque que ofereceu-lhe muitos presentes, entre osquais o direito de estar sempre ao seu lado.Adonias preparou um grande banquete em honra a Samael, para o qual todosforam convidados. Ao contemplá-lo ao lado do rei, os súditos o aclamaramcom alegria, acreditando ser o próprio príncipe.Exaltavam com júbilo as virtudes daquele formoso jovem, quandorevelou-se Melquisedeque, posicionando-se com um sorriso à direita deseu pai.No banquete, Samael foi honrado por todos. Realmente ele era digno deresidir na mansão do monte, pois havia nele um perfeito reflexo dasvirtudes que coroavam o amado príncipe.
Capitulo III
Salém crescia em felicidade e paz.Com alegria, os súditos reuniam-se acada dia ao amanhecer para ouvirem, cantarem e tocarem as sublimescomposições de Melquisedeque, que inspiravam atos de bondade e paz.Entre as amizades nascidas e fortalecidas em virtude da músicaharmoniosa, sobressaia aquela que unia o príncipe a Samael. Desde quepassara a residir na mansão do monte, Samael tornara-se seu companheiroconstante. Passavam longas horas juntos, meditando sobre as leis dopergaminho.Com admiração, o súdito honrado via o filho de Adoniastransformar aquelas leis em lindas canções. As doces melodias nasciamdos seus lábios como o perfume de uma flor.Consciente da importância da música na preservação da harmonia e paz emSalém, o príncipe, além do canto, passou a dedicar-se à músicainstrumental, sendo o seu instrumento preferido o alaúde. Era por meiodesse instrumento que conseguia expressar com maior perfeição a riquezade seu íntimo.Dos seis anos de prova, cinco, finalmente, passaram. Adonias, feliz porver que até ali todos os habitantes de Salém haviam permanecido leaisaos princípios contidos no pergaminho, convocou-os para um banquete, noqual faria importantes revelações.Tendo tomado seus lugares diante do trono, os súditos, com alegriauniram as vozes entoando os cânticos da paz, sendo regidos por Samael.Depois de ouvi-los, o rei, emocionado, dirigiu-se a seu filho,abraçando-o em meio aos aplausos da multidão agradecida. Todosreconheciam que a paz e a alegria em Salém, eram em grande medidadevidas ao amor e dedicação do querido príncipe, que era o autordaquelas doces canções.Naquele momento de reconhecimento e gratidão, Adonias revelou os seusplanos mantidos até então em segredo.Com voz pausada, disse-lhes:
- Súditos deste reino de paz, minh’alma está repleta de alegria porcontemplar nesse dia vossas faces mais radiantes que outrora. Vossasvestes continuam alvas e puras, como quando as recebestes de minhasmãos. A harmonia de vossas vozes e instrumentos, hoje são maiores.Tendo dito estas palavras, o rei acrescentou com solenidade:
-Um ano de prova ainda resta, ao fim do qual sereis examinados.Permanecendo fiéis como até aqui, sereis honrados confirmados comosúditos deste reino de paz. Contudo, se alguém for achado em falta, serábanido, ainda que este julgamento nos traga muita tristeza e sofrimento.As palavras do rei levaram os súditos a uma profunda reflexão. Todos,examinando-se, indagavam reverentes: - Estaremos aprovados?!Certos de que seriam vitoriosos, pois amavam Salém e suas leis, uniramas vozes num cântico expressivo de fidelidade. Ao terminarem o cântico,Adonias revelou-lhes seu grande segredo:- Aqueles que forem aprovados, herdando este reino de paz, receberãocomo rei o meu filho , a quem darei o trono glorificado dessa Salémvitoriosa. A revelação do rei foi aclamada por todos com muito júbilo. Adonias,contudo, ainda não lhes revelara todo o seu plano, por isso pedindo-lhessilêncio, prosseguiu:- O meu filho empunhará um cetro especial, no qual selarei todo odireito de domínio seu cetro , simbolizando toda a harmonia, será umalaúde.Diante desta revelação que a todos sensibilizou, o príncipeprostrando-se aos pés de seu pai, chorou motivado por muita alegria. Enquanto isto, todos o aplaudiam com euforia, ansiando ver o raiar dessedia em que a paz seria vitoriosa.Adonias, chamando para junto de seu filho a Samael, concluiu dizendo:- No governo dessa Salém vitoriosa, tenho proposto fazer de Samael oprimeiro depois de Melquisedeque. A ele será confiado o pergaminho dasleis, devendo ser o guardião da honra desse reino triunfante.
Capitulo IV
Samael, ao conhecer os planos de Adonias quanto ao futuro de Salém,encheu-se de euforia. Contemplava agora risonho aquela cidade sem igual,imaginando seu futuro de glória. Considerando as palavras do rei, de queele seria o segundo no reino, deixou ser dominado por um sentimento deexaltação. Ele, que até ali, em obediência às leis do pergaminho, viverauma vida de humildade, começava a orgulhar-se de sua posição. Em seudevaneio sentia-se junto ao trono, tendo os súditos de Salém a seus pés,aclamando com louvores sua grandeza. Samael, totalmente dominado poresse sentimento, não dava por conta de que estava sendo conduzido paraum caminho perigoso. O orgulho que o seduzira, estava gerando o egoísmoque logo se manifestaria em cobiça.Uma semana após a revelação de Adonias, os súditos promoveram uma festaem homenagem a Melquisedeque, o futuro rei de Salém. Vendo-o aclamadopor tantos louvores, Samael teve o coração tomado por um estranhosentimento de inveja, fruto do orgulho e do egoísmo. Não podia suportaro pensamento de ser deixado em segundo plano. Não era ele tão formoso esábio quanto o príncipe?! Era quase impossível disfarçar tal sentimentode infelicidade.Outrora, Samael encontrara indizível prazer nos momentos em que, ao ladodo príncipe, recitava as leis contidas no pergaminho, que eramtransformadas em lindas canções. Agora, tais momentos tornaram-sedesagradáveis, pois aqueles princípios contrariavam os seus ideais.Decidiu, contudo, não revelar seus sentimentos de revolta. Suportaria oantiquado pergaminho até que, com sua autoridade, pudesse bani-lo donovo reino que seria estabelecido. Não seria ele o guardião daquelasleis? Essa "vitória" procuraria alcançar mediante sua influência esabedoria.Julgando poder influenciar o filho de Adonias com seus sonhos degrandeza, Samael aproximou-se dele com euforia, e passou a falar-lhe dasglórias do reino vindouro, onde os dois, cobertos de honras,desfrutariam dos louvores de uma Salém vitoriosa. Seriam eles os heróisdo mais perfeito reino estabelecido entre os homens.As delirantes palavras do súdito honrado trouxeram preocupação etristeza ao coração do jovem príncipe, pois não refletiam osensinamentos de amor e humildade do pergaminho.Vendo o seu íntimo amigo em perigo, Melquisedeque, com uma ternurajamais revelada, conduziu-o para junto do trono, onde, tomando opergaminho, passou a ler compassadamente os seguintes parágrafos:
- O reino de Salém será firmado sobre a humildade ,pois esta virtude é abase de toda verdadeira grandeza.A humildade é fruto do amor, sendo contrária ao orgulho, que pode manteruma criatura presa ao pó, fazendo-a contentar-se com suas limitações,iludindo-a como se as mesmas fossem de infinito valor.A humildade consiste no esquecimento de si, e este, numa vida deabnegado serviço pelos semelhantes.Samael, esforçando-se para encobrir sua indignação ante a leitura dopergaminho que para ele era ultrapassado, disse ao príncipe, em tom deconselho amigo:
- Meu bom companheiro, reinaremos numa Salém vitoriosa, que fulgurarámuito acima deste pergaminho ,cujos princípios foram cumpridos fielmentenesses anos de prova. A plena liberdade não será a glória de Salém? Poissaiba que, completa liberdade não coexistirá com estas leis, cujoobjetivo encerra-se ao fim dos cinco anos. Caberá a nós dois coroarmosSalém com a honra de uma total liberdade, que gerará uma felicidade semfim. Tal liberdade é impossível existir sob as limitações do pergaminho.O filho do rei ficou muito abalado ante as palavras de seu amigo, queevidenciavam loucura. Como libertá-lo desse caminho de morte?!Ninguém em Salém, além de Melquisedeque, conhecia a triste condição deSamael. Com paciência, o príncipe procurava conscientizá-lo do realvalor do pergaminho, cujas leis não podiam jamais ser alteradas, poisisto seria o fim de toda a paz.Os conselhos do príncipe despertaram finalmente o seu coração. Meditandosobre suas palavras, conscientizou-se de estar seguindo por um caminhoenganoso.Ao ver nos olhos daquele a quem tanto amava as lágrimas doarrependimento, o filho de Adonias alegrou-se com sua vitória sobre oorgulho e o egoísmo. Os dias que seguiram-se à libertação, foram cheios de realizações; Opríncipe revelava-se ainda mais amigo, disposto a dar tudo de si paraque seu companheiro pudesse prosseguir triunfante no caminho dahumildade. Naqueles dias de júbilo, foi dada a ele a honra de conhecer ocetro que estava sendo moldado.Num momento de descuido, Samael que voltara a desfrutar paz de espírito,permitiu que seu coração novamente ficasse possuído por um sentimento degrandeza, que fez desencadear nova tormenta em sua alma. Esse sentimentomisto de orgulho e cobiça lhe sobreveio no momento em que o príncipemostrava-lhe o dourado alaúde, no qual estava sendo impresso o selo detodo o domínio.A História de SalémCapitulo VDe sua mansão Samael contemplava Salém em seu resplendor matinal.Vendo-a, qual noiva adornada à espera de seu rei, cobiçou-a. Em seudelírio passou a formular planos de conquista. Já podia sentir-seexaltado sobre o seu trono, tendo nas mãos o cetro precioso. Todosaclamariam-no como o libertador da opressão daquelas leis. Salém seriaum reino de completa liberdade e prazer. Dominado por esta cobiça,passou a maquinar planos de conquista.Samael decidiu agir sutilmente entre os súditos, levando-os a ver nopergaminho um impecílio à real liberdade. Em sua missão de engano,agiria com aparente bondade, revelando interesse pelo crescimento dafelicidade de todos.Pondo em prática seus planos, passou a visitar os súditos em suasmansões, falando-lhes das glórias do reino vindouro, onde desfrutariamcompleta liberdade.Grande era a sua influência em Salém. Todos admiravam sua beleza esabedoria, tendo-o como um perfeito apóstolo da justiça e do amor. Ninguém podia imaginar que em meio àquela atmosfera de júbilo e gratidãouma armadilha sutil estava sendo colocada, nas garras da qual muitospoderiam cair por descuido.Em sua sedutora missão, Samael não falava contra o pergaminho, aliás,louvava-o por haver exercido naqueles seis anos prestes a findarem ,umamissão de prova. Em sua lógica, contudo, procurava mostrar que, no reinovindouro, quando todos estivessem aprovados, estariam acima daquelasleis. Seus argumentos, aparentemente corretos, preparavam-lhe o caminhopara afirmar abertamente que, no novo reino, a existência do pergaminho,seria um entrave à concretização da verdadeira liberdade.As sementes da rebelião lançadas por Samael não tardaram a germinar nocoração de muitos em Salém. Isto acontecia a seis meses do Yom Kipur, quando o destino de todos seria selado. Um terço dos habitantes,seduzido pelo terrível engano, exaltava-o agora, em completo desprezoàs leis e ao príncipe, a quem julgavam ultrapassados. Adonias, que sofria ao ver o surgimento de toda essa rebeldia, convocouos súditos para uma reunião de emergência. Na face de todos podia-se veras contrastantes disposições.Com voz compassiva, o rei passou a revelar-lhes, como jamais fizeraantes, a grande importância das leis registradas no pergaminho,mostrando que elas eram a base de toda a prosperidade e paz. Se taisleis fossem banidas, toda felicidade e glória se extinguiriam, dandolugar ao caos.Depois de mostrar a necessidade das leis, Melquisedeque, movido por umforte desejo de salvar aqueles a quem tanto amava, ergueu diante detodos o pergaminho e, com voz cheia de bondade ofereceu-lhes o perdão ea oportunidade de recomeçarem no caminho da paz. Suas palavras a todosemocionou, ficando até mesmo Samael ficou a princípio motivado, contudo,o orgulho impediu-lhe novo arrependimento. Desta maneira, o súditohonrado, quando ainda podia olhar arrependido para o pergaminho,endureceu-se em sua rebeldia, decidindo prosseguir até o fim. Estadecisão, todavia, não a manifestaria prontamente, pois idealizara umtraiçoeiro plano. Ao findar o encontro da oportunidade, Samael convocou seus seguidorespara uma reunião secreta, que foi realizada sob o manto da noite, juntoao riacho de Cedrom que ficava fora dos muros de Salém. Após maldizer o pergaminho e a todos aqueles que o defendiam, ,começou afalar-lhes de seus planos de vingança e traição: - Como vocês sabem, os seis anos da prova estão se esgotando, restando,a partir de hoje, vinte e quatro semanas para o dia da coroação. Sevocês quiserem ter-me como rei em lugar de Melquisedeque, podereiroubar-lhe o cetro, apoderando-me do reino.Samael passou a explicar-lhes os lances da traição, dando-lhes asdevidas orientações sobre a maneira de agirem a partir daquela data:- Precisamos manter uma aparência de fidelidade ao pergaminho e aopríncipe até que chegue o momento de agirmos. O golpe será dado na noiteque antecede o dia da coroação. À meia-noite, furtivamente nosausentaremos de Salém. Roubarei nessa noite o cetro e, juntos, fugiremospara o profundo vale onde estão as cidades de Sodoma e Gomorra. Ali nosarmaremos, e marcharemos contra Salém, subjugando nossos inimigos.Acabaremos então com o pergaminho e com todos aqueles que se recusaremprestar obediência ao nosso governo.A História de SalémCapitulo VISobrevieram dias de aparente tranqüilidade e paz Samael, fingindofidelidade, estava sempre ao lado do príncipe, demonstrando admiração pelas suas novas composições que exaltavam as leis do pergaminho. Osseguidores de Samael, da mesma maneira, uniam as vozes em louvores queexpressavam a grandeza dos princípios aos quais repugnavam.Melquisedeque, cheio de alegria por ver aproximar-se o dia de suacoroação, ensaiava com os súditos os cânticos da vitória, os quaiscompusera especialmente para aquela ocasião.Com felicidade falava atodos sobre seus sonhos em tornar Salém cada vez mais honrada por suabeleza e harmonia.Samael, em sua maldade velada, zombava do príncipe. Já previa a dor quelhe traria o golpe da traição.Naqueles dias de aparente paz, o súdito rebelde procurou conhecer olugar em que o cetro ficaria oculto até o dia da coroação. O príncipe,sem nada desconfiar, revelou-lhe todo o segredo: a sala, o cofre com seuenigma, o rico estojo e, finalmente o tesouro. Contemplando-o o astutoSamael animou-se ao ver estampado em seu bojo o selo do domínio;Compreendeu que, aquele que o possuísse, teria nas mãos o reino deSalém. Somente alguns dias, pensou, e teria sob seu poder aqueleinstrumento precioso. O sol declinou trazendo para Salém o dia que significaria vitória ouderrota.Pouco antes do anoitecer, Samael deixara o palácio onde passara todo odia ao lado do príncipe, ajudando-o nos preparativos para a cerimônia dacoroação. Dirigindo-se para sua mansão, saudou as trevas com um sorrisomaldoso. Como ansiara por aquela noite!Enquanto os fiéis, embalados pela emoção da feliz vitória , revisavamsob a luz de candeias os adornos de seus instrumentos, de vestes emansões, certificando-se que seriam aprovados na manhã seguinte, Samaele seus seguidores faziam seus últimos preparativos para desferirem ogolpe. À meia-noite, seguindo as instruções de Samael, todos os seus seguidoresabandonaram silentemente suas mansões, rumando-se ao profundo vale deCedrom, onde esperariam pelo seu novo rei.Samael, por sua vez, dirigiu-se aos fundos do palácio, por onde esperavaentrar sem ser notado, indo ao encontro do cetro. Evitando qualquerruído, transpôs o portal, dirigindo-se silentemente à sala que guardavao precioso cetro.Naquele momento, o príncipe que, insone rolava em seu leito,pressentindo algum perigo, dirigiu-se ao quarto de seu pai e o despertoudizendo:- Meu pai, ouvi ruídos de passos no interior do palácio.Afagando a cabeça de seu filho, Adonias, sonolento respondeu-lhe: - Filho, não se preocupe. Deite-se comigo e durma tranqüilamente. Daquia pouco raiará o alvorecer e você terá nas mãos o alaúde dourado.O príncipe, tranqüilizado pelas palavras confiantes de seu pai,entregou-se a um sono de lindos sonhos em que vivia ao lado de Samael ede todos os súditos de Salém, os momentos festivos da coroação. Enquantoisso, o rebelde com as mãos trêmulas, apossava-se do cetro. Naquele momento, teve a idéia de levar somente o alaúde, deixando o estojo emseu devido lugar.Com um sorriso cheio de maldade, imaginou o momento emque o rei entregaria ao seu filho aquele estojo vazio.Levando consigo o cetro, Samael dirigiu-se apressadamente ao lugar emque seus seguidores o aguardavam. Ao encontrá-los, deu vazão a todo oseu orgulho proclamando:- Agora eu sou o rei de Salém. Quem possui um cetro como o meu? Com eledomino a terra e o mar.A minha força está nas trevas , pois através delao conquistei.Festejando a vitória, a turba ruidosa afastou-se para distante de Salém,seguindo rumo às cidades corrompidas da planície, onde pretendiamarmarem-se para a conquista de seu reino.O sol surgiu no horizonte, trazendo a luz do dia da expiação (YomKipur).. Despertando de seu sono de lindos sonhos, o príncipe apronta-separa a cerimônia do juízo e da coroação. Vestes especiais de linho fino,adornadas com fios de ouro e pedras preciosas, foram-lhe preparadas.Depois de vestir-se, Melquisedeque encaminhou-se para o encontro de seussúditos, na extremidade sul de Salém. Dali os conduziria numa marchafestiva rumo ao palácio situado ao norte, sobre o monte Sião.Adonias, fazendo soar um longo chifre, convocou a todos para a reuniãodo julgamento. Deixando suas mansões, todos os remanescentesdirigiram-se para a praça do portão sul, levando consigo seusinstrumentos musicais.Ao encontrar-se com aqueles fiéis, Melquisedeque ficou surpreso pelaausência de muitos. Esse mistério doía-lhe na alma, pois lheocultava-lhe a face mais querida de seu amigo Samael.Deixando seus seguidores reunidos, o príncipe saiu à procura dosausentes. Em sua busca infrutífera, dirigiu-se finalmente à mansão domonte, onde chamou por Samael; Sua voz, contudo, não trouxe nenhumaresposta além de um eco vazio, que traduzia ingratidão.Lendo no triste vazio a traição, sentiu vontade de chorar. Num sómomento veio-lhe à mente todo o passado daquele a quem buscara com tantadedicação conservá-lo em sua glória, através de conselhos sábios.Recordou daqueles dias que seguiram à sua recuperação; Como se alegraracom a certeza de que seu amigo não mais voltaria a cair! Levando-o apressentir a tragédia, veio-lhe a lembrança as indagações de Samaelsobre o alaúde, o qual mostrou-lhe num gesto de amizade. A memória destefato, somada aos passos ouvidos no interior do palácio naquela noite,deu-lhe a certeza que Salém corria perigo. Não suportando essapossibilidade de traição, prostrou-se em pranto, ferido pela terrívelingratidão daquele a quem dedicara tanto amor.Curvado pela dor, permaneceu por algum tempo procurando encontrar algumconsolo. Enxugou finalmente as lágrimas, decidido a fazer qualquersacrifício a fim de devolver a Salém sua glória e poder, redimindo-lhe ocetro das mãos da rebeldia.Consolado pela certeza da vitória, Melquisedeque retornou para junto dossúditos fiéis. Ocultando-lhes seu sofrimento, bem como o motivo daausência de tantos, o príncipe guiou-os em marcha triunfal rumo aopalácio.A História de SalémCapitulo VIIAo aproximarem-se do monte Sião, galgaram os alvíssimos degraus daescadaria, sendo seguidos pela multidão exultante. Doía-lhe na alma aexpectativa de ver morrer nos lábios dos fiéis, naquela manhã, o seualegre canto, devido o golpe da traição.Encontravam-se agora no interior do palácio, diante do magnífico tronoque esperava pelo jovem rei. Na base do trono, jazia aberto, em meio aum arranjo de flores, o pergaminho das leis. Junto dele podia-se ver alinda coroa, feita de ouro e pedras preciosas, bem como o estojo daquelecetro que simbolizava toda a harmonia de Salém. Os súditos estavam felizes, pois sabiam que seriam achados dignos deherdar aquele reino de paz. Aguardavam agora o momento da coroação,quando o seu novo rei os regeria de seu trono com seu cetro precioso,num cântico triunfal.Em meio aos aplausos das hostes vitoriosas, Melquisedeque dirigiu-se aseu pai, que o recebeu com um carinhoso abraço. O momento era deverassolene. As hostes silenciaram-se na expectativa da coroação. O estojoseria aberto e, todos testemunhariam a exaltação do querido príncipe.Com o coração pulsando forte pela alegria, Adonias curvou-se sobre oestojo, abrindo-o cuidadosamente; Ao encontrá-lo vazio, a alegria de seusemblante deu lugar à uma expressão de indizível preocupação e tristeza,pois naquele cetro selara o destino daquele reino de paz.Ao ver seu pai e todos os súditos aflitos pela ausência do cetro e detantos amigos que deveriam estar com eles naquele momento, Melquisedequeconsolou-os com a promessa de que buscaria o cetro. Inconscientes dosriscos e perigos que aguardavam o príncipe em seu caminho, os súditosdespediram-se dele, vendo-o partir apressadamente.O alvorecer daquele dia que seria o da coroação, alcançou os rebeldesdistantes de Salém, a caminho das cidades da planície. Naquele manhã,Samael encheu-se de fúria ao ver que o precioso alaúde estava adornadocom inscrições das leis contidas no pergaminho. Tomando uma pedrapontuda, passou a danificar o cetro, raspando-lhe todas as palavras deamor e justiça. Suas harmoniosas cordas estavam agora desafinadas sobreo seu bojo ferido, mas continuava sendo precioso, pois sobre ele jaziaselado o domínio de Salém. Possuí-lo, significava ser dono de todo opoder.Ao chegarem à altura em que o caminho bifurcava-se, Samael ordenou aseus seguidores que prosseguissem rumo a Gomorra, enquanto ele iria atéSodoma, onde permaneceria por dois dias, juntando-se depois a eles.Esperou pela noite para entrar em Sodoma. Quando ali entrou, caminhoupelas ruas estreitas sem ser notado, até encontrar uma casa isoladasobre uma elevação. Fazendo do cetro sua arma, invadiu a casa matandoseus moradores, enquanto dormiam. Apossou-se dessa maneira daquelaresidência onde, solitário, maquinaria seus planos para a tomada deSalém.O entardecer daquele dia que seria o da coroação, alcançou o filho deAdonias a caminhar pelo pedregoso caminho rumo ao vale. Seus olhoscarregados de tristeza e anseio voltam-se para o solo, em busca dosrastros dos rebeldes. A lembrança da ingratidão daqueles a quem tantoamava, o fez chorar. Suas lágrimas, refletindo os últimos lampejosdaquele sol poente, assemelham-se a gotas de sangue jorrando de umcoração ferido. Ele chorava não por causa dos perigos que lhesobreviriam naquela fria noite, mas pela infeliz sorte daqueles quehaviam trocado a paz de Salém pela violência daquelas cidades daplanície.O seu único consolo era a lembrança daqueles que, apesar de todas astentações, haviam permanecido fiéis. A eles prometera devolver o cetro,e isto o faria apesar de qualquer sacrifício.Depois de uma longa noite de insônia em que o príncipe ficou recostadoao lado do caminho, raiou a luz de um dia que seria decisivo.Ao aproximar-se de Sodoma naquela manhã, o pensamento de estar tãopróximo do cetro de sua amada Salém, fez com que se esquecesse de toda afadiga, abreviando seus passos rumo ao desafio.Ao abeirar-se do grande portão da cidade, ficou tomado por um temor, aoouvir ruídos espantosos de desarmonia, que traduziam o orgulho, oegoísmo e a cobiça que ali dominavam todos os corações, fazendo-osexplodir na orgia de uma maldade sem fim.Seria um grande risco expor-se à violência gratuita daquela cidade. Essepensamento o fez deter-se a um passo do portal, onde estremecido curvoua fronte em indizível luta íntima. Era tentado a recuar, mas lutava comtodas as forças de sua alma contra esse pensamento de fracasso.Pensando na triste sorte de Salém, cujo domínio estava sendo pisado nointerior daquela cruel Sodoma, Melquisedeque tomou uma firme decisão:como um destemido guerreiro haveria de avançar, e, mesmo que tivesse deenfrentar o acúmulo de todos os perigos, prosseguiria, até erguer emsuas mãos vitoriosas o cetro amado.Resoluto e esperançoso, transpôs o portão de Sodoma, mergulhando naquelemundo estranho. Tudo ali era o oposto de Salém, começando pelas pedrasásperas e sujas de suas construções. Sodoma era um reino de trevas. A presença contrastante do príncipe foi logo notada por muitos que, emtumulto o acercaram. A pureza de caráter expressa em sua meiga face e oesplendor de suas vestes, encheram-nos de espanto, e recuaram como quevencidos por uma força invisível. Dominados pela fúria , passaram aperseguí-lo à distância, decididos a fazê-lo recuar. Jogavam-lhe pedrase lama tentando macular-lhe as vestes, mas não o atingiam, enquanto eleavançava em sua ansiosa busca. Desistiram finalmente de perseguí-lo, aoentardecer.A História de Salém.
Capitulo VIII
O filho de Adonias percorrera todas as ruas e becos à procura doprecioso cetro, mas em vão. Ao ver tombar no horizonte o sol, anunciandoa chegada de mais uma escura e fria noite, seu coração ficou opresso poruma grande agonia. Ali, naquele último beco, quase que vencido pelaexaustão e pelo desespero, inclinou a fronte, desfazendo-se em pranto.Seus lábios, pronunciaram em meio aos soluços as seguintes palavras:- Salém, Salém, você não pode perecer! O seu cetro precisa ser redimidodas garras da rebeldia! Mas quando e onde vou encontrá-lo?! Já nãorestam forças em mim, e a esperança de redimi-lo antes da noite meabandona!O príncipe, em sua suprema angústia, não percebia que outro gemido dedor, procedente de cordas arrebentadas de um alaúde humilhado, fazia-seouvir naquele entardecer.Subtamente, o fraco gemido penetrou seus ouvidos, reanimando-o com acerteza de que o grande momento da redenção havia chegado. Enxugando aslágrimas, reuniu as últimas forças correndo em direção à uma pequenacasa situada sobre um monte, de onde parecia vir o som.Ao dirigir-se à porta entreaberta, deteve-se ao contemplar uma cenachocante, de humilhante escravidão: Samael, envolvido por um manto sujo,castigava o cetro de Salém. Tanto o rapaz quanto o cetro achavam-se tãodesfigurados, que não restavam neles quase que nenhum traço da glóriaperdida. Aquele cetro, contudo, mesmo arrasado como estava, era muitoprecioso, pois nele jazia o selo do domínio de Salém.A contemplação daquele que fora seu maior amigo e daquele cetroidealizado como símbolo de toda a harmonia, em tão trágica condição,comoveu profundamente o príncipe, fazendo-o chorar em alta voz. Somenteentão o súdito rebelde percebeu sua presença indesejada. Estremecido,levantou-se, e, cheio de ira perguntou-lhe:- O que o trouxe a Sodoma?Apontando para o cetro danificado, Melquisedeque exclamou:- A glória de Salém está destruída!!!Com uma gargalhada, Samael zombou de sua tristeza ,dizendo:- Agora eu sou o rei de Salém. Vocês que são fiéis ao pergaminho,tornar-se-ão meus escravos.Sem se importar com as palavras de afronta de Samael, o príncipe, movidopor uma infinita angústia, lhe disse:- Samael, Salém está ferida por sua traição. Por que você trocou o seular de justiça e amor por esse vale de injustiça, ódio e morte?! Agora,se não deseja retornar à Salém arrependido, devolva-lhe o cetro. Foipara redimi-lo que, a despeito de todos os perigos, desci a esse valehostil.Conhecendo o propósito do príncipe, o rebelde encheu-se de raiva ecerrando os punhos disse-lhe :- Eu o odeio Melquisedeque!Tendo dito isto, arremessou o cetro ao chão, e pisando-o acrescentou:- Tenho vontade de fazer o mesmo com você.Diante dessa afronta, o príncipe não sentiu nenhum temor, mas compaixão.Transportando-se ao feliz passado, lembrava-se dos momentos felizes emque tinha sempre ao seu lado a Samael; Ele era um jovem puro e humildede coração; Por que permitira ser escravizado pela ilusão do orgulho edo egoísmo?! Quão doloroso era ver aquele jovem que, por sua beleza esimpatia, havia sido honrado acima de todos os súditos, agora arruinadopela cobiça! Não fora o sonho do príncipe ter junto ao seu tronoglorificado, aquele que lhe era o mais precioso amigo?! Essa tragédiaferia-lhe a alma. Contudo, a triste condição do cetro o atingia aindamais, pois ele fora feito como o símbolo de toda a harmonia ,e estavasendo desfeito sob os pés da ingratidão.Surpreso por não ver nos olhos de Melquisedeque nenhuma expressão detemor, porém de piedade, Samael sentiu-se frustrado em suas afrontas quevisam amedrontá-lo, levando-o desistir de sua missão.Diante da postura digna do príncipe, que em silente dor o contemplava,sentiu-se envergonhado. Essa fraqueza, contudo, foi banida pelo orgulhoque dominava o seu coração. Começou então a planejar algo terrível, parahumilhar e ferir o príncipe, fazendo-o sofrer ainda mais.Com escárniodisse-lhe:- O cetro de Salém poderá ser seu, se você conseguir pagar-me o preço deseu resgate.Com um brilho nos olhos, o príncipe perguntou-lhe:- Qual é o preço?Samael, com um sorriso maldoso, respondeu-lhe pausadamente:- O preço não é ouro nem prata, mas dor e sangue. Você deverá despir-secompletamente de suas vestes, deitando-se ao chão. Deverá suportar nessacondição, espancamentos, até que o sol se ponha. Se você estiverdisposto a submeter-me, sem reagir, o cetro será inteiramente seu.Estremecido ante tão cruel proposta, o filho de Adonias olhou para o solque pairava distante sobre uma nuvem. Passou a travar em seu coração umaluta intensa. A princípio, o horror do sacrifício quase o dominou,levando-o recuar, mas o pensamento de ver Salém escravizada pelarebeldia, levou-o finalmente à decisão de pagar o preço do resgate,entregando-se ao humilhante sofrimento.Tendo tomado a firme decisão de resgatar o cetro, o príncipe, tirou asvestes, colocando-as sobre uma pedra. Deitou-se em seguida naquele solofrio, com a fronte voltada para o poente.Impiedosamente, Samael começou a espancá-lo, fazendo uso do própriocetro como instrumento de tortura. Gemendo pela dor dos golpes que ofaziam sangrar, o príncipe mantinha o olhar fixo no sol que pareciadeter-se sobre a nuvem. Atordoado pela dor, contemplou finalmente o solprestes a se pôr. Alentado pela vitória que se aproximava,murmurabaixinho:- Salém, Salém, daqui a pouco terei em meus braços o teu cetro preciosoque, em minhas mãos, tornar-se-á num instrumento de justiça e paz.Ouvindo a promessa do príncipe feita por entre gemidos, Samaelbradou-lhe com fúria:- O teu sofrimento não trará nenhum alvorecer para Salém ,pois tuas mãosjamais serão capazes de tocar no cetro.Depois de fazer essa afronta, Samael apossou-se de uma pedra pontuda,preparando-se para desferir os últimos golpes.Enquanto pensava sobre a feliz vitória de Salém, Melquisedeque sentiuseu braço direito sendo comprimido pelos pés de Samael. Seguiu a esserude gesto um golpe que o fez contorcer-se em agonia. Sua mão foravazada cruelmente, passando a jorrar abundante sangue da ferida aberta.Essa mesma violência foi descarregada logo depois sobre sua mãoesquerda.Não suportando a agonia causada por esses derradeiros golpes, o filho deAdonias, ensangüentado, mergulhou nas trevas de um profundo desmaio.A História de SalémCapitulo IXAo cessar de golpear o príncipe, o súdito rebelde ficou possuído por umestranho horror ao contemplar na face daquele que somente lhe fizera obem, o torpor da morte. Procurava não recordar o passado, mas,irresistente, sentia ser arrastado aos dias de sua feliz inocência emSalém. Revestido de ricas vestes estava sempre ao lado do príncipe que,com dedicação, ensinava-lhe a cada dia suas canções que falavam de paz.Nas indesejadas lembranças pelas quais era arrastado, reviveu seusprimeiros passos no caminho do orgulho e do egoísmo. Lembrou-se dosincessantes conselhos e rogos daquele que fora seu melhor amigo, paraque desistisse daquele caminho que poderia conduzi-lo à infelicidade.Depois de ser arrastado em lembranças por todo aquele passado defelicidade destruída por sua culpa, Samael teve consciência de suaingratidão. Horrorizado pelo que fizera, curvou-se sobre o corpoensangüentado de Melquisedeque, e desesperou-se ao vê-lo sem vida. Nãosuportando o peso da grande culpa, deixou às pressas aquele lugar,desejando ocultar-se distante, sob as trevas da fria noite.Depois de um profundo desmaio, o príncipe começou a voltar àconsciência; Em delírios que o transportavam ao seio de sua amada Salém,ele revivia momentos vividos e sonhados: Com alegria contemplava a facede seu maior amigo, para quem estendeu a mão com um sorriso. Mas seugesto foi frustrado por uma profunda dor. Em meio aos aplausos dossúditos vitoriosos, recebe de seu pai o cetro, mas ao tocá-lo, sente umairresistível dor em suas mãos.Com esses sonhos frustrados pela dor, Melquisedeque despertou para arealidade. Estava nu, ferido e solitário, em um lugar perigoso, longe doabrigo e carinho de Salém. Mais doloroso era pensar que tudo aquilo foraa retribuição de alguém que fora o alvo principal de todas as dádivas deseu amor.O príncipe, sem poder mover-se, considerando a grande traição passou achorar sem consolo. Lamentava não por sua dor, mas pela perdiçãodaqueles que haviam trocado o carinho e a justiça de Salém pelo desprezoe ódio que os reduziriam finalmente a cinzas sobre aquele valecondenado.Através das lágrimas, o príncipe contemplava o céu que, semelhante a ummanto tinto de sangue, estendia-se banhado na luz do sol poente.Lembrou-se então do alaúde pelo qual pagara tão alto preço. Onde estariaele?Em sua desesperada fuga, Samael deixara o cetro abandonado junto aocorpo ferido de Melquisedeque. Quando ele o viu, esqueceu-se de toda ador, e abraçou-o com suas mãos feridas. Acariciando-lhe o bojoarruinado, disse-lhe com um sorriso:- Você é meu novamente. Eu o comprei com o meu sangue".Samael que, dominado pelo estranho horror, fugira após cometer ohorrível crime, deteve-se a um passo do portão de Sodoma. Ali,impulsionado pelo orgulho, arrependeu-se com indignação de sua fraqueza.Por que fugira depois de conquistar tão grande vitória? Não era seuplano destruir o reino de Salém, para estabelecer seu próprio reino?Lembrando-se do cetro, decidiu retornar para tomá-lo. Por que o deixaraabandonado junto ao cadáver daquele odiado príncipe?Reunindo suas poucas forças, Melquisedeque dirigiu-se tropegamente aolugar em que deixara suas vestes.Depois de vestir-se, tendo junto ao peito o cetro amado, o filho deAdonias, com profunda emoção fez um juramento antes de deixar aquelelugar de seu sofrimento. Acariciando o cetro diz-lhe:- Meu querido cetro, você foi criado como um emblema da harmonia queprocede da justiça e do amor. Toda a glória de Salém repousava sobrevocê quando a rebeldia em sua ingratidão escravizou-o, arrastando-o paraeste vale hostil. Aqui você foi ferido e humilhado, vindo a tornar-se uminstrumento de impiedade nas mãos do tirano. Eu, porém, o redimi com omeu sangue. Agora nossas feridas serão restauradas, e em breve seremosentronizados em meio aos louvores de uma Salém vitoriosa. Quando essesonho se concretizar, testemunharemos juntos o fim daqueles que selevantaram contra nós para nos ferir. Samael e seus seguidores serãodevorados pelo fogo que reduzirá às cinzas Sodoma e Gomorra.Concluindo seu solene juramento ,o jovem príncipe, já oculto pelastrevas da noite e deixou aquela colina, e sobre ela as marcas de seusofrimento.Desde que o filho do rei partira, prometendo retornar com o cetro, Salémvivia momentos de indizível anseio. Em pranto, o rei e os súditosremanescentes lembravam-se de todo aquele feliz passado desfeito pelaingratidão dos rebeldes. O que mais lhes torturava era a ausência dopríncipe e do cetro, sem os quais todo o brilho daquele reino de paz seofuscaria.Desejando consolar o coração de seus súditos, Melquisedeque avançava emmeio à noite rumo aos montes que cercavam Salém. Ainda que enfraquecidoe ferido, prosseguia em sua marcha ascendente, esperando alcançar suapátria pela manhã.Aquela longa e escura noite foi finalmente vencida pelos raios doalvorecer. Em Salém a esperança em rever Melquisedeque com o seu cetroestava quase banida quando, ao olharem para o Monte das Oliveiras,viram-no descendo pelo caminho do Getsêmani. Quando o encontraram noprofundo vale de Cedrom, ficaram assustados com sua aparência: sua faceestava pálida e seu manto encharcado de sangue. Mesmo assim, ele sorriaexpressando grande alegria.Ao perguntarem-no sobre o porque daquelas marcas de sangue,Melquisedeque retirou de sob o manto suas mãos feridas, revelando-lhesentre elas o cetro redimido.Depois de contar-lhes os passos que o levaram ao resgate do cetro, ossúditos, emudecidos, prostraram-se reverentes aos seus pés, aclamando-ocomo seu redentor e rei.Em meio aos louvores das hostes redimidas, o príncipe foi introduzido nopalácio real, onde sob os cuidados de seu amoroso pai, deveriarestabelecer-se de seu sofrimento. O cetro desfigurado, agora maisprecioso, seria também restaurado, devendo tornar-se mais belo queantes.O dia da coroação foi fixado para o próximo Yom Kipur. Naquele dia,Melquisedeque selaria com o cetro restaurado o triunfo de todos osfiéis, bem como a condenação dos rebeldes.A História de SalémCapitulo XPoucos instantes após a saída de Melquisedeque, Samael chegara ao localonde o deixara aparentemente sem vida, ao lado do alaúde. Sem entenderaquele misterioso desaparecimento, ele prosseguiu para Gomorra, ondeseus seguidores o esperavam. a Ao vê-los, proclamou sua "vitória" sobreo odiado príncipe e sobre o cetro, os quais massacrara em Sodoma, nãorestando aos seguidores do pergaminho nenhuma esperança.Suas palavras agradaram a turba rebelde, que passou a comemorar a"conquista" entregando-se à orgia. Zombavam agora da justiça e do amor,exaltando a Samael como rei vitorioso.Obteriam agora armas, com o propósito de avançarem sobre Salém,desferindo-lhe o último golpe; Juntaram-se a eles em seu maléficopropósito, muitos criminosos que foram recebidos como mestres no manejode arcos e flechas.Em sua loucura, Samael ordenou o banimento de todo calendário, pois emseu reino de "liberdade" não estariam sujeitos a nenhum cômputo detempo. As leis da moralidade foram também banidas, surgindo com isso umcompleto caos. Essa desordem, revelou-se de maneira mais patente nobarulho estridente e cacofônico, ao qual proclamaram como a nova música.Dominados pelo egoísmo, Samael e seus seguidores alimentavam-se deilusões, inconscientes de que seus dias estavam contados. Os frutos darebelião não tardariam em atrair sobre eles o fogo da destruição.Dividindo seus seguidores em pequenos grupos, Samael passou acomandá-los em atos violentos que aterrorizavam os moradores dasplanícies; Por esse tempo, eles escondiam-se nas cavernas situadaspróximas ao mar salgado.O respeito e o medo dos guerrilheiros de Samael, levou finalmente osreis de quatro cidades a procurarem-no, propondo alianças de paz. Erameles: Bara, rei de Sodoma, Bersa, rei de Gomorra, Senaab, rei de Adama,Semeber, rei de Seboim e Segor, o rei de Bela. Por essa época, essesreis pagavam tributos a Cordolaomor, rei de Elam que, acompanhado pelosexércitos de quatro outras cidades, os haviam subjugado no vale de Sidimjunto ao mar salgado.Fortalecido pelas alianças, Samael tornou-se mais ousado em suasinvestidas, levando o terror e a destruição aos territórios de cidadesdistantes. Os exércitos de Cordolaomor e seus aliados que retornavamnesses dias de outras conquistas, enfurecidos pelas provocações deSamael, marcharam contra os quatro reis, vencendo-os novamente no valede Sidim. Foi nessa ocasião que levaram cativos os habitantes de Sodoma,entre os quais encontrava-se o meu sobrinho Ló.Acovardados diante do furor dos cinco reis, Samael e seus seguidoresesconderam-se em suas cavernas, ao norte do mar salgadoA História de SalémCapitulo XIOs doze meses contados a partir do grande sacrifício estavam prestes aterminar. O cetro, totalmente restaurado, resplandecia em seu estojo,enquanto o príncipe, igualmente restabelecido das feridas causadas pelarebeldia, alegrava-se ao ver chegar o Yom Kipur de sua coroação.Enquanto isso, ele compunha lindas canções que expressavam o seu amorpor Salém.Naqueles doze meses, a cidade da paz tornara-se mais bela, sendoadornada qual noiva para o grandioso dia da coroação.À uma semana para o Yom Kipur, Samael, totalmente inconsciente de que odia de seu julgamento se aproximava, reuniu os seus seguidores,anunciando-lhes que a próxima missão seria a conquista de Salém. Antesde avançarem, contudo, ele subiria sozinho para verificar os pontosvulneráveis da cidade.Depois de ser aplaudido pela turba, Samael partiu em sua missão dereconhecimento. Enquanto avançava sozinho, procurava não lembrar-sedaqueles momentos que trouxeram-lhe terror pela culpa, mas, dominado poruma força superior, foi arrastado em suas lembranças para aquele monteda cruel tortura.Todo o seu passado começou a vir-lhe à lembrança, como um pesoesmagador.Quando despertou-se de suas lembranças das quais não conseguiu fugir, jáera noite. A escuridão que o envolvia pareceu-lhe o prenúncio de umtriste fim. Esse desânimo, contudo, procurou bani-lo com a lembrança doexército que o esperava, pronto para cumprir suas ordens, na conquistade Salém, onde não haveria lembranças daquele pergaminho.O alvorecer o alcançou próximo de Salém. Ao avistar o monte dasOliveiras, veio-lhe à lembrança a última vez que o transpôs, deixandopara trás a cidade vencida. Quantas noites haviam passado desde então?Ele perdera a noção de tempo, não sabendo que justamente doze meseshaviam se passado. Não podia imaginar que, raiava naquela manhã o YomKipur, o dia de seu julgamento.Ao chegar ao topo do monte das Oliveiras naquela manhã, Samaelsurpreendeu-se ao ver que a cidade tornara-se mais bonita que outrora;Toda ela estava adornada de ramos e flores, como uma donzela à espera deseu noivo. Contudo, Salém estava abandonada, não havendo nenhum sinal devida em todas as suas mansões. Isto o fez concluir que os golpes quehaviam aniquilado o príncipe e o cetro, trouxeram como conseqüência todoaquele abandono. Ele não sabia, contudo, que naquele momento todos osremanescentes daquele reino, encontravam-se ocultos no grande salão dopalácio, aguardando pelo momento mais glorioso, da coroação deMelquisedeque.Imaginando-se exaltado sobre o trono abandonado, tendo a seus pés osexércitos vitoriosos, o rebelde penetrou na cidade, dirigindo-seapressadamente ao palácio. Ao transpor o portal principal que dá entradaao salão principal, ficou surpreso ao ver ali reunidos uma multidão defiéis. Sobre um áureo tablado, enfeitado de flores talhadas em pedraspreciosas, encontra-se o trono vazio. Na base do trono estava opergaminho das leis, uma coroa de ouro cheia de pedras preciosas e oestojo que deixara vazio naquela noite de traição. Sem entender oenigma, Samael escondeu-se por trás de uma coluna, temendo serreconhecido, e ficou observando.Os súditos, com expressão de feliz expectativa olhavam para o tronovazio. Onde encontravam eles motivos para toda essa alegria, se haviamperdido o seu rei juntamente com o cetro? Samael questionava sobre essemistério, quando Adonias, aplaudido pelos súditos, encaminhou-se parajunto do trono.Com voz cheia de emoção pela vitória, o fundador de Salémanunciou que havia chegado o momento tão sonhado da coroação. Um bradode triunfo ecoou pelos ares quando, anunciado pelo seu pai, entrou oamado príncipe encaminhando-se em direção do trono. Ao vê-lo coberto porum manto de glória, Samael ficou possuído por um terrível pavor, eprocurou fugir. Descobriu, contudo, que todos os portais do grande salãoestavam fechados por fora.Teve início a cerimônia da coroação. Era um momento deveras solene.Adonias, num gesto reverente, tomou a rica coroa, colocando-a na frontede seu filho. Prostrando-se depois sobre o estojo, abriu-ocuidadosamente, tirando dele o alaúde restaurado, cuja beleza e brilhoeram muito superiores à sua primeira condição, ao sair das mãos deAdonias o seu luthier. Assentando-se no trono em meio às aclamações dossúditos, Melquisedeque passou a dedilhar o cetro, tirando dele acordesde muita harmonia e paz. Todos se aquietaram para ouvirem suas novascomposições que expressavam o seu profundo amor pelo cetro e por todoaquele reino de paz.Grande emoção invadia o coração de todos naquele momento, levando-os àslágrimas. Samael, sem forças para reagir, sentia-se torturado poraqueles acordes que torturavam faziam reviver em sua mente suasoportunidades perdidas, numa terrível tortura para sua consciência.Melquisedeque compusera para aquele momento especial, canções queretratavam os momentos mais marcantes da história de Salém; Quandopassou a cantar sobre a amizade que tinha por Samael, sua vozembargava-se pelas lágrimas que não conseguia conter. Triste para eleera cantar sobre a queda daquele que era-lhe o maior amigo! Cantou entãosobre o alto preço que teve de pagar pela reconquista do cetro, querepresenta a honra de Salém.Ao contemplarem aquelas mãos marcadas pelas cicatrizes, tocando comtanta maestria e carinho o cetro restaurado, os súditos tomados porforte emoção, prostraram-se em pranto.Ao ver nas nãos de Melquisedeque aquele alaúde que, em suas mãos forainstrumento de tortura, Samael compreendeu, tarde demais o quantoerrara, desviando-se dos conselhos do príncipe; Quantas vezes aquelasmãos sobre as quais descarregara toda aquela violência haviam sidoestendidas num esforço de salvá-lo, e ele as havia negligenciado. Agora,era tarde demais! Tarde demais!!!A História de SalémCapitulo XIIOs súditos triunfantes que, reverentes, haviam sido conduzidos a todoaquele passado de felicidade, traição, dor e triunfo, uniram finalmenteas vozes numa jubilosa proclamação:Verdadeiros e justos são os teus princípios, ó rei de Salém. Digno és dereinar em glória e majestade entre os louvores de teus fiéis, porque emteu sacrifício nos livraste das ameaças das trevas, fazendo renascer emnosso coração a alegria do alvorecer.Esse cântico de exaltação foi seguido pela cerimônia de confirmação detodos os fiéis em sua vitória. O filho de Adonias, com o seu cetroredimido, passou a selar com um toque especial do cetro, a vitória decada um. Formou-se para tanto uma longa fila de fiéis exultantes.Os súditos confirmados, à medida em que iam recebendo o toque deaprovação do rei, posicionavam-se ao lado direito do trono, ondepermaneciam aguardando pela confirmação dos outros.Os olhares que, iluminados de alegria, haviam acompanhado o selamentodos últimos justos, pousaram sobre a figura estranha de Samael que,dominado por uma força irresistível, encaminhava-se cabisbaixo emdireção do trono. Seu aspecto era horrível: seu semblante havia sidodeformado pelo mal; suas vestes estavam sujas e mal cheirosas; tudo nelerepugnava, ao ponto de ninguém reconhecê-lo.Em meio ao espanto dos súditos, Melquisedeque ergueu-se de seu tronocomo que ferido por uma grande dor; De seus lábios os súditos ouvem umadolorosa exclamação:- Samael, Samael!!!A figura deplorável daquele que fora tão belo, encheu a todos detristeza, e começaram a prantear. Eles lamentavam por saber que odestino de Samael e de todos aqueles que o seguiram, poderia ter sidomuito diferente, se eles houvessem atendido aos rogos de amor de Adoniase de seu filho. Não era o plano do rei e o sonho de Melquisedeque tê-locomo o guardião do pergaminho, sendo o segundo em honra naquele reino?Samael que, reconhecendo sua desventura, aproximara-se cabisbaixo dotrono, ao presenciar toda aquela lamentação, é novamente iludido peloorgulho, julgando tratar-se de uma demonstração de fraqueza de seusinimigos. A lembrança de seu exército que fortalecido o aguarda naplanície, ilude-o com a certeza de que será vitorioso sobre Salém.Comesse pensamento, ergue a fronte marcada pelo ódio e, fitando o rei,levanta o punho cerrado e o desafia, desdenhando de sua autoridade, coma ameaça de tomar-lhe o trono.Ainda que condoídos por sua perdição, os súditos de Salém não suportarama ousada afronta daquele enlouquecido jovem que, depois de causar tantosofrimento, ainda era capaz de erguer-se com tamanho desafio.O vitorioso rei que com tanto prazer selara com o seu cetro a conquistados fiéis, ergueu-o dolorosamente para o selamento da triste sorte dosrebeldes. Imobilizado por uma força estranha, Samael, sem desviar osolhos do cetro, ouviu dos lábios do rei a proclamação de seu julgamentoe de todos os seguidores:Prisioneiros de uma força invisível, ficariam retidos em suas cavernaspor seis anos, sendo depois visitados pelo fogo do juízo que osdestruiria juntamente com as cidades que a eles se aliaram.A História de SalémCapitulo XIIIAo ir para a cama depois daquele dia de tantas emoções, o jovem rei,imerso nas lembranças daquele passado de felicidade e dor, rolava em suacama insone. Quando finalmente adormeceu, teve um sonho muitosignificativo.No sonho, apareceu-lhe um anjo luminoso, que saudou-o com um sorriso,dizendo-lhe que todo o Universo acompanhava com atenção todo aqueledrama que estavam vivendo, que o mesmo tinha um sentido prefigurativo,retratando acontecimentos passados e futuros, que envolvia todo o vastouniverso.As palavras do anjo despertaram em Melquisedeque um grande desejo deconhecer a história desse drama cósmico.Conhecendo o seu anseio, o anjo arrebatou-o no sonho revelando-lhe umdistante futuro. Diante de seus olhos manifestaram-se as glórias de umanova e esplêndida Salém, cujas muralhas e mansões eram feitas de pedraspreciosas; Os portais da cidade eram de pérolas. Suas amplas avenidaseram de ouro puro. A cidade era quadrangular e se estendia por centenasde quilômetros. Estava dividida em dois setores distintos: Norte e Sul.Ao Sul elevavam-se incontáveis mansões, habitações eternas de anjos e deseres humanos redimidos; Ao Norte havia um lindo paraíso ao qual o anjorevelou ser o jardim do Éden. Ali, em ambas as margens do rio da vida,havia campos repletos de todo tipo de vegetação, com flores e frutos emabundância. Viviam ali em perfeita harmonia, todas as espécies deinsetos, aves e animais.No meio do paraíso podia-se ver uma montanha fulgurante, a qual o anjoafirmou ser o monte Sião, o lugar do trono de Deus. Era daquele monteque emanava o rio da vida, fluindo por toda a cidade.Quando alcançaram o topo da montanha sagrada, o rei de Salém ficoudeslumbrado com o cenário visto ao seu redor. Encontrava-se na partemais elevada de Sião a mais
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