sábado, 26 de julho de 2008

Poemas e Poetas do Brasil - PPB/0026

Funeral de um Lavrador
de Morte e Vida Severina Joao Cabral de melo Neto

Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo

É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra tua carne pouca

Mas a terra dada, não se abre a boca
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida

_Aí ficarás para sempre livre do sol
e da chuvac riando tuas saúvas
_Agora trabalharás só para ti
não há meios, como antes em terra alheia

_Trabalhando nesta terra Tú sozinho
tudo enfrentas Serás semente, adubo, colheita
_Trabalharás numa terra que também te abriga
e te veste embora cobrindo o nordeste
_Terás de terra completo agora o seu fato
e pela primeira vez, sapato.


(João Cabral de Melo Neto

(com alterações de Chico Buarque)

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