sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Preço da Liberdade - A/0028


O Preço da Liberdade

Há várias maneiras de classificar as pessoas. Um amigo meu costuma classificá-las entre as que são importantes e as que o não são – sendo que importante, aqui, significa apenas, e é muito, aquilo que merece a nossa importância, a nossa atenção, e o que o não merece: parece-me, todavia, um critério curto. Uma amiga minha gosta de as classificar, simplesmente, entre boas e más pessoas - bons e maus caracteres: parece-me um critério que faz sentido, mas que abrange apenas o domínio das relações pessoais. Mas, se pretendemos classificar as pessoas pelo critério da cidadania, a classificação que sempre tive como fundamental é a que distingue os homens livres dos capachos. O grande mal é que temos, verdadeiramente, poucos homens livres. Pouca gente, poucos cidadãos, que estejam dispostos a viver a sua vida, a construir o seu caminho, sem terem de prestar vassalagem a várias formas de poder. Os arquitetos não são livres, porque dependem dos interesses econômicos do dono da obra. Os médicos não são livres, porque, regra geral, querem ser simultaneamente profissionais liberais e assalariados do Estado. Os advogados de sucesso não são livres, porque dependem da consultadoria dos governos e do tráfico de influências entre os negócios, o poder e o patrocínio. Os empresários não são livres, porque dependem dos subsídios, das isenções fiscais e da atenção do governo nos concursos públicos. Os intelectuais não são livres, porque estão quase sempre dependentes de empregos, bolsas o subsídios públicos, os quais acabam inevitavelmente por pagar com simples fretes de propaganda partidária. Os jornalistas, quase todos, não são livres, porque dependem do pequeno chefe, o qual reporta ao editor principal, o qual deve satisfações ao proprietário, o qual tem de prestar atenção aos humores e sensibilidades do poder da hora. O Brasil não é um país de homens livres, de homens verdadeiramente amantes da liberdade, para quem a liberdade seja tão importante como poder respirar. A grande mentira em que temos vivido nos últimos anos é a de ter acreditado, ou fingido acreditar, que éramos todos pela liberdade.Desgraçadamente, a poesia que está na rua é pura hipocrisia. A liberdade não se encontra ao virar daesquina - conquista-se, merece-se e alcança-se, por si próprio e individualmente, com riscos e com perdas, e não a coberto da proteção fácil das multidões ou das leis.Não há lei que possa declarar um homem livre, se ele próprio não está disposto a bater-se pela liberdade que lhe deram e a pagar o preço que ela exige.Pagamos, e temos pago, bem caro o preço inverso: o preço de não sermos e nunca havermos sido uma nação de cidadãos amantes da liberdade – não a de cada um, individualmente, mas a de todos. O preço de termosempresários que vivem do favor do Estado, sindicatos que vivem do abrigo partidário, intelectuais que vivem das migalhas do orçamento da cultura. O preço de sermos dependentes, tementes e subservientes. As nações de homens livres prosperam; as nações de gente subserviente definham. Cada vez estamos mais próximos do México ou da Madeira e cada vez mais distantes da Espanha ou da Inglaterra. Temos, exata efriamente, aquilo que merecemos.Aliás, impõe-se a distância necessária para tentar entender que país é este, que cidadãos são estes e o que verdadeiramente os preocupa: a vaca a ser mungida na Quinta das Celebridades ou o Governo a sermungido na Quinta dos Influentes? Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a exceção democrática já está definitivamente assumida como coisa banal e inevitável?

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