Virtudes e defeitos
Já dizia o bom e velho Oscar Wilde, em tom de blague, que as mulheres nos amam pelos nossos defeitos e que, se tivermos um número suficiente deles, elas são capazes de nos perdoar por tudo que fizermos ou deixarmos de fazer, até mesmo perdoarão a nossa inteligência. De um certo modo, eu concordo em parte com o que disse o grande poeta irlandês que nem gostava tanto assim de mulher, preferindo outros rapazes delicadamente feminis. Tanto que acabou puxando uma cadeia braba por manter conúbio carnal com um jovem aristocrata. Ao pé da janela de estimação, vigio os vagalumes do quintal, enquanto espero, ansioso, o início do jogo Brasil e Argentina. E então reflito se será de fato verdade que o mulherio se apaixona pelos defeitos masculinos. Pode ser que sim, mas pode ser que não, porque, imprevisibilidade, teu nome é mulher. Entanto, partindo do racional princípio de que a paixão tem uma natureza volátil, deve-se concluir que, finda a paixão, as mulheres se desapaixonam pelos mesmos motivos que as levaram a apaixonar-se. Sou tentado a inventariar meu rol de defeitos e haja papel e todo papel do mundo inda seria pouco. Mesmo sendo uma vitrine de defeitos gritantes, as mulheres não andam se apaixonando por mim aos montes e às pencas. Serei mais virtuoso que penso? Meus defeitos saíram de moda? Mudaram as mulheres de hoje ou mudei eu? Pergunto-me angustiadamente sem saber mais o que fazer. E se mudei, com certeza absoluta deve ter sido para pior, pois as mulheres já não me dão tanta bola como em bons tempos outrora. Continuo sendo o mesmo sujeito que sempre fui, com uns ajustes aqui e ali, que não influem nem contribuem. Permaneço mais cheio de defeitos do que embrulho de bicicleta. Um romântico, um sentimental, egoísta, ciumento, possessivo, cheio de manias, feio, pobre, moro longe e, acima de tudo, sou um incurável passional. Ah, sim, ia esquecendo. Não troco pneu de carro, não mato barata, não faço mercantil, nem tomo conta de menino novo. Pra resumo da ópera, sinceramente falando, se eu fosse mulher não queria nada comigo mesmo e nem me dava a menor bola. (Ayrton Monte)
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