terça-feira, 2 de março de 2010

Artigo: Dia do Maçom - A/0738

DIA DO MAÇOM

Indagado se eu poderia apresentar uma palestra sobre o Dia do Maçom e como, amiúde, sou solicitado a falar, aprendi que quanto mais oportunidades se me apresentarem de fazer uso da palavra, mais e mais aperfeiçoarei a minha fluência e alcançarei o domínio do medo que sempre tive de falar em público, e, assim pensando, acordei em apresentar a peça da arquitetura que lhes estou agora dando a conhecer. Contudo, não vou elogiar Maçons para os Maçons, haja vista que se diz que elogio em boca própria é vitupério, ultraje, ignomínia e, antes, o que pretendo é refletir sobre o Ser Maçom.

Quando era criança, eu me empoleirava no alto dos muros que circundavam a então única Loja Maçônica de Lages - SC, terra que me viu crescer. A Loja era um dos locais mais misteriosos que estimulavam a minha curiosidade e onde freqüentava, assiduamente, uma vez por semana, um velho conhecido meu, um Senhor que eu até hoje não sei se admirava ou se temia, justamente porque, naquele tempo, muito eu ouvia sobre a Maçonaria, particularmente do clero, com o qual eu tinha ligação estreita, por ter sido coroinha e posteriormente seminarista e mais tarde Professor.

Na verdade eu o admirava e temia ao mesmo tempo. Admirava pela elegância com que se punha, todas as terças-feiras à noite, em seu terno preto, impecável, e pela brilhante cultura que ostentava com humildade e que eu acreditava era adquirida através das constantes leituras que o via fazer em sua biblioteca, que sempre me foi franqueada e onde, desde tenra idade, habituei-me a freqüentar, mesmo nas constantes ausências do seu principal leitor, e adquiri ali, em meu próprio interesse, a consciência de quanto eu precisava do convívio com os livros, o que até hoje pratico com obsessão. Temia-o, pela pequenez que eu parecia ter diante daquela cultura e do fato de que ele era a única pessoa que eu conhecia no mundo assumidamente Maçom e que, por isso, eu acreditava tivesse aquele poder sobrenatural que lhe era atribuído como adorador do Bode Preto. Este nome arrepiava-me de medo, por ser aquele com o qual muitas pessoas referiam-se a Lúcifer, o ser das profundezas do inferno. Aliás, eu via com freqüência, que muitas pessoas, católicas em sua maioria, ao passarem em frente à Loja Maçônica, além de persignarem-se - benzerem-se fazendo três sinais da cruz (um na testa, um na boca e outro no peito, na altura do coração) - atravessavam a rua antes da Loja e passavam para a outra calçada. Algumas até retornavam à calçada de origem logo após terem ultrapassado a distância que correspondia à frente da Loja. Durante vários anos, este medo me acompanhou. Mesmo assim, flagrei-me, muitas vezes, intrigado sobre o fato de que aquele Senhor pudesse mesmo ter convívio com o Bode Preto, pois tudo nele era bondade, sinceridade, cordialidade, fineza e dispensava um comportamento todo fraternal, cavalheiresco, próprio de irmãos, aos demais senhores que também vestiam preto e que entravam naquela Loja Maçônica, em iguais dias de cada semana. No fundo, bem no fundo mesmo, eu sentia uma atração pela Maçonaria e se nela não ingressei há mais tempo foi porque a minha vida de nômade, como funcionário do Banco do Brasil, impunha a mim próprio uma dose de responsabilidade por admitir a possibilidade de que não pudesse cumprir com rigor a freqüência a que eu supunha devesse estar sujeito.

Desde a infância, pois, tenho tido a possibilidade de observar e ouvir Maçons e só a estória do que já vi e ouvi, serviria como tema para uma palestra focada no Maçom. Hoje, grau 33, estou com aproximadamente dezessete anos de Maçonaria e após o meu ingresso na Ordem, fiz o melhor que pude para usar a minha educação, meu poder de observação, meu bom senso e minha intuição para entender àqueles que passaram pelas Oficinas onde trabalhei, nos diversos Graus, e pelas tantas onde já fiz palestras. A maioria delas, muito me ensinou. E a exemplo das recomendações que eu aprendi na minha infância, todas me repetiram aquele ritual: sê humilde; e acrescentaram: se o Outro pode cavar masmorras ao vício e levantar templos à virtude, também podes! Se houve uma coisa que aprendi, às vezes de modo mais difícil, foi que a Maçonaria é indecifrável para a maioria das pessoas, inclusive para uma grande parte de Maçons. A não ser que se tenha vivido como ermitão, nas últimas cinco décadas, todos notamos que o mundo mudou numa velocidade vertiginosa e que a Maçonaria também. As mudanças sociais, a explosão tecnológica, só tornaram mais difícil a compreensão. Hoje, estamos distantes um dos outros e temos dificuldades de entender o Outro e mesmo a Arte Real. E como diz e escreve um experiente Irmão de Ordem Irmão Nilson, de cujos escritos valho-me, aqui, fartamente: "Vivemos, sim, em uma sociedade globalizada, que nos permite contato com pessoas do outro lado da cidade, do outro lado do país e até do outro lado ou de qualquer dos outros lados do mundo". Mas os mesmos avanços tecnológicos que nos permitem acessos tão extraordinários aos outros, impõem um preço: fazem com que nossos contatos pessoais tornem-se relativamente raros. Por que se reunir pessoalmente, se podemos telefonar, deixar uma mensagem na secretária eletrônica, passar um fax? Melhor, por que telefonar se podemos enviar um e-mail?Nós nos estamos instalando no Ciberespaço, baseados na palavra estéril e gerada eletronicamente, a maioria de nós sem o benefício de ver a pessoa ou de falar com ela, olhos nos olhos. E, assim, as breves fagulhas do contato pessoal ficam relegadas a encontros semanais (aos que comparecem), encontros por vezes engessados pelo ritualismo e nem sempre motivadores. Está faltando muita coisa que antes não faltava e, principalmente, está faltando aumentar o nível de confiança, e isto só é possível quando nós nos expusermos, quando nos permitirmos mostrar, entre Potências, entre Lojas, entre Maçons. É recorrente a discussão nas Lojas sobre os destinos da Maçonaria. Você é quem deve saber o seu destino na Ordem. Se você não sabe para onde está indo, provavelmente vai acabar em outro lugar. Por não estarmos conscientes de nossas próprias necessidades e não decidirmos o que nós queremos de nossa Instituição, nós nos desapontamos. Em conseqüência, esvaziamos as Lojas. Vivemos enaltecendo as glórias do passado, em relação à pseudo-inércia do presente e deturpamos princípios seculares. E por não conhecermos e tampouco vivenciarmos os Landmarks, ultrapassamos os limites do justo e do perfeito. Não é despropositada a expressão "estar dormindo" para adjetivar quem se afastou das hostes maçônicas. Ademais, as alegações , quando acontecem, de afastamentos de irmãos, se examinadas em seus detalhes, não espelharão razões capazes de justificá-las. Em tese, esses Maçons, ora adormecidos, na realidade, não nasceram para Maçons. Maçons procuram fazer e não esperam que outros façam. Maçons não têm medo de buscar a verdade, de ler, de estarem presentes, de exercitar a tolerância, de ouvir e respeitar o irmão, de ser irmão do irmão da confraria, de amadurecer o espírito e purificar a alma. Sabemos que fechar os olhos e as mentes para o que é desconfortável ou perturbador, faz parte da natureza humana. É o que chamamos de Dissonância cognitiva. Um sintoma dessa dissonância é a recusa de uma pessoa em aceitar o óbvio, criando forma de pensamento ilusório: é difícil enxergar a verdade, principalmente quando não queremos vê-la.

Nas Lojas, não apenas na nossa, é mais usual estarmos dispostos a ignorar ou a distorcer a realidade que nos perturba, em vez de agir sobre ela. Embora seja difícil, é possível superar nossa tendência a ignorar ou distorcer os fatos dos quais não gostamos. Winston Churchil, referindo-se à Rússia, disse que ela era "uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma". Ele poderia, sem o saber, estar descrevendo uma das Lojas Maçônicas existentes. Ou cada Maçom. A Maçonaria é uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma. O Maçom é uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma. Aqui nada existe de depreciativo. Trata-se de uma forma de definir a complexidade do que seja ser Maçom e Maçonaria. Mesmo os santos possuem um lado mais sombrio e os demônios podem revelar elementos de honestidade: ninguém é inteiramente consistente.

Quando olhamos para uma floresta, o que vemos? Árvores, só árvores! Precisamos aprender a ver o quadro geral, a floresta. Quando olhamos para a Maçonaria, o que vemos? Maçons, somente Maçons. Precisamos aprender a ver o quadro geral, a Instituição. É necessário que tenhamos a antevisão permissiva de ações pró-ativas na sociedade e não meramente reativas. Por outro lado, é preciso ver a árvore no cenário da floresta, o Maçom no contexto da Ordem. Shakespeare disse, certa vez, que "o mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres são apenas atores... Um homem representa muitos papéis em sua vida". Como temos atuado na personificação do Maçom, é a questão. Jô-Ellan Dimitrius, uma consultora norte-americana, disse, certa feita, que "um futuro rei mantém-se ao nível da multidão. A essência da arrogância é tentativa de elevar-se acima dos outros. Um verdadeiro príncipe anda misturado à multidão. O Cerne da humildade é o reconhecimento de que, seja qual for o status de uma pessoa, ninguém é pior ou melhor do que os outros".

No Dia do Maçom, parece-me muito apropriado refletir sobre essas questões, que nos podem diferenciar como re-estruturadores da sociedade, misturados na multidão e nela atuando como exemplo ético e inspirador. Na Loja, nossa atuação deve ter como espelho aquela historieta publicada no New York Times, à guisa de credo empresarial: certa feita, um poderoso senhor visitou um canteiro de obras, onde inúmeros operários lavravam pedras. Indagou a vários deles o que faziam ali, naquele sol inclemente e em meio à poeira sufocante. De uns ouviu como resposta: "o que faço aqui é um trabalho árduo e mal pago"; de outros ouviu: "quebro pedras", mas, de um outro ouviu: "construo catedrais".Assim, por quem sois, deveis, sim, prosseguir na lavra da pedra, estudando seus pontos fortes e fracos, desenvolvendo uma visão sistêmica da Ordem e da Sociedade que liberta; por quem sois, deveis acurar a sensibilidade de descobrir o veio escondido, em si e no Outro, a essência permissiva da mutação que iguala; por quem sois, deveis, em seu dia, optar entre ser um rude lavrador de pedras ou um artífice de catedrais, que irmana. Oxalá, o GADU permita que sejais o arquiteto da catedral do Ser Integral e que ela sirva de receptáculo à difusão da Luz que anima o mundo.

E então podereis, quem sabe, receber como herança, no coração, entendendo seu significado, um compasso e um esquadro, na forma do nosso símbolo, e usá-lo-eis com a mesma sensibilidade, com a mesma sabedoria daquele Senhor da minha infância, pois agora sois como ele pessoas comuns e singulares - porque sois Maçons. Hoje comemoramos o Dia do Maçom. Do Maçom Brasileiro.

20 de agosto. Por que este dia? Que aconteceu para que esse dia fosse o escolhido para nosso dia? Quem teve a idéia? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Em junho de 1957, em Belém do Pará, realizou-se a V Mesa Redonda da Maçonaria Simbólica Regular do Brasil. Neste conclave, sob a proposição da Grande Loja do Estado de Santa Catarina, é instituído o Dia do Maçom, sendo escolhido o dia 20 de agosto "in memoriam" a 20 de agosto de 1822, quando, em reunião conjunta das Lojas "Comércio e Artes, União e Tranqüilidade e Esperança de Niterói, Gonçalves Ledo, num brilhante e vibrante discurso, ter feito sentir a necessidade de ser proclamada a Independência do Brasil. O Dia do Maçom foi uma iniciativa da Loja Acácia Itajaiense, apresentada em proposta à Grande Loja do Estado de Santa Catarina em março de 1957, e no início se pretendia que fosse o dia 21 de abril. A idéia encontrou eco e foi levada à V Mesa Redonda, já referida, nos dias 17 a 22 de junho de 1957 e, lá, por sugestão da Grande Loja de Minas Gerais, foi estabelecido o dia 20 de agosto como o Dia do Maçom, por ter sido neste dia, supostamente, por interpretação equivocada, que a Independência do Brasil fora proclamada no interior de um Templo Maçônico e hoje todas as Grandes Potências Nacionais comemoram esta data, fruto de um equívoco do Visconde do Rio Branco, emérito estadista Maçom.
Na realidade, o dia em que Gonçalves Ledo propôs, em Loja, a nossa Independência, foi 9 de setembro e não 20 de agosto. Os fatos da referida Sessão, conforme atestam as atas existentes no GOB são verdadeiros, pois no dia 9 de setembro ainda não se tinha conhecimento dos acontecimentos do dia 7 em São Paulo, quando o Príncipe Regente foi protagonista daquele histórico gesto. Ocorre que segundo o calendário Maçônico daquela época, o ano começava no dia 21 de março, conforme se vê do modelo que analisaremos juntos. Todos os calendários maçônicos, de maneira geral acrescentam 4000 anos ao ano da era cristã, constituindo o ano da Verdadeira Luz, que começa em 21 de março. O Ano era o de 5.822 da V.L
A ata daquela sessão consta como relativa ao Vigésimo dia do Sexto mês, que era 9 de setembro ao invés de 20 de agosto. Certo ou não, o Dia 20 de agosto está consagrado como Dia do Maçom e deveremos reverenciá-lo com entusiasmo e respeito. A cada ano façamos o firme propósito de elevar cada vez mais o nosso conceito na comunidade local e Universal, alimentando-as com a chama da fé, com a energia da esperança e com o calor da caridade, na busca ininterrupta da paz e da felicidade. Viva o Dia Nacional do Maçom. (Nilson Campos Silva)

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