De uma mesma argamassa tecidual, de células que brotam de gametas insignificantes, surge, da ação de Deus, o homem pensante. Cada qual só pode dar de si aquilo que tem. Principalmente no seu aspecto essencial que se infunde pelas criaturas, a quem o Supremo Arquiteto insufla vida.
Evolução de Conceitos
Em sua caminhada existencial, o homem vem tateando nas trevas, à procura da Luz de que já é parte. Obviamente, tem experimentado avanços e recuos, ao correr das eras, nessa caminhada do ser em busca de si mesmo. À primeira vista, o homem concebeu a Infinita Sabedoria como algo espetacular, enérgico, terrível até, incomum e assustador, às vezes.
No conceito primitivo, associaram Deus à guerra, como Marte; à fertilidade, como Afrodite; ao amor, em sua expressão física, como Eros. Ao amor sensual com a deusa Vênus. Ricas sãos as listas dos panteões com seu olimpo de variados deuses.
O Conceito do Deus Único
Atendo-se à lógica que ressalta da harmonia reinante, é fácil deduzir com clareza que o Poder Supremo não poderia ser senão Único. Pela sua ação sempre a mesma em toda parte, sobreveio, no entanto, o conceito do deus guerreiro, poeticamente denominado o Senhor dos Exércitos. Se a denominação, por intenção de dispensar honra e reconhecimento a Deus alimentava com uma imagem feliz e segura o crente indefeso, por outro lado sugeria uma visão parcial e mesmo limitada do Onipotente.
A Nova Luz
Precedendo ao Mestre Jesus nessa caminhada lenta em busca de uma concepção sobre o Criador, o profeta Isaías (ano 760 AC), compara Deus a uma Mãe. Cristo, em seu Ministério, ocupou-se, principalmente, em transmitir o senso de que Deus é Amor e Vida. Por um ou outro aspecto que se tome o Evangelho, o Mestre Jesus reiterou insistentemente que só Deus é Pai. Obviamente, somente Deus se reserva o Poder Único de criar e manter, pois todo homem, por mais poderoso que seja, nada pode criar na face da Terra ou em qualquer lugar. Requereram-se séculos de preparo para a mensagem firmar-se sobre a Verdade que sempre foi a mesma: Deus é Amor.
Ponto Inegociável
O ser humano precisa viver na Lei do Amor. Este ponto revela-se-nos inegociável e definitivo da parte do Criador. Ainda que suscite, ainda hoje, entre alguns psicólogos, discussões sobre o instinto gregário, tudo conspira para a evidência de que ninguém é talhado para o isolamento. Podemos ajuizar, à vista do cenário que descortinamos além da retina, que o Plano Divino ainda não se concluiu na face da Terra.
A Liberdade de Ser e de Viver
Se é que existe neste Planeta uma Liberdade, ela consiste única e exclusivamente naquela disposição que o Criador confere a cada habitante deste mundo. Enquanto criaturas, inegavelmente cada qual se afeiçoa ao plano de quem o criou. Esta decorrência é inevitável. Há a liberdade para eleger diferentes caminhos por quais trilhar, mas caminhar é preciso. Há uma determinante irrecorrível quanto ao processo evolutivo que cada criatura deve experimentar. Exatamente para esse palmilhar da jornada, por qualquer que seja a direção que se tome, o impulso vivencial é e sempre será o Amor.
Atualizando Impressões.
Diferentemente do selvagem com seus rudes conceitos do deus-trovão, do deus-tempestade, já prevalece a noção de Deus-Amor. A cada dia veremos crescer esta noção, cada vez mais fácil de ser entendida e aceita, de uma ou de outra forma, pois amar é preciso. Se alguém acha possível negar este compromisso da condição humana, poder-se-ia compará-lo a qualquer vivente ignorante da própria vida.
O Ingrediente Temporário
Desde os primórdios do aparecimento da figura humana na Terra, há inúmeros fatores a conspirar para que impere a união em todos os setores da existência. Em função da complexidade da vida moderna, com um séquito de necessidades, reais e imaginárias que o progresso tecnológico impõe, cada vez mais um número maior de pessoas passa a depender de outras para atender as demandas do dia-a-dia.
Filhos das Mesmas Necessidades
Em tempos recuados, fosse ,muito embora, uma forma quase inconsciente de amor, cimentada na convivência e trocas diretas, próximas e vivenciadas com freqüência, o próprio interesse pessoal conduzia a essa identificação do Homem com o seu Semelhante. Hoje, com as demandas ainda mais urgentes, a dependência de um ente para com outro continua sendo fundamental. Há essa interação alienada, seriamente prejudicada em função da diluição da consciência grupal e um tremendo afloramento do individualismo. Hoje todos dependem de um sistema sem face numa vida cada vez mais anônima.
A Família
O ser humano se irrompe do casulo do nada para a vida através da família. Desse núcleo, do qual decorre uma comunhão natural de anseios e interesses, a disposição amorosa do ascendente para com o descendente é inegável. É por esses veios que o amor exerce, ou deverá exercer a sua ação primordial no mundo. Os pais passam a dar vazão a um sentimento que outrora não haviam experimentado.
Uma dedicação que dispensa explicações do raciocínio com efeitos óbvios. Assim, a Natureza ou Deus, ou ambos, faz cumprir os seus desígnios de que precipuamente nesse círculo, hoje bem mais restrito do que no âmbito grupal de nossos antepassados, a chama do amor não se apague.
Da Descendência para a Ascendência
Talvez por pouco se dar ao uso, o amor filial se arrefeceu de uma forma talvez explicável mas não aceitável como satisfatória. Os seres humanos cada vez menos se dão ao exercício de deixar que o amor flua de si mesmos. Daí não ser difícil avaliar a situação de muitos idosos relegados à solidão, e, quando não, ao abandono, por parte dos filhos que, por sua vez , também já têm seus filhos e nestes investe toda a sua quota de amor. E com isto a mesma história triste se repete indefinidamente.
O Amor é fruição
Todo este drama não decorre da incapacidade de criar o amor, pois ele já vem na origem de cada ser humano na face da Terra. Será o bastante permitir que esse sentimento divino se derrame do coração sem derivar a vida, que é um dom, para um senso de necessidades e compromissos maiores do que em realidade as atribuições da vida requerem de cada um.
O Sistema Não é Onipotente
O sistema absorvente da vida atual não pode se apresentar como onipotente. O compromisso que cada qual tem consigo mesmo deve permanecer inalterado, conservando sua prístina pureza, de doação e participação.
No instante em que não mais se lutar contra o amor, soará a hora da redenção. No momento em que a ciência, hoje tão acreditada, provar que o egoísmo é a pior entre todas as enfermidades do Universo, certamente homens e mulheres deixarão o amor fluir, como o mar e os rios fluem incessantemente dessedentando a terra. Não há nada de especial a fazer. Apenas deixar que o amor ocupe o seu lugar em cada alma, pois nada o pode substituir.
Assim como o sistema descobriu que o preconceito racial é um desserviço à humanidade, tal prática foi tida como inaceitável e surgiram leis proibindo essa prática. Quando a ciência estabeleceu que certos males, antes atribuídos a demônios e maus espíritos eram nada mais que enfermidades curáveis por medicamentos, como a epilepsia e o histerismo, a superstição foi varrida em definitivo. Tão logo os cientistas constataram a devastação e a degradação ambiental de nosso querido Planeta Azul, exortaram ( ao feitio dos antigos profetas bíblicos) e hoje a Ecologia tem o seu lugar em todos os governos e parlamentos do mundo.
Tão logo a ciência demonstre - e já começa a fazê-lo - que o Amor é a suprema razão da vida em qualquer latitude e o ingrediente básico da felicidade, o mundo vai se aperfeiçoar à sua receita original de felicidade. A ciência, às vezes presunçosa, sempre se pauta pela cautela e pelo bom senso.
Mas tanto quanto a religião, como produto da alma humana, a ciência tem uma origem divina e cedo ou tarde descobrirá que o Amor é a pedra filosofal oculta que construirá o paraíso na Terra.
(Geraldo Peres Generoso – Ipaussu, SP)
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