Ode a um Apóstolo da Fé
O homem contemporâneo reconhece-se muito melhor na parábola budista do elefante e dos cegos: uma vez, um rei da Índia do Norte reuniu num lugar todos os habitantes cegos da cidade. Em seguida fez passar um elefante diante deles. Deixou que uns tocassem na cabeça, e disse: “Um elefante é assim”. Outros puderam tocar na orelha ou na presa, na tromba, nas costas, na perna, no traseiro, nos pelos da cauda. Depois disso, o rei perguntou a cada um deles: “Como é um elefante?”. E, conforme a parte que tivessem tocado, respondiam: “É como uma cesta trançada...”, “é como um vaso...”, “é como o cabo de um arado...”, “é como um depósito..., “é como uma coluna...”, “é como um morteiro...”, “é como uma escova...”. Então - continua a parábola – começaram a discutir, aos berros: “O elefante é assim”, “não, é assim”, se atiraram uns sobre os outros e trocaram pancadas, para grande divertimento do rei. A disputa entre as religiões parece aos homens de hoje como essa disputa entre cegos de nascença. Porque diante do mistério de Deus nascemos cegos, ao que parece. Para o pensamento contemporâneo, o cristianismo não se acha absolutamente numa situação mais favorável em relação às outras religiões, pelo contrário: com a sua pretensão à verdade, parece ser particularmente cego diante do limite de todo nosso conhecimento do divino, caracterizado por um fanatismo particularmente insensato, que incorrigivelmente toma pelo todo a parte tocada na sua própria experiência. (Joseph Ratzinger - 27 de novembro de 1999)
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