segunda-feira, 7 de julho de 2008

Consciência Cósmica no Oriente - A/0017


Consciência Cósmica no Oriente

"O degrau máximo da vida de um ser humano é chegar à compreensão de que tudo é ilusório" Buda São curiosas mesmo as similitudes entre as mais diversas religiões do mundo quando as estudamos de perto. O que o Eclesiástico chama de "vaidade", a tradição hindu chama de "ilusório". A dor, mera ilusão, o mesmo valendo para os prazeres. Aplausos? Ilusão. Sucesso? Ilusão. Fracasso? Ilusão. Vaias? Ilusão. Morrem aqui todas as dicotomias de um mundo religiosamente fundado em pontos de vista éticos. Mesmo aquilo que ousaríamos chamar valorativamente de "bem" ou de "mal", não passa de ilusão; tudo são manifestações da Mente Superior que tudo vê e a tudo criou. E como é que poderia ser diferente? A história de Sidarta Gautama, o Buda, O Iluminado, Aquele que despertou, amplamente conhecida por nós no ocidente não é "novidade" para a tradição hindu. A "pedagogia" religiosa hindu clássica sempre pautou-se pela busca do mais elevado degrau da iluminação. Na infância e pré-adolescência, estudava-se os Artha (como lidar com o mundo das aparências, com o prático-pragmático em termos nossos). A transição da adolescência para a idade adulta trazia o ensino dos Kama (relações de plenificação e realização com o sexo oposto). A maturidade era contemplada com o aprendizado das leis do Dharma ("política" no sentido de "relações intersubjetivas em todas as esferas de atuação no cotidiano ao longo da vida". Estes três primeiros degraus de aprendizado eram inclusive acompanhados de manuais, o Sutra; assim temos o Artha Sutra (manual de orientação profissional), o Kama Sutra (manual de orientação para o amor) e o Dharma Sutra (manual de ciência política). Aqueles cujas ânsias e pulsões internas apontassem naquela direção, após sucesso comprovado nas esferas anteriores eram orientados pessoalmente por grandes líderes espirituais (os gurus) podendo chegar ao Moksha (Iluminação, o grande despertar das percepções psíquicas superiores). O caminho seguido por Sidarta, contudo, é exemplar. Rememoremo-lo, portanto: abandonando o luxo e a luxúria em que vivia, primeiro Sidarta foi viver entre os anacoretas, os mendicantes, depois abandonou-os também quedando-se meditativo na chamada "Árvore do Conhecimento", onde sofre as três tentações clássicas; a luxúria, o medo da morte e a de viver preso aos deveres sociais. Vale remarcar aqui que Cristo também passou por três tentações no deserto. Não foram as mesmas tentações, mas também foram três; primeiro a tentação "econômica", quando satanás sugere que transforme pedras em pães e é repreendido; a seguir a tentação política, quando lhe são oferecidos os reinos da Terra e, de novo, Cristo o repreende; finalmente a tentação espiritual, quando é convidado a arremessar-se do alto do Templo para que anjos o amparem: a repreensão final, não tentarás o Senhor teu Deus! faz o demônio desaparecer. Algo similar, guardadas todas as proporções, ocorre com Sidarta. Primeiro surgem as três belíssimas filhas de Mâra, Senhor da Ilusão e do Medo, que são sopradas para longe, o iniciando não se move por aquele tipo de convite e um forte vento as tira do cenário. A segunda tentação é o surgimento de um monumental exército atirando as armas mais avançadas do tempo contra o iniciando (diz-se que até montanhas lhe são arremessadas); sem problemas. Sem nem mesmo piscar os olhos, vê Sidarta cada faca, lança, seta ou pedra transformadas em flores que lhe caem aos pés. Bela metáfora: "Atirais-me pedras? Recebo-as como homenagens!" Com tudo isso, pouquíssimos de nós consegue ver a rosa por dentro da cruz de sofrimentos que carregamos ao longo da nossa existência nesta terra. Finalmente a tentação para com os deveres sociais, quando lhe é sugerido que não tem o direito de ficar ociosamente meditando ao pé de uma árvore quando há tantas coisas no mundo da concreção a demandar cuidados e atenções. Neste momento Sidarta dá um leve sorriso, toca a Terra e é a própria Terra que responde ao Senhor da Ilusão: "Que deveres sociais têm precedência a encontrar a Iluminação, o caminho para a Libertação de toda a espécie humana?" Mâra desaparece assim que percebe ser, também ele, mais uma ilusão... Que bela dádiva seria receber tudo o que se nos oferece como pétalas de flores, por mais que a intenção de quem nos presenteia fosse diversa desta. Viver inatingido e permanecer impassível ante aplausos ou vaias, ante sucessos ou fracassos, que a vida é cheia destas ilusões todas; isto é atingir o mais elevado degrau da Iluminação, o que os hindus classicamente chamavam Moksha e a tradição budista ensinou a nomear Nirvana. Quem chega neste estágio não mais precisaria permanecer no mundo e se o faz por compaixão, para ensinar aos seus irmãos humanos os degraus da iluminação, é reverenciado pelos hindus como o Jivan-Mukta ( o "libertado vivo") ou Bodhisatva, aquele cujo ser (satva) é iluminação (bodhi).

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