quinta-feira, 3 de julho de 2008
A Poesia Bucólica - A/0013
G�nero liter�rio sin�nimo da poesia pastoril que respeita as conven��es cl�ssicas provenientes, sobretudo, das Buc�licas de Virg�lio e dos Id�lios de Te�crito de Siracusa. Este g�nero enuncia um ideal de vida que canta as belezas da vida do campo, o espa�o dos pastores, a ingenuidade dos costumes, o quotidiano tranquilo em simples contacto com a natureza. Trata tamb�m dos amores, alegrias e penas dos pastores que contrastam com os sobressaltos e inquieta��es da vida urbana.A poesia buc�lica � tamb�m conhecida por poesia pastoral ou pastoril. O pastor � o representante de um mundo natural, simples, cuja entrada corresponde invariavelmente a uma evas�o, n�o s� em termos de espa�o (da cidade para o campo) como tamb�m em termos de tempo (do presente para o passado). Assim, h� como que uma idealiza��o do modo de viver campesino, onde se cria um ambiente imagin�rio de paz e perfei��o, no qual n�o existe qualquer tipo de corrup��o. Toda o cen�rio buc�lico pressup�e a descri��o de uma utopia passada. Esta idealiza��o leva a que a vida campestre seja associada � Idade de Ouro (passado), altura em que o homem vivia em harmonia com a natureza e antes de sucumbir ao pecado do orgulho. Outras imagens t�picas deste tipo de poesia s�o: o pastor que descansa debaixo da faia e que medita sobre a musa rural; o pastor que toca a sua flauta redentora, que, por vezes, se envolve num concurso musical amig�vel com outro pastor; expressando a boa ou m� sorte com a sua amada (m� sorte esta que quebra a monotonia do �cio perfeito, pois provoca a infelicidade); o pastor que chora a morte de um pastor amigo. � tamb�m de notar que este tipo de literatura p�e em cena figuras reais, tais como o pr�prio pastor ou os seus amigos, com a condi��o de estarem disfar�ados, recorrendo para isso ao uso de anagramas.O bucolismo po�tico teve muitos seguidores, nomeadamente na Idade M�dia, altura em que as imagens buc�licas servem o ensinamento crist�o, isto porque Cristo era o Pastor e os homens o seu rebanho. Durante a Idade M�dia, Bo�cio, Dante e Chaucer s�o alguns dos escritores que retratam este modo de vida simples do pastor, modo de vida que � tido por uma prefigura��o simb�lica do mundo ed�nico. Nas pastorelas da poesia trovadoresca, podemos registrar algumas insinua��es buc�licas.J� no Renascimento, com a poesia de Petrarca, Boccaccio (Ameto, 1341, e Ninfale Fiesolano, 1344-1346), Sannazzaro (Arc�dia, trad. para castelhano em 1549), a poesia castelhana de Bosc�n e Garcilaso, as �clogas Basto e Montano de S� de Miranda, a poesia de Bernardim Ribeiro e as Rimas de Cam�es, entre outros, esta tem�tica � ainda adaptada a escritos sat�ricos e aleg�ricos, como por exemplo The Shepherd�s Calendar (1579) de Spenser, no qual o mundo pastoral cl�ssico � idealizado para os pastores ingleses. Generaliza-se tamb�m a pr�tica de representa��o dram�tica de �clogas nas principais cortes europeias. O pr�prio Gil Vicente deve a inspira��o dram�tica �s �clogas de Juan del Encina (Cancionero, 1496). A �cloga � a forma liter�ria preferida dos poetas renascentistas que trataram de temas buc�licos.O mundo pastoril vai oferecer ao homem renascentista um ref�gio, um mundo ut�pico paralelo � sociedade real onde pode haver uma dedica��o exclusiva ao �cio. � nesta �poca que se desenvolvem as cidades, fen�meno que arrasta consigo o sentimento de nostalgia pela simplicidade e tranquilidade da vida r�stica. As conven��es pastoris s�o de tal forma populares que v�o influenciar outras formas liter�rias como as novelas (por exemplo, a Lusit�nia Transformada, de Fern�o �lvares do Oriente, a Consola��o �s Tribula��es de Israel (1533), de Samuel Usque e a trilogia de Francisco Rodrigues Lobo A Primavera, O Pastor Peregrino e O Desenganado, 1601-1608). A c�lebre Menina e Mo�a (1554), de Bernardim Ribeiro tem tamb�m ingredientes buc�licos, embora entre na categoria de �novela sentimental�.No neo-classicismo e no romantismo, assiste-se a um afastamento deste tipo de literatura gasta pelos seus convencionalismos. Apesar disto, h� um reencarnar do pastor no her�i rom�ntico.No s�culo XIX e XX, n�o vamos encontrar qualquer �di�logo de pastores�, apesar dos anseios humanos serem os mesmos. Podemos detectar temas buc�licos nos romances de J�lio Dinis, em A Cidade e as Serras, de E�a de Queir�s, na poesia de Ces�rio Verde, Jo�o de Deus, Cec�lia Meireles e de Miguel Torga, e nos romances de Aquilino Ribeiro. Na sua acep��o moderna, o termo foi expandido de diferentes maneiras: em Some Versions of Pastoral (1935), William Empson defende que a cria��o pastoril � aquela em que h� um contraste entre a vida simples e a vida complexa, estando a vantagem do lado da primeira. A vida simples pode, no entanto, ser n�o s� a do pastor mas tamb�m a da crian�a e � usada como s�tira �s classes mais altas da sociedade. Outros cr�ticos passam a classificar de buc�lica qualquer obra que represente uma fuga � vida quotidiana para um local distante ou ent�o, pode aplicar-se a qualquer poesia com um pano de fundo r�stico.
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