Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser perfeito, relaxaria mais. Teria menos pressa e menos medo. Daria valor secundário às coisas secundárias; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria muito mais alegre do que fui: só na alegria existe vida. Manteria distâncias enormes de pessoas ciumentas e possessivas. Seria mais espontâneo. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Seria mais ousado: a ousadia move o mundo. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos sopa, teria menos problemas reais e nenhum problema imaginário.
Eu fui uma dessas pessoas que vivem preocupadamente cada minuto de sua vida; claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, tentaria somente ter bons momentos. A vida é feita disso: só de momentos. Nunca percas o agora. Mesmo porque nada nos garante que estaremos vivos amanhã de manhã. Eu era desses que não ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-queda; se voltasse a viver, viajaria mais leve. Não haveria comigo nada que fosse apenas um fardo.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no início da primavera e continuaria assim até o final do outono. Jamais experimentaria os sentimentos de culpa ou ódio. Teria amado mais a liberdade e teria mais amores do que tive.
Viveria cada dia como se fosse um prêmio. E como se fosse o último. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria muito mais do que brinquei. Teria descoberto mais cedo que só o prazer nos livra da loucura.
Tentaria uma coisa nova todos os dias, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, como sabem, tenho 88 anos e sei que estou morrendo.
Jorge Luís Borges
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