A Casa da Mãe de Jesus em Éfeso
O Papa Bento XVI em sua visita à Turquia, celebrou uma Missa no dia 29 novembro de 2006, em Éfeso, ao lado da Casinha na qual, segundo a tradição, viveu Maria com São João. Muitos cristãos do Oriente e do Ocidente, desde os primeiros séculos, mencionaram a estadia do apóstolo João, acompanhado da Virgem, nesta cidade, na qual se encontrava a sede da primeira das sete igrejas recordadas no Apocalipse: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia. A mais importante de todas as cidades era Éfeso, que na época devia ter cerca de 250 mil habitantes; era poderoso centro do império romano. Nesta cidade foi realizado o importante Concilio de Éfeso, em 431, quando foi declarado o dogma da Maternidade divina de Maria, Mãe de Deus, “Theotokos”. Ainda existem lá os restos da Basílica onde o Concilio se reuniu. Na época grassava a heresia de Néstorio, patriarca de Constantinopla, que ensinava que em Jesus havia duas pessoas, uma humana e outra divina, e que Maria seria apenas a Mãe de Jesus homem, mas não de Jesus Deus. Como se chegou a descobrir esta Casa Santa?A descoberta aconteceu no final do século XIX. Em 29 de julho de 1891, dois sacerdotes da Congregação da Missão (lazaristas) franceses, os padres Henry Jung e Eugène Poulin, cedendo às insistentes petições da irmã Marie de Mandat-Grancey, a superiora das Filhas da Caridade, que trabalhavam no hospital francês de Esmirna (Izmir), saíram em busca da casa de Maria, tendo como bússola as visões da mística alemã Anna Katharina Emmerick (1774-1824). Os dois sacerdotes, antigos soldados do exército francês, subiram o Bulbul Dag (que em turco quer dizer «a colina do rouxinol), que se eleva acima da planície de Éfeso. Junto a uma fonte, encontraram as ruínas de uma casa, que dava a impressão de ter sido utilizada como capela, e que correspondia perfeitamente à descrição de Emmerick. Era o «Panaya üç Kapoulou Monastri», como o chamavam os cristãos ortodoxos do lugar, ou seja, o «Mosteiro das três portas de Panaya, a Toda Santa», por causa dos três arcos da fachada. Esses cristãos gregos, que falavam turco, foram ao lugar em peregrinação na oitava da festa da dormição de Maria, em 15 de agosto. Os sacerdotes fizeram uma investigação entre os habitantes do lugar e puderam confirmar a existência de uma secular devoção que reconhecia na capela em ruínas o lugar da última residência terrena de «Meryem Ana», a Mãe Maria. Estudos arqueológicos realizados entre 1898 e 1899 trouxeram à luz, entre as ruínas, os restos de uma casa do século I, assim como as ruínas de uma pequena população que se desenvolveu ao redor da casa a partir do século VII. O Papa Leão XIII (1878-1903) se pronunciou favoravelmente sobre estas descobertas e restabeleceu no “Ordo Romanus” uma nota que por ocasião da festa da Assunção mencionava Éfeso como provável lugar da dormição da Virgem. O santuário «Meryem Ana», ante o qual o Papa celebrou a missa, ao ar livre, foi restaurado nos anos cinqüenta do século passado com pedras e material do lugar. Nesses momentos, a atenção pastoral foi encomendada aos freis capuchinhos. A Casa de Maria foi visitada por Paulo VI em 1967 e por João Paulo II em 1979, o que aumenta sem dúvida a sua importância. É meta de peregrinação também dos muçulmanos, pois Maria é apresentada no Alcorão como «a única mulher que não foi tocada pelo demônio». Na Missa celebrada pelo Santo Padre, os textos e as leituras bíblicas em particular sublinharam o mistério da maternidade de Maria em referência à sua presença, junto ao Apóstolo João, sob a Cruz do Senhor. As palavras de Jesus na Cruz: «Eis aí o teu filho... Eis aí a tua Mãe» (João 19, 26-27) foram acolhidas pela Igreja como um testamento especial no qual Cristo confiava à Virgem Maria todos os discípulos como filhos, e entregava aos discípulos a sua Mãe. A Casa de Maria Virgem em Éfeso é um ícone da Igreja Cristã e para todos os peregrinos; dali ela certamente acompanhou as primeiras comunidades cristãs naquele primeiro século do Cristianismo nascente, perseguido severamente pelo Império Romano. Do alto das montanhas de Éfeso, a mais ou menos quatro quilômetros da cidade, repleta de idolatria romana, Maria certamente velava e orava pela Igreja do Seu amado Filho que começava na Terra a gloriosa e sangrenta história de salvação da Humanidade.
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