A Teoria da Ordem Implícita
Nesta série não poderia faltar a presença de David Bohm, uma combinação rarade cientista, filósofo e sua teoria sobre a origem da vida, da REALIDADE, do universo visível e, mais além. David Bohm foi considerado um dos maiores físicos especulativos do mundo e um dos teóricos mais influentes da física moderna. Seu primeiro livro "Casualidade e Acaso na Física Moderna" (1957), tornou-se um clássico no campo da mecânica quântica e é utilizado profusamente em universidades de todo o mundo.
Bohm foi aluno de J. Robert Oppenheimer edurante a Segunda Guerra Mundial, estudou os efeitos do plasma nos camposmagnéticos. Juntamente com outros cientistas, chegou a uma teoria que desempenha papel importante nos estudos da fusão - fenômeno hoje conhecido como "difusão Bohm". Nos últimos anos da sua vida o cientista dedicava-se ao estudo dos fundamentos da teoria quântica e da relatividade, bem como em suas ignificação filosófica, incluindo as pesquisas feitas no Lawrence Radiation Laboratory, em Berkeley.
Pesquisando a natureza da consciência, devido aos problemas que encontrou na mecânica quântica, Bohm descobriu Krishnamurti, o grande filósofo hindu, com quem atou uma forte amizade. Juntos, promoveram palestras e debates sobre assuntos importantes e que depois foram publicados em livros. A exemplo de Fritz Kunz, David Bohm é um dos pouquíssimos cientistas que, por intermédio da ciência, percebeu um universo de verdade, beleza, significação e até bondade, tornando essa percepção convincentemente viva para os demais. A sua teoria da ORDEM IMPLÍCITA emergiu de seus estudos sobre as variáveis ocultas e a interpretação superficial da mecânica Quântica - propondo que uma ordem oculta atua sob aparente caos e falta de continuidade das partículas individuais de matéria descritas pela mecânica quântica. Bohm, a exemplo de Einstein, mas por razões diferentes, nunca aceitou as interpretações correntes da teoria quântica".
A Teoria da Ordem Implícita
A idéia básica da ordem implícita: em geral, a totalidade da ordem abrangente não pode se tornar manifesta para nós; somente um certo aspecto dela se manifesta. Quando trazemos essa ordem abrangente para o aspecto manifesto, temos uma experiência de percepção. Mas isso não quer dizer que a totalidade da ordem seja apenas aquilo que se manifesta. Na visão cartesiana, a totalidade da ordem, pelo menos potencialmente, é manifesta, embora não saibamos como manifestá-la por nós mesmos. Precisaríamos de microscópios, telescópios e outros instrumentos mais. [Ou seja: a realidade está TODA DADA, nós é que, por falta de instrumentos adequados, nãoc onseguimos conhecê-la.
A sugestão básica da teoria de Bohm, de início, é a de que vivemos num mundo multidimensional e a nossa moradia está situada no nível mais óbvio e superficial: o mundo tridimensional dos objetos, espaço-tempo, ou seja, na ORDEM EXPLÍCITA. Neste nível, explica Bohm, a matéria é de graduação densa eembora possa ser descrita em relação a si mesma, não é a maneira de explicá-la e entendê-la com clareza. Infelizmente, nesse nível, é que muitos físicos trabalham hoje em dia, apresentando suas descobertas na forma de equações de significado obscuro.
Então, o que fazer? Bohm indica o caminho: avançar para um nível mais profundo: para a - ORDEM IMPLÍCITA - a FONTE e o FUNDO abrangente de toda a nossa experiência física, psicológica e espiritual. Esta FONTE está situada numa dimensão de extrema sutileza, ou seja, na ORDEM SUPER IMPLÍCITA . E não termina aí, além dela pode-se postular muitas ordens semelhantes, mergulhando numa fonte ou esfera infinita -n-dimensional.(...)
O Holo movimento
Ao fundo vasto e dinâmico desta teoria, Bohm chamou -Holo movimento. Segundo Bohm, o holo movimento está situado na esfera do que é manifesto. O movimento básico do holo movimento é o recolhimento e o desdobramento. [Ainspiração e a expiração de Brahma; a concentração e a expansão do Universo, segundo as teorias hindus? "Afirmo que toda a existência é, basicamente, um holo movimento que se manifesta numa forma relativamente estável", diz Bohm.
Bohm explica que o fluxo está, pelo menos, numa condição de equilíbrio "fechando-se com o vórtice que se fecha sobre si mesmo, embora continue a mover-se". Perguntado em uma entrevista - "O senhor disse que essas seriam formas mais densas de matéria e não mais sutis ou menos estáveis", Bohm respondeu: "Digamos que são formas mais estáveis de matéria. Veja, até a nuvem conserva uma forma estável, de modo a ser vista como uma manifestação do movimento do vento. Da mesma maneira, a matéria como que formaria nuvens no interior do holo movimento e elas manifestariam o holo movimento aos nossos sentidos e pensamentos comuns". Seriam todas as entidades e... nós mesmos, com todas as nossas faculdades, formas do holo movimento? O que respondeu David Bohm a esta indagação? Bohm: "Sim, e também as células, os átomos. Acrescento que isso começa a favorecer a compreensão da mecânica quântica: esse desdobramento constitui uma ideia direta do que é entendido pela matemática da mecânica quântica. Estamos falando precisamente sobre o que é chamado de transformação unitária ou descrição matemática básica do movimento na mecânica quântica. Trata-se simplesmente da descrição matemática do holo movimento". Relação entre o Holo movimento e a Matemática da Moderna Teoria Quântica(...)
A teoria moderna afirma que o vácuo contém toda a energia até então ignorada (pelos físicos) por não poder ser mensurada por instrumentos. Ora, nos termos da filosofia [positivista, é claro, apenas o que pode ser mensurado por instrumentos dever ser considerado real, em que pese o fato de alguns físicos informarem a existência de partículas absolutamente não-mensuráveis por qualquer instrumento. Só o que se pode dizer é que o atual estágio da física teórica implica a aceitação de que o espaço vazio possui essa energia, sendo a matéria tão somente um pequenino desdobramentodela. Assim, a matéria não passa de uma minúscula onda nesse portentoso oceano de energia, embora dotada de relativa estabilidade e revestida de caráter manifesto. Adianto, pois, que a ordem implícita aponta para uma realidade que ultrapassa de muito aquilo que denominamos matéria. A matéria é apenas uma ondazinha nesse contexto. Precisamente nesse oceano de energia, que não está primordialmente no tempo e no espaço, mas na ordem implícita, não manifesta. E pode manifestar-se nessa pequenina porção de matéria. Supõe-se que a fonte última é imensurável, fora do alcance de nosso conhecimento. São estes os termos da física contemporânea.
Bohm faz uma importante descoberta , esclarecendo como a energia que emana do TODO, da ordem implícita, pode assumir aspectos diferentes em indivíduos diferentes. Ele esclarece as dúvidas dizendo que o todo é enriquecido pela introdução da diversidade e pela realização da unidade da diversidade...
A individualidade só é possível enquanto desdobramento do todo. Seria ela, então, um egocentrismo? O cientista-filósofo afirma que o egocentrismo não pode ser confundido com individualidade, o primeiro é baseado na auto-imagem, um erro, uma ilusão. A segunda desdobra-se a partir do todo de maneira particular e num momento particular.
A Evolução
A natureza, sob determinados aspectos, cria através da evolução. Bohm já havia manifestado, na sua teoria, assertivas muito originais como: "somos capazes de ordenar o que fazemos, podemos desempenhar um papel funcional na produção de uma ordem superior, que seria inviável sem nós. Não apenas a modificamos levemente, mas, principalmente, embora provoquemos minúsculas mudanças no todo, isso é crucial para que essa ordem possa transformar-se em algo novo, capaz de por em ação o seu potencial. Somos parte do movimento, não há separação entre nós e ele; somos parte da maneira com que se molda a si próprio".
O Gênesis - A Criação do Universo "A idéia atual do universo pode representar algum estágio de um universo maior, um universo de luz. Até onde podemos perceber, esse universo de luz é eterno. Entretanto, a certa altura, alguns desses raios luminosos se juntaram e produziram a grande explosão - o Big-Bang. Isso desencadeou o nosso universo, que também terá um fim".
O cientista especifica onde está situado este universo luminoso - além do tempo - o que pode significar que existam outros universos além do nosso, com várias idades, várias eternidades, e necessariamente não serão sucessivos. Descartes, na física, vê o movimento como sendo uma entidade ou qualquer coisa que se mova de um ponto a outro. O holo movimento de Bohm não concorda com o pensamento cartesiano; o seu holo movimento é MANIFESTAÇÃO e NÃO-MANIFESTAÇÃO. Nele, a ordem implícita se torna MANIFESTA e NÃO MANIFESTA e assim por diante.
O Universo Pensa? Criação e Seleção
Sendo a ordem explícita - o universo de luz - a FONTE de toda a manifestação, podemos supor que, talvez, o universo PENSA, ou algo assim. O universo tenta uma variedade de formas. A seleção natural explica como as coisas sobrevivem depois de sua emergência ou aparição, mas não explica porque tantas formas surgiram. Parece existir uma tendência em produzir formas e estruturas, sendo a sobrevivência ou seleção natural um mero mecanismo que escolhe as formas destinadas a durar. Toda forma incompatível consigo mesma ou com o meio ambiente está fadada ao desaparecimento. "Penso que o universo aprende".
A Produção de Formas
Dando o exemplo da semente: energia e nutrientes vêm do sol, do ar, da terra, da água e do vento, mas a própria semente tem pouquíssima energia. No entanto, possui a forma da planta e essa minúscula energia ou forma se imprime em todos os outros fatores para produzir a planta. Essa pitada de energia governa, de algum modo, o desenvolvimento subseqüente, de modo que osistema inteiro se destina à produção de uma planta e não de um cão, de um gato ou de outra coisa qualquer. Pensamento e matéria são ordens muito parecidas. Podemos dizer que a natureza ou a matéria também é criatividade e pensamento intuitivo. Assim, num certo sentido, a natureza tem vida. E inteligência. Ela é mental e material, como nós. Se alguém é percebido como inimigo, a matéria se organiza de maneira diferente do que o faria caso se tratasse da percepção de alguém amistoso. O elétron faz praticamente o mesmo que nós, ao reagir a determinada situação. Ele observa o ambiente. O Que Seria a Matéria para Bohm?
Bohm, falando sobre a metáfora existente no misticismo: iluminado, iluminação, fez-se a luz - chega a uma conclusão muito importante sobre a origem da matéria à luz da física moderna: "Quando um objeto se aproxima da velocidade da luz, segundo a relatividade, seu espaço interno e seu tempo interno mudam; o relógio se atrasa em relação a outras velocidades e a distância é encurtada. Descobre-se que as duas extremidades do raio luminoso não guardam tempo ou distância entre si, representando, conseqüentemente, um contato imediato (esclarecido pelo físico G. N. Lewis nos anos 20). No ponto de vista da moderna teoria de campo, os campos fundamentais são os dotados de energia superior, em que a massa pode ser negligenciada; eles poderiam se mover à velocidade da luz. A massa é um fenômeno originado da conexão dos raios luminosos em seu avanço e recuo, uma espécie de consolidação num dado esquema. Então, é como se a matéria fosse luz consolidada, congelada. A matéria não se constitui apenas de ondas eletromagnéticas, mas, num certo sentido, de outros tipos de ondas que avançam à mesma velocidade.
Portanto, toda a matéria é condensação de luz em esquemas que avançam e recuam a velocidades médias, inferiores à da luz. O próprio Einstein teve vislumbres dessa idéia. Diríamos que vir à luz, significa assumir a atividade fundamental onde a existência se embasa, ou,pelo menos, aproximar-se disso". "A luz é o meio através do qual o universo inteiro se concentra em si mesmo... É uma condição real, pelo menos no quadro da física... A luz é energia, informação. Conteúdo, forma e estrutura. É o potencial de tudo".
David Bohm preocupou-se com o tema da "consciência" e o fez de uma forma tão magistral que, resguardando-se a essência da sua interpretação, segundo a sua teoria, o neurofisiologista Antonio Damásio teve nele um precursor de monta: Bohm acreditava na consciência como não apartada da matéria e do processo neurofisiológico. Muitos dos leitores estarão curiosos em saber o que os colegas de David Bohm, os cientistas da física, pensariam sobre toda esta teoria que reunimos aqui.Bohm: "A física moderna não passa de um sistema destinado a computar e fornecer resultados empíricos. De fato, considero que toda a idéia nova deve pressupor o livre jogo da mente, sem demasiada consideração pelos resultados empíricos". Perguntado se os físicos convencionais aceitariam a sua teoria, Bohm respondeu - Eles já aceitaram, mas acrescentou também que eles diziam-lhe o seguinte: "Para que serve? Não produz nada diferente daquilo que já fizemos. Só nos interessam resultados empíricos. Levá-la-emos em consideração quando começar a fazê-lo".(...)
Comentários"
O elétron 'observa', 'presta atenção', reúne informação a nosso respeito, a respeito do universo inteiro. Apreende o universo e responde de acordo com essa apreensão. Portanto, num sentido literal: ele observa". "O ensino da física decaiu muito; foi se tornando cada vez mais dogmático e mecânico, o que é lamentável. Todas as questões candentes dos anos 30 se desvaneceram completamente. O que se faz hoje é apresentar fórmulas aos estudantes e declarar: 'Isso é a mecânica quântica'. E assim a nova geraçãovai escrevendo livros sem uma base sólida, esquecendo as profundas questões filosóficas que sempre foram o sustentáculo da abordagem total da física". "Observando a natureza, veremos que formas elaboradas e complexas não podem ser explicadas pela mera exigência da sobrevivência. Se nossa noção de tempo postula a criatividade de cada momento, então, a todo o momento, é possível que surjam novas estruturas, coexistindo com algumas antigas. Podemos então dizer que a natureza está constantemente explorando novas estruturas de maneira intencional, e, quando estas se mostram capazes de sobreviver (mediante processo de reprodução), tomam corpo e se tornam estáveis".
"Antes da grande explosão - Big-Bang - não existiam moléculas, quarks e átomos, segundo declara a física moderna. Se pois afirmamos que havia leis fixas e imutáveis que regiam moléculas e átomos, o que acrescentaremos se remontarmos ao tempo onde eles sequer existiam? A física nada tem a dizer sobre isto. Só pode declarar que, num determinado estágio, essas partículas se formaram. Portanto, deve ter havido um desenvolvimento real em que a necessidade se fixou mais e mais num determinado campo. Vê-se isso quando se esfria uma substância que se liquefaz: primeiro aparecem grumos líquidos transientes, que depois vão se consolidando. Os físicos explicam isso alegando que as leis das moléculas são eternas; as moléculas são merasc onseqüências dessas leis, meras derivações delas"."
Além de clara e profunda, a teoria de Bohm tem o mérito de poder ser considerada a primeira, em todos os tempos, a revelar e provar no plano científico, algumas verdades seculares que até então podiam apenas ser aceitas e compreendidas pela fé". (Eduardo C. Borgonovi)
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