segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A Festa de Formatura 4o anos depois - A/0134

Médicos comemoram festa de formatura suspensa pela censura. Na época, discurso foi reprovado pelo Dops. Estudante morto pela polícia, na época, foi homenageado.

Médicos que foram impedidos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de realizar a cerimônia de formatura durante o regime militar voltam ao cenário da censura para concluir a festa de colação de grau pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Quatro médicos chegam ao cenário de um drama que eles nunca conseguiram esquecer: o Hospital Universitário Pedro Ernesto, no campus da UERJ. Todos eram jovens estudantes de medicina quando participaram de um protesto contra a falta de liberdade no regime militar, em 22 de outubro de 1968.

Luiz Paulo Cruz Nunes era um dos estudantes, cursava o segundo ano de medicina e havia acabado de completar 21 anos. Durante a manifestação, um dos tiros disparados pela polícia atingiu Luiz Paulo na cabeça. O estudante passou três horas e 15 minutos na mesa de cirurgia, mas não resistiu. O pesadelo estava só começando. Quando chegou o dia da formatura, no final de 1972, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, os 128 estudantes daquela turma de medicina tiveram uma surpresa: o discurso, que fazia uma homenagem ao colega morto, foi vetado pelo Dops. Um trecho dizia: "Por que matar um jovem cheio de promessas? Lá se foi o desventurado Luiz Paulo, para nunca mais..." A turma foi proibida de escolher Luiz Paulo como patrono da formatura. Em um gesto de protesto, os estudantes começaram a repetir em coro o nome do colega morto. O diretor da escola ordenou a suspensão da solenidade. Não houve festa de formatura e os jovens médicos foram chamados depois à reitoria, em pequenos grupos, para receber os diplomas.
Quase meio século depois daquele outubro sangrento, os médicos que, na época, eram rapazes e moças de 20 e poucos anos decidem que era chegada a hora de, finalmente, fazer a festa tão sonhada. O paraninfo, hoje com 87 anos, não poderia faltar. Os pais de Luiz Paulo já morreram. Mas um sobrinho, também estudante de medicina, recebeu, em nome da família, o diploma que não pôde ser entregue. Um dos médicos faz questão de levar o neto de três meses para testemunhar o grande reencontro. Todos ouviram o discurso proibido. Tanto tempo depois, o estudante morto em uma manifestação foi finalmente aclamado patrono da turma.

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