quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Novo Ano se Aproxima - Cr/004

Pensando em 2009
2008 – Quantos obstáculos. Vencidos? Pouco importa. Há consolo. Está escrito no ato IV do “Hernani”, de Victor Hugo, as palavras de sinal dos conjurados: ad augusta per angusta- “ Só se consegue a virtude depois de vencer os obstáculos”. E se 2009 a dose for repetida, que venha pois; mesmo sem ser conjurada, o que vier eu traço, e veja, que eu não almejo nem a virtude.Enquanto divago, ouço Plácido Domingo interpretando C’est toi?...C’est moi?... de “Carmen” de Bizet, pronta para encarar uma noite insone , sozinha, quando eis que, diante de mim, alguns amigos. Chegaram de mansinho, sem muito alarde. Desceram das prateleiras da estante. O primeiro a quem cumprimento é René Descartes. Dele recebo Discurso do Método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da Alma e Cartas. O pai da filosofia francesa, a mim só disse: Cogito, ergo sum, que Santo Agostinho apressou-se em traduzir: Penso, logo existo.Recebo de Agostinho as suas Confissões e o De Magistro, acompanhado do lembrete: Ficisti nos ad Te ET inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te – Naturalmente, pedi tradução. Paciente, Agostinho repitiu em bom português: Criastes-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós. Agradeço e me volto para Platão e Xenofonte, que discutiam os últimos combates satíricos de Aristófones dirigidos a Sócrates, que presente e indiferente, passa os olhos nas folhas locais, para em seguida, num gesto que traduz enfaro, jogá-las por sobre o sofá. Com esse gesto, acrescenta: Uma coisa eu sei – é que não sei nada e completou: contudo, só os inteligentes deveriam governar, mas infelizmente os intelectos não são tão numerosos quanto os narizes.Quando Sócrates terminou o seu pequeno discurso, Maquiavel, que estava atento, não se conteve e lembrou aos presentes um de seus conselhos dado ao Magnífico Lorenzo de Médicis, o que diz: Convém saber que existem duas maneiras de combater pelas leis e pela força. A primeira é própria dos homens; a segunda é própria dos animais (...) Já que um príncipe deve saber utilizar bem a natureza animal, convém que escolha a raposa e o leão; como o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender dos lobos, é necessário ser raposa para conhecer as armadilhas, e leão para meter medo aos lobos.Voltaire, que dava voltas pela sala, com ar solene sentenciou: Não podem todos os cidadãos ser igualmente generosos, mas todos podem ser igualmente bons. Como? – indagou Schopenhauer – se a vida humana transcorre inteiramente entre o querer e o conquistar.Noutro canto da sala, surpreendeu-me a conversa entre Benjamim Constant e Nietzsche. O primeiro afirmando: O amor é o mais egoísta de todos os sentimentos e, consequentemente, quando contrariado é o menos generoso. Olhar perdido, Nietzsche retrucou com uma citação francesa: Dans Le varitable amour c’est l’ame qui enveloppe Le corps – No amor verdadeiro é a alma que envolve o corpo.Alguém que eu não lembro tomou da palavra e disse: Existem apenas três coisas de valor neste mundo: justiça, beleza e verdade, e talvez nenhuma das três possa ser definida. Aí Platão resmungou: uma delas em defino. A “Justiça”, que é o ter e o fazer aquilo que nos cabe.Quem desceu atrasado foi Montaigne, mesmo assim saiu-se com esta: Todos têm tendências para agravar o pecado de outrem e atenuar o próprio. E não raro até as próprias pessoas encarregadas de os esclarecer os classificam mal. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.Já que estou em tão boas companhias, agora é só retirar da adega um Rouge de France – safra impar ou champanhe Moet & Chandon, aguardar as solenes badaladas da meia noite, fazer de conta que já chegou o fim do ano e levantar o brinde: Feliz 2009 antecipado pra mim, para os amigos, para você meu caro leitor, minha cara leitora!
Zélia Maria FreireJA ESTOU PENSANDO EM 2009
2008 – Quantos obstáculos. Vencidos...? Pouco importa. Há consolo. Está escrito no ato IV do “Hernani”, de Victor Hugo, as palavras de sinal dos conjurados: ad augusta per angusta- “ Só se consegue a virtude depois de vencer os obstáculos”. E se 2009 a dose for repetida, que venha pois; mesmo sem ser conjurada, o que vier eu traço, e veja, que eu não almejo nem a virtude.Enquanto divago, ouço Plácido Domingo interpretando C’est toi?...C’est moi?... de “Carmen” de Bizet, pronta para encarar uma noite insone , sozinha, quando eis que, diante de mim, alguns amigos. Chegaram de mansinho, sem muito alarde. Desceram das prateleiras da estante. O primeiro a quem cumprimento é René Descartes. Dele recebo Discurso do Método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da Alma e Cartas. O pai da filosofia francesa, a mim só disse: Cogito, ergo sum, que Santo Agostinho apressou-se em traduzir: Penso, logo existo.Recebo de Agostinho as suas Confissões e o De Magistro, acompanhado do lembrete: Ficisti nos ad Te ET inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te – Naturalmente, pedi tradução. Paciente, Agostinho repitiu em bom português: Criastes-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós. Agradeço e me volto para Platão e Xenofonte, que discutiam os últimos combates satíricos de Aristófones dirigidos a Sócrates, que presente e indiferente, passa os olhos nas folhas locais, para em seguida, num gesto que traduz enfaro, jogá-las por sobre o sofá. Com esse gesto, acrescenta: Uma coisa eu sei – é que não sei nada e completou: contudo, só os inteligentes deveriam governar, mas infelizmente os intelectos não são tão numerosos quanto os narizes.Quando Sócrates terminou o seu pequeno discurso, Maquiavel, que estava atento, não se conteve e lembrou aos presentes um de seus conselhos dado ao Magnífico Lorenzo de Médicis, o que diz: Convém saber que existem duas maneiras de combater pelas leis e pela força. A primeira é própria dos homens; a segunda é própria dos animais (...) Já que um príncipe deve saber utilizar bem a natureza animal, convém que escolha a raposa e o leão; como o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender dos lobos, é necessário ser raposa para conhecer as armadilhas, e leão para meter medo aos lobos.Voltaire, que dava voltas pela sala, com ar solene sentenciou: Não podem todos os cidadãos ser igualmente generosos, mas todos podem ser igualmente bons. Como? – indagou Schopenhauer – se a vida humana transcorre inteiramente entre o querer e o conquistar.Noutro canto da sala, surpreendeu-me a conversa entre Benjamim Constant e Nietzsche. O primeiro afirmando: O amor é o mais egoísta de todos os sentimentos e, consequentemente, quando contrariado é o menos generoso. Olhar perdido, Nietzsche retrucou com uma citação francesa: Dans Le varitable amour c’est l’ame qui enveloppe Le corps – No amor verdadeiro é a alma que envolve o corpo.Alguém que eu não lembro tomou da palavra e disse: Existem apenas três coisas de valor neste mundo: justiça, beleza e verdade, e talvez nenhuma das três possa ser definida. Aí Platão resmungou: uma delas em defino. A “Justiça”, que é o ter e o fazer aquilo que nos cabe.Quem desceu atrasado foi Montaigne, mesmo assim saiu-se com esta: Todos têm tendências para agravar o pecado de outrem e atenuar o próprio. E não raro até as próprias pessoas encarregadas de os esclarecer os classificam mal. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.Já que estou em tão boas companhias, agora é só retirar da adega um Rouge de France – safra impar ou champanhe Moet & Chandon, aguardar as solenes badaladas da meia noite, fazer de conta que já chegou o fim do ano e levantar o brinde: Feliz 2009 antecipado pra mim, para os amigos, para você meu caro leitor, minha cara leitora!
(Zélia Maria Freire)

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