terça-feira, 27 de agosto de 2013

Nilson: Crônica Policial 04 - Amor Estranho


AMOR ESTRANHO 

Já com quase cinco décadas de existência, aquele homem tinha uma vida extremamente humilde, as privações eram enormes e não tinha sequer qualificação profissional, sobrevivendo de serviços espontâneos, tais como capinar terrenos e trabalhar em outras atividades  rurícolas.

Já havia sido casado, ou melhor, amasiado, tinha alguns filhos, com os quais raramente mantinha contato. Seus irmãos  e seu pai, sua referência familiar, visto que a genitora falecera há muitos anos,  eram muito pobres e igualmente não tinham  emprego fixo.

Com tantas dificuldades, foi morar de favor em um casebre, situado aos fundos de uma residência também simples, em um bairro periférico da pequena cidade fronteiriça. O casal dono do terreno passava o dia todo trabalhando para criar com decência os três filhos, sendo que uma garotinha de nove anos era a primogênita.

A pequena, em sua inocência de criança, mantinha um forte laço de amizade com o vizinho, que muitas vezes ficava o dia todo desocupado, então levava a menina até a escola, a buscava e também sempre que possível, lhe acompanhava até o mercado ou qualquer outro lugar que ela fosse.

Em uma ensolarada tarde de domingo, ela desapareceu. Os pais a procuraram em vários lugares, mas ninguém a havia visto. Parentes, amigos e vizinhos, incluindo o homem,  se mobilizaram na tentativa de localizá-la. Mas as buscas se mostraram infrutíferas.

A noite chegou e com ela as preocupações com o bem estar da criança que já eram imensas, ganharam ainda mais proporções, pois se os perigos são muitos para um adulto, imagina para alguém com tão pouca idade. Os envolvidos nos trabalhos não dormiram e apesar do cansaço as buscas prosseguiram noite adentro, sem sucesso.

Policiais civis deram início à investigação. No início da tarde de segunda-feira, após   contatar algumas fontes, os investigadores descobriram que o homem, vizinho da menina havia sido visto conduzindo-a na garupa de sua bicicleta até a margem de um rio, situado nas proximidades da rodovia de acesso ao Paraná e ao Paraguai.

Ele foi conduzido a Delegacia de Polícia, para prestar esclarecimentos. Negava veementemente o fato para a autoridade policial e chorava, jurando até pela alma da mãe que nada sabia do desaparecimento da garotinha. Porém, a notícia de que a Polícia identificado o responsável pelo sumiço se espalhou e uma multidão formada por centenas de pessoas, de diferentes idades e classes sociais, que clamavam por justiça se aglutinou em frente à unidade de segurança.

O suspeito tremeu ao ver que as evidências eram fortes, e temendo por sua sorte já que o povão estava enfurecido, confessou um crime horrendo. Em uma vã tentativa de justificar seus atos insanos, se  disse perdidamente apaixonado pela menina, e que não era correspondido neste sentimento, a teria matado e enterrado o corpo às margens do córrego. Dizia ter ciúmes dos amiguinhos de escola dela, sentindo-se extremamente incomodado  quando ela tinha que fazer atividades escolares em grupo misto.

Disse ainda que a pediu em namoro várias vezes, mas ela não aceitou. Com mede de perdê-la, a assassinou, pois a preferia morta a vê-la na companhia de outra pessoa. Para dar cabo a seu projeto doentio, e se aproveitando do intenso calor, a convidou  para nadar no riacho e lá mais uma vez lhe pediu em namoro, mas diante de mais uma reposta negativa, a esfaqueou e em seguida manteve relação sexual com ela.

Após isso, dirigiu-se à cidade. Algum tempo depois, ele retornou ao local onde estava o corpo, manteve novamente relações e em seguida, enterrou o cadáver da vítima na margem do rio, juntamente com a arma branca utilizada no crime,

visando ocultar o cadáver e eximir-se de sua responsabilidade pelo fato. Quando chegou a casa e notou o desespero dos pais, devido ao desaparecimento da filha, para não levantar suspeitas, se juntou ao grupo que tentava localizar a menina.

Conduzido pelos investigadores até o local do crime, o acusado chorando muito, apontou o local em que o corpo foi enterrado e com as mãos, desenterrou a garotinha, enquanto fazia declarações de amor a ela. 

Por questões de segurança, ele foi levado para a cadeia pública de uma cidade vizinha, onde permaneceu até o júri popular, tendo sido pronunciado pelo Juiz da Vara Criminal pela prática dos crimes de homicídio, com dissimulação, através de método cruel e para assegurar a impunidade de outro crime, além de se  tratar de vítima menor de 14 anos. 

Na casa do acusado, foram encontradas várias fotos de crianças do sexo feminino, brinquedos de meninas, revistas pornográficas e quatro folhas de cadernos escritas com declarações de amor a falecida. O Pai da menina, não suportou a situação e entrou em óbito uma semana após a morte da filha.

Seu júri que chamou a atenção da toda a região foi assistido por um grande número de pessoas. A defesa do acusado coube a um defensor público portador de deficiência visual, vindo especialmente da capital do Estado para este evento, porém, o trabalho do representante do Ministério Público se mostrou mais eficiente e o assassino foi sentenciado há 37 anos e quatro meses pelo homicídio, seguido de estupro e ainda o vilipêndio a cadáver e sua ocultação. Nada trará a garotinha de volta, mas a justiça dos homens foi feita. 

Nilson Silva 

 

 

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