quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Artigo: Abastardamento e Decadência - A/01268

ABASTARDAMENTO E DECADÊNCIA

QUE as sociedades ocidentais de mercado, atingido que foi o seu estádio de capitalismo financeiro parasitário, se encontram em acelerado grau de decadência, não é novidade para ninguém, mas desta constatação à definição e enumeração das causas é que poderá haver divergências. Para uns, é assim porque assim o Marx previu – versão técnica da profética de Nostradamus –; para outros deve-se à transferência industrial do Ocidente para o Oriente, nomeadamente para o mandarinato de Pequim, a que os jornais já nem sequer ousam chamar de comunista.
Pode ser tudo isso, mas é sobretudo a rapina e a busca desenfreada pelo lucro que a desregulamentação permite e incentiva.

Todavia, não é líquido que toda a decadência imperial implique o abastardamento geral a que assistimos na ordem do tempo que agora passa por nós. Este abastardamento, sendo geral, tem maior relevo no campo da justiça, da comunicação social e no modo de produção da atividade política. As massas – ou o povo, se quiserem – vão sendo corrompidas à medida que lhes satisfazem os instintos, ao mesmo tempo que são condicionadas pelo medo, não vá o diabo tecê-las.
O medo está instalado na sociedade portuguesa e, mais ainda que o medo concreto, o medo de ter medo.

No campo da justiça, não vale a pena apresentar muitos exemplos; fazê-lo seria chover no molhado, mas creio ser de trazer aqui os seguintes.
Em Viana do Castelo, à revelia da lei e das disposições autárquicas, mormente no que se refere a licenças, uma organização de torturadores de feras bovinas recorre aos tribunais para impor a sua selvajaria. Colocando-se acima da lei, naquela atitude que Marinho Pinto vem há muito denunciando, o juiz decide a favor dos torturadores. De outro jaez, mas suscetível de, no mínimo, nos incomodar, é o desgraçado acórdão do Tribunal do Barreiro que, ao inocentar os arguidos do Freeport, resolveu condenar o Sócrates para toda a vida, com o argumento de que lhe queria dar a oportunidade de defender o bom nome. Como, depois de sete anos de investigação, não se encontrou rasto daquilo que se queria encontrar, pede-se mais investigação, que se sabe impossível, dadas as prescrições… mas fica o possível: o pasquim do costume, quando fizer investigações aos almoços de Sócrates, em Paris, acrescentará sempre que não foi condenado no Freeport devido às prescrições, enquanto para povo fica a ótima oportunidade de murmurar pelos cantos: pois, os grandes safam-se sempre.

Com a imprensa, é uma delícia ver o coro de defensores das relaxadas russas que se permitiram um ato de vandalismo no altar da Catedral ortodoxa de Cristo-Salvador, em Moscovo. Se eu não acho exagerada a pena – dois anos de prisão – para as jovens rufias? Claro que acho. Limpar retretes durante seis meses seria mais indicado, mas não sou juiz aqui, quanto mais na Rússia. Mas vejam como a imprensa escamoteia tanta coisa. Dizem as tais que fazem parte de uma banda PUNK. Punk, em inglês, tem sempre sentido pejorativo e quer dizer, entre outras coisas, rufião e prostituta. Depois, o maravilhoso nome Pussy Riot, que pode ser traduzido por as ratas revoltadas – ratas no sentido de vaginas – diz bem da consciência política destas marginais. E será que conhecem a bela letra da cantiga, que chama rameira à Virgem Maria e tem como slogan «ó m… de mãe de Deus, leva contigo o Putin».
E que tal, se fosse um grupo Taliban a fazer o mesmo no altar da Sé?

Uma das características do nosso abastardamento geral, que os media tanto promovem e incentivam, é precisamente o relativismo moral…

 

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