QUE as sociedades ocidentais
de mercado, atingido que foi o seu estádio de capitalismo financeiro
parasitário, se encontram em acelerado grau de decadência, não é novidade para
ninguém, mas desta constatação à definição e enumeração das causas é que poderá
haver divergências. Para uns, é assim porque assim o Marx previu – versão
técnica da profética de Nostradamus –; para outros deve-se à transferência
industrial do Ocidente para o Oriente, nomeadamente para o mandarinato de
Pequim, a que os jornais já nem sequer ousam chamar de comunista.
Pode ser tudo isso, mas é
sobretudo a rapina e a busca desenfreada pelo lucro que a desregulamentação
permite e incentiva.
Todavia, não é líquido que
toda a decadência imperial implique o abastardamento geral a que assistimos na
ordem do tempo que agora passa por nós. Este abastardamento, sendo geral, tem
maior relevo no campo da justiça, da comunicação social e no modo de produção
da atividade política. As massas – ou o povo, se quiserem – vão sendo corrompidas
à medida que lhes satisfazem os instintos, ao mesmo tempo que são condicionadas
pelo medo, não vá o diabo tecê-las.
O medo está instalado na
sociedade portuguesa e, mais ainda que o medo concreto, o medo de ter medo.
No campo da justiça, não vale
a pena apresentar muitos exemplos; fazê-lo seria chover no molhado, mas creio
ser de trazer aqui os seguintes.
Em Viana do Castelo, à revelia
da lei e das disposições autárquicas, mormente no que se refere a licenças, uma
organização de torturadores de feras bovinas recorre aos tribunais para impor a
sua selvajaria. Colocando-se acima da lei, naquela atitude que Marinho Pinto
vem há muito denunciando, o juiz decide a favor dos torturadores. De outro
jaez, mas suscetível de, no mínimo, nos incomodar, é o desgraçado acórdão do
Tribunal do Barreiro que, ao inocentar os arguidos do Freeport, resolveu
condenar o Sócrates para toda a vida, com o argumento de que lhe queria dar a
oportunidade de defender o bom nome. Como, depois de sete anos de investigação,
não se encontrou rasto daquilo que se queria encontrar, pede-se mais
investigação, que se sabe impossível, dadas as prescrições… mas fica o
possível: o pasquim do costume, quando fizer investigações aos almoços de
Sócrates, em Paris, acrescentará sempre que não foi condenado no Freeport
devido às prescrições, enquanto para povo fica a ótima oportunidade de murmurar
pelos cantos: pois, os grandes safam-se sempre.
Com a
imprensa, é uma delícia ver o coro de defensores das relaxadas russas que se
permitiram um ato de vandalismo no altar da Catedral ortodoxa de
Cristo-Salvador, em Moscovo. Se eu não acho exagerada a pena – dois anos de
prisão – para as jovens rufias? Claro que acho. Limpar retretes durante seis
meses seria mais indicado, mas não sou juiz aqui, quanto mais na Rússia. Mas
vejam como a imprensa escamoteia tanta coisa. Dizem as tais que fazem parte de
uma banda PUNK. Punk, em inglês, tem sempre sentido pejorativo e quer dizer,
entre outras coisas, rufião e prostituta. Depois, o maravilhoso nome Pussy
Riot, que pode ser traduzido por as ratas revoltadas – ratas no sentido de
vaginas – diz bem da consciência política destas marginais. E será que conhecem
a bela letra da cantiga, que chama rameira à Virgem Maria e tem como slogan «ó
m… de mãe de Deus, leva contigo o Putin».
E que tal, se fosse um grupo
Taliban a fazer o mesmo no altar da Sé?
Uma das características do
nosso abastardamento geral, que os media tanto promovem e incentivam, é
precisamente o relativismo moral…
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