QUANDO trabalhar significa sermos conduzidos à
miséria e votar é escolher quem nos vai ao bolso, é o regímen, por mais juras
democráticas que faça, que se encaminha para a total deliquescência, enquanto o
passado que se vinga do presente. Quando o moralismo substitui na
política a justa gestão da riqueza da nação e o justo arbítrio dos interesses
para a salvaguarda da coesão social por apelos ao sacrifício redentor, temos
uma nova religião instituída que prescinde do céu e nega qualquer recompensa
aos bem-comportados.
Quando é assim, o povo deixa de ir à missa
e só paga o dízimo sob tortura. Deixa de distinguir Deus do Diabo. Mas o povo merece isto, porque o povo
merece sempre aquilo a que não se opõe. Mesmo que muita gente grite nas praças das
cidades, a maioria não grita, fica em casa a embirrar com a família, ou faz
promessas aos santos dos velhos hábitos de esperar, porque cada um sabe de si e
só deus sabe de todos.
Por maus hábitos e muita desatenção, os
que esperam dos céus o que os céus não podem dar, veem que aqueles a quem batem
palmas enricam e que quem mais aplaude mais empobrece. Não é uma maldição dos céus, é a justa
paga da apatia; injustos seriam os céus se se deixassem comprar por quem
rasteja e acende velas, como quem mete cunha a autarca bonacheirão.
Dar ao pedal é que é, para que a bicicleta
se mova. Caso contrário, é esperar que o D. Sebastião desembarque para nos
salvar. Não sei é como, pois deve estar bastante desconjuntado de ossadas. Ou isso, ou vir gente armada até aos dentes
partir-nos os dentes e dar a cada um meia sardinha. (Abdul Cadre – Portugal)
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