domingo, 19 de abril de 2009

Reduções Jesuíticas

As Reduções ou Missões Jesuíticas
Na América espanhola, mais que na portuguesa, o conflito entre padres missionários e colonos foi um elemento de importância na definição dos termos da colonização. "As ordens missionárias adquiriram uma importância especial na história da América porque procuraram abrir novos caminhos na colonização e dominação dos países descobertos no ultramar.
Nas Antilhas havia-se apreciado o impressionante fenômeno de que os indígenas morriam em massa e as ilhas ocupadas pelos espanhóis se despovoavam velozmente. Os colonos , em sua maioria, se conformavam com a idéia de que essa mortandade era algo fatal, decidido pela divina providência." Contra essa insensibilidade reagiu um grupo de missionários. Atribuíram a aniquilação maciça dos indígenas à forma desapiedada de aproveitamento de sua força de trabalho.
Não era, portanto, a fatalidade do destino, mas a avidez dos colonos, a causa da catástrofe demográfica que se processava entre os naturais da terra. "Onde quer que houver espanhol haverá de ser carniceria e sepultura dos desventurados indígenas," escrevia um provincial ao rei. Não se limitaram, entretanto, os missionários a escrever relatos críticos, como o magistral livro de Bartolomeu de Ias Casas, "Brevíssima Relação da Destruição das índias," apelando à consciência dos colonos ou ao socorro da Coroa. Procuraram apresentar alternativas mais racionais de exploração daquela mão-de-obra abundante e barata em favorecimento tanto de suas ordens religiosas como da Coroa. "Frei Pedro de Córdoba... foi o primeiro missionário que concebeu o plano de começar a atividade apostólica em comarcas isoladas dos estabelecimentos espanhóis; sua intenção era fundar comunidades cristãs exclusivamente índias, nas quais deveriam estar excluídos a violência brutal e o mau exemplo dos colonos peninsulares.
Caráter Político - Surgiu assim o ideal de se criarem comunas religiosas na América, sujeitas à soberania do rei da Espanha, porém com uma vida e uma direção espiritual ajustadas aos mandamentos da autêntica piedade cristã." Houve várias tentativas nesse sentido, principalmente na Guatemala e na Venezuela. Frustraram-se, entretanto, apesar do apoio da Coroa, pela impossibilidade de se evitar a presença dos espanhóis, ávidos das trocas, e dos próprios indígenas. Os colonos resistiam a esses estabelecimentos e provocavam a revolta dos gentios, que geralmente recaía sobre os padres, que eram martirizados, fazendo retroceder a obra apostólica.
Não era o simples sentimento humanitário e piedoso que movia esses missionários em defesa do homem americano. Esses religiosos traziam para as Américas os propósitos da igreja católica reformada. Opunham-se eles em parte às motivações essencialmente econômicas do mercantilismo na medida em que revalorizavam a vida pobre e simples daqueles "que andavam descalços e eram humildes e sóbrios iguais aos primeiros apóstolos, como tábuas-rasas, seres brandos como a cera, com os quais se poderia formar uma humanidade verdadeiramente cristã". Propunham entre esses homens - descendentes de uma estirpe angélica, como os viam alguns franciscanos - desde a realização da Utopia de Thomas Morus, até à efetivação das teses defendidas por Bartolomeu de Las Casas de que "As leis e regras naturais e do direito das gentes (são) comuns a todas as nações, cristãos e gentios, e de qualquer seita, lei, estado, cor e condição que sejam, sem uma nem nenhuma diferença." Essas aspirações chocavam-se com as dos colonos que acusavam os missionários de quererem fundar na América um Estado teocrático, no qual disporiam a seu modo das populações, do Novo Mundo, restando ao rei de Espanha apenas a soberania e determinadas rendas. "A Coroa espanhola, por muito que apoiara a obra evangélica, de modo algum desejava que nas Índias surgissem estados missionários amplamente autônomos e procurava equilibrar as forças contrapostas".
O ideal dessas comunidades cristãs veio a encontrar sua realização nas reduções jesuíticas, sendo a primeira fundada, em 1576, às margens do lago Titicaca. Essas reduções não surgiam à margem da administração colonial, nem com ela se chocavam, porém gozavam de uma grande autonomia, sendo vedado aos colonos a penetração nas mesmas. Economicamente se caracterizavam por um coletivismo agrário não deixando de existir de todo a propriedade privada. Desenvolviam os missionários entre os indígenas a agricultura e o artesanato, cujo produto obtido graças a esse trabalho comunal era utilizado no pagamento do tributo real, na manutenção da igreja e de suas instituições, no cuidado dos órfãos, viúvas e de todos aqueles impossibilitados de trabalhar e, ainda, o excedente era empregado num amplíssimo comércio. A terra restante - a maior parte do solo era terra comunal - era distribuída entre as famílias para seu próprio uso, de onde deveriam tirar o seu sustento.
Por volta de 1610 foram fundadas pelos jesuítas espanhóis as primeiras reduções na Província de Guayrá, a de Loreto e a de Santo Inácio, às margens do rio Paranapanema, no atual Estado do Paraná. Não demorou que outras surgissem, e já, em 1628, treze delas agregavam mais de 100 mil índios.

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