sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Marlene Santos - Entrevista

Marlene Santos
fala sobre seu livro “Uma Viagem”
e suas experiências em muitos países


De onde vem tanta paixão pela Europa?

Sou fascinada por História, talvez esta paixão venha dos livros de história. Além disso, vivendo no velho continente há sete anos, eu não poderia ter encontrado melhor lugar no mundo para caminhar lado a lado com a teoria e com a prática.

Como os brasileiros são vistos na Europa?
Risos... Esta é verdadeiramente uma pergunta difícil para responder. O Brasil é um país com dimensão continental, e suas riquezas culturais são inúmeras e diversificadas. Daí a dificuldade de uma imagem única dos brasileiros. O que posso afirmar é que o Brasil está constantemente nas manchetes europeias, e tudo o que se passa entre nossas fronteiras é destaque do outro lado do Atlântico, principalmente após a conquista para sediar os grandes eventos mundiais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, motivo de muitas expectativas e especulações.

Viajar ao redor do mundo permitiu
dissipar os pré-julgamentos?

Enormemente. Atualmente, existe um antes e um pós-viagens. Antes eu estava habituada somente com as notícias nacionais, e as internacionais ficavam sempre em segundo plano. Hoje em dia, isso mudou e procuro acompanhar com interesse tudo o que se passa no resto do mundo sem, portanto, me deixar cair na tentação de um único ponto de vista.  
Qual é seu maior medo?

De um dia, por uma razão ou outra, não poder mais viajar.

O que pensa sobre o provérbio:
viajar forma a juventude? Isso é verdadeiro?
Acredito que sim, falando de experiência própria. Se eu pudesse desejar algo para os brasileiros neste fim de Ano, eu desejaria que todos tivessem a mesma oportunidade que tive e que continuo tendo de viajar pelo mundo. Viajando mundo afora, nos últimos anos, aprendi tanto o que certamente não teria aprendido nos bancos das universidades. O contato direto com diferentes nações e culturas me enriqueceram em todos os sentidos, sobretudo como ser humano. Hoje, me sinto muito mais humana, a ponto de querer dividir com o outro seu sofrimento e vejo com profunda tristeza os rostos de nossas crianças vendendo balas pelas ruas da cidade...

Você disse ser fascinada por História,
a história com H maiúsculo te ajudou
a melhor compreender o presente?
Sem dúvidas, principalmente sobre as três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Você mudou de opinião sobre
certos países após visitá-los?

Por quê? Sim, de vários, sobretudo da Alemanha. No caso em particular da Alemanha, antes eu estava acostumava a ler artigos de jornais e revistas sempre associando o país ao nacional-socialismo, como por exemplo, Alemanha: de Hitler a Bento XVI. No entanto, apesar do seu peso histórico nefasto, a Alemanha do Século XXI, nem bélica nem temerosa, cedeu lugar à diplomacia com sabedoria e soube virar as páginas da funesta herança hitleriana. Atualmente, o país que renasceu de suas próprias cinzas, é uma superpotência mundial e um modelo para o resto do mundo, pois entre suas fronteiras temos a prova concreta de que quando uma democracia é bem conduzida com o rigor prussiano, é a nação inteira que sai ganhando.

Você mudou de opinião sobre a Europa,
sobre os Estados Unidos e sobre o Oriente Médio?
Totalmente. A Europa é o berço da nossa civilização, e um mosaico cultural riquíssimo que tem muito a nos ensinar, mas é ao mesmo tempo extremamente complexo. Em relação aos Estados Unidos, o que tenho a dizer é que não tem mais cabimento em nossos dias, o puro e simplista antiamericanismo à la chavista, ainda muito presente no continente sul-americano. Agora, em relação o Oriente Médio, sobretudo Israel e Palestina, logo na primeira viagem pela Terra Santa, a ideia que fazemos de um israelense, de um palestino, de um árabe, de um judeu e de um muçulmano tem grandes chances de dissipar-se rapidamente. É um mundo distante e complexo demais para ser entendido, onde tudo parece ser tão normal, tão natural...

Para você, a visita em Auschwitz
mudou sua visão do mundo?
Completamente. Passaram-se mais de sete décadas da Shoah, mas ainda em nossos dias permanece impregnada no ar uma sorte de carga negativa que palavras dificilmente traduziriam o que realmente sentimos quando penetramos nos campos de concentração de Auschwitz e Auschwitz-Birquenau. Terminadas as visitas ninguém consegue segurar suas emoções. No meu caso em particular, a visita seguiu com uma infinidade de noites mal dormidas.

Antes de visitar os lugares onde ocorreram
o Holocausto (Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia),
você tinha realmente consciência, como brasileira,
do sofrimento dos judeus?
Sim, mas em nada comparado com tudo àquilo que aprendi durante as visitas nos campos, nos guetos, nas florestas bálticas... De volta à Suíça onde vivo atualmente, li inúmeros livros sobre o assunto, assisti numerosas e repetidas vezes documentários sobre a Segunda Guerra Mundial ou apocalipse bíblico, e especialmente sobre o Holocausto, mas tenho a impressão que quanto mais aprendo sobre a Shoah, menos eu sei.

Conhecer a história de um país,
 te ajudou a melhor apreciar este país?
Evidentemente, e de modo especial à Romênia.

Como foi visitar os lugares de onde partiram
os grandes navegadores dos séculos 15 e 16,
na Espanha e em Portugal?
Foi uma longa viagem no tempo... Tais visitas proporcionaram-me conhecer melhor a história de nossa própria origem, e isso fez com que despertasse em mim um vivo sentimento de forte vínculo com a Europa.

Qual foi a sensação de visitar
a sepultura de Pedro Álvares Cabral?
Curvar-me diante da sepultura de um dos maiores navegadores de todos os tempos, dentro de uma igrejinha na cidade de Santarém, em Portugal, me permitiu um novo e diferente olhar para esta pequenina nação portuguesa que soube escrever com grandeza uma das mais belas páginas da história do século XVI.

Fale um pouco do seu livro Uma viagem - a descoberta
de um mundo, que acabou de ser lançado
em São Paulo, e quando será o lançamento no Rio?
Este livro é um autobiográfico e fruto dos últimos sete anos viajando ao redor do mundo. Foram formidáveis descobertas e uma experiência única na vida. Não é um livro de história, mas contém numerosos ensinamentos históricos, nem tampouco um guia turístico, no entanto, descrevo em detalhes várias cidades, cidadelas e vilarejos pitorescos com interessantes e curiosas observações históricas, políticas e culturais, sobretudo no velho continente. O lançamento no Rio será em breve, porém, logo após ser lançado em São Paulo, o livro digital estará à venda no site da All Print Editora: www.allprinteditora.com.br.

(Entrevista reproduzida para o site tribunadopovo.com, Blog do Escritor e Jornal Tribuna do Povo)

 

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